Trecho do artigo "The Impact of Culture on the Individual Subjective Well-Being of the Italian Population", Applied Research Quality Life, 2010 (DOI 10.1007/s11482-010-9135-1), de E.Grossi, P.L.Sacco, G.T.Blessi & R.Cerutti
Traduzido, adaptado e comentado por Paulo Barja
O termo “Cultura” é repleto de complexidades e ambiguidades. Para pesquisadores, há ao menos três diferentes sentidos que podemos atribuir ao termo, como segue:
1º: Cultura pode ser vista como um conjunto de características associadas ao desenvolvimento humano e social e que são transmitidas de uma geração a outra através de diversos mecanismos. Estes traços podem ser cultivados e desenvolvidos, como por exemplo uma forma de canto tradicional ou um modo específico de enfeitar ou movimentar o corpo, mas é o fato de ser cultivado em um contexto social específico que determina a permanência daquela característica, tanto no indivíduo quanto em nível social.
2º: Cultura pode envolver também a aquisição intencional de capacidades e competências que vão além de características socialmente transmitidas, relacionando-se portanto com a determinação pessoal, ainda que estas características sejam instrumentais, ou seja, estejam a serviço de objetivos cuja natureza não é intrinsecamente cultural. Um exemplo seria o aprendizado de uma língua estrangeira com o objetivo de “conseguir um emprego melhor”.
Há estudos apontando a conexão entre o acesso à Cultura (em qualquer das acepções acima) e a qualidade de vida. Uma possível explicação: o maior acesso à Cultura faz o indivíduo avaliar melhor as diversas possibilidades de escolha diante de si – e melhores escolhas levam a uma melhor qualidade de vida. Observem que isto vale para tudo: alimentação, política...
3º: Pode-se pensar Cultura também como um conjunto de capacidades e competências adquiridas e desenvolvidas por motivação explicitamente cultural, como quando se busca o acesso, produção e desfrute de atividades culturais para deleite próprio e/ou de outros.
A relação entre bem-estar e este significado de Cultura pode soar intrigante para quem pensa em experiências culturais meramente em termos de lazer e entretenimento, ou seja, atividades boas, mas que não teriam grande efeito no bem estar ou na Saúde, quando comparadas a fatores como nível de renda, por exemplo. No entanto, experiências culturais revelam-se bem mais que “uma boa forma de se passar o tempo”: podem ser essenciais ao despertar disposição para buscar satisfação com a vida, novamente influenciando nas escolhas de estilo de vida e muito mais.
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Uma vez estabelecida esta relação entre Cultura e bem estar, pergunta-se: a quem interessaria cortar investimentos em Cultura? Por que limitar o acesso da população a bens culturais? Eis uma resposta triste e maquiavélica, porém não desprovida de sentido: isso seria interessante àqueles que preferem ter sob sua administração uma população com menor condição de escolha. Proponho que reflitamos sobre isso.
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