Na manhã
de domingo, no caminho de casa até o mercado, vou reparando nessas pequenas
grandes coisas que nos encantam: algumas folhas voando, a brisa agradável,
flores de cores vivas, o azul da manhã tranquila...
De repente, meu sentimento de calma e contemplação é
interrompido por um barulho (peço perdão mas não encontro palavra melhor). Aos
poucos, vou me aproximando da fonte do ruído e percebo que se trata de uma
dessas igrejas que organiza cultos nas manhãs de domingo. A uma
quadra de distância, já se ouvia a barulheira (embora seja muito difícil
entender a letra). Penso: lá dentro do “templo” (chamemos assim), o barulho
deve ser ensurdecedor. E lembro de um cordel escrito anos atrás, cujo refrão
dizia justamente:
Coitado de Jesus, que está pregado
E tem que exercitar a paciência! *
São dez
horas da manhã. Quando estou para atravessar a rua (meu objetivo é o Mercado Municipal), ouço o líder da cantoria dizer ao microfone algo como “Vamos cantar...
vamos pular, gente!”. Aquilo me parece estranho. A essas alturas, meu
sentimento de contemplação (ou beatitude, ou religiosidade) já estava
distante...
Chego
então ao Mercado Municipal. E ali se dá a epifania: enquanto escolho cebola,
alho e tomate, ouço um dos feirantes cantar baixinho uma canção da Legião Urbana:
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse
amanhã... **
Nesse
instante sou invadido por um profundo sentimento de religiosidade: aquela
sensação de plena integração (o religare)
com o universo.
Volto
feliz, tranquilo. E pensando: afinal, onde é que mora a religiosidade? Onde se
vivencia realmente o Amor ao próximo?
Talvez eu
não entenda muita coisa nessa vida. Mas acho que é preciso amar as pessoas como
se não houvesse amanhã...
P.Barja
* Refrão do Cordel Joseense “Jesus
Pregado” (P.Barja), de 2009
* Trecho de “Pais e Filhos”
(Legião Urbana)
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