EM RESPOSTA A UMA PROPOSTA FEITA A ARTISTAS LOCAIS
“Apresente-se de graça em nossa sede, fazemos divulgação”
Considero absurdo e mesmo constrangedor o convite feito, uma vez que artistas precisam ser pagos pela Arte que fazem, até mesmo para manter a Saúde. Creio que isso seja simples de entender, principalmente por quem se diz disposto a trabalhar "pela humanização do atendimento". Pois bem: quando um artista é "convidado a trabalhar de graça" numa empresa que tem totais condições de pagar pelos serviços prestados, isso na verdade soa como "desumanização", na medida em que sucateia o valor do artista enquanto ser humano.
Esclareço que, antes de redigir esta pequena resposta, entrei em contato com diversos artistas, inclusive via redes sociais, e o entendimento geral foi este, o que motivou o envio da resposta (fiz essa consulta prévia a colegas para não incorrer no erro de um julgamento precipitado e descolado da realidade).
Informo adicionalmente que, em outros países onde tenho amigos artistas, há movimentos de conscientização junto a artistas para que NÃO aceitem este tipo de proposta. A motivação para o movimento coletivo de recusa é a seguinte: enquanto alguns têm outras fontes de renda e poderiam até se dar ao luxo de "trabalhar de graça", outros dependem exclusivamente do que recebem pelo seu trabalho artístico para sobreviver.
Entendo que artistas precisam ser bem pagos por quem pode pagar justamente para que possam se dedicar, em outros momentos, a apresentações beneficentes e/ou voluntárias junto a instituições que dependam exclusivamente de esforços coletivos – e, estes sim, humanitários – para subsistência.
No entanto, creio que nossa conduta diante desse tipo de situação deve ser fruto de amadurecimento coletivo e troca de ideias (como tudo, sempre). Assim, tomo a liberdade de sugerir uma contraproposta. Tenho quase certeza de que artistas da cidade topariam fazer apresentações por valores, digamos, a partir de R$400 por apresentação (dependendo, naturalmente, da configuração artística - solo ou grupo). Em troca, divulgariam o local e os serviços da empresa contratante. Creio que isso traria transparência ao relacionamento e, sem dúvida, benefícios à imagem da empresa.
Uma proposta alternativa (talvez não para esta empresa, mas para outras, mais humildes) seria, ainda, que a empresa prestasse serviços gratuitos aos artistas e, a cada valor X (a definir), o artista fizesse uma apresentação em contrapartida.
Para citar um caso recente que mobilizou a sociedade brasileira: nenhum de nós é Deus. Nenhum de nós está acima do outro. Todos precisamos batalhar (com o suor de cada dia) pelo alimento, moradia, saúde e – sempre – respeito.
Sigamos na trilha da construção de um novo país a cada dia, em cada atitude.
Saudações,
P. R. Barja
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