27 de outubro de 2013

Breve Crônica de Domingo - Religiosidade


Na manhã de domingo, no caminho de casa até o mercado, vou reparando nessas pequenas grandes coisas que nos encantam: algumas folhas voando, a brisa agradável, flores de cores vivas, o azul da manhã tranquila...
De repente, meu sentimento de calma e contemplação é interrompido por um barulho (peço perdão mas não encontro palavra melhor). Aos poucos, vou me aproximando da fonte do ruído e percebo que se trata de uma dessas igrejas que organiza cultos nas manhãs de domingo. A uma quadra de distância, já se ouvia a barulheira (embora seja muito difícil entender a letra). Penso: lá dentro do “templo” (chamemos assim), o barulho deve ser ensurdecedor. E lembro de um cordel escrito anos atrás, cujo refrão dizia justamente:
Coitado de Jesus, que está pregado
E tem que exercitar a paciência! *

São dez horas da manhã. Quando estou para atravessar a rua (meu objetivo é o Mercado Municipal), ouço o líder da cantoria dizer ao microfone algo como “Vamos cantar... vamos pular, gente!”. Aquilo me parece estranho. A essas alturas, meu sentimento de contemplação (ou beatitude, ou religiosidade) já estava distante...
Chego então ao Mercado Municipal. E ali se dá a epifania: enquanto escolho cebola, alho e tomate, ouço um dos feirantes cantar baixinho uma canção da Legião Urbana:
É preciso amar as pessoas
     Como se não houvesse amanhã... **

Nesse instante sou invadido por um profundo sentimento de religiosidade: aquela sensação de plena integração (o religare) com o universo.
Volto feliz, tranquilo. E pensando: afinal, onde é que mora a religiosidade? Onde se vivencia realmente o Amor ao próximo?
Talvez eu não entenda muita coisa nessa vida. Mas acho que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...

P.Barja

* Refrão do Cordel Joseense “Jesus Pregado” (P.Barja), de 2009

* Trecho de “Pais e Filhos” (Legião Urbana)

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