recebo agora, mestre, o teu poema
falando de hoje mesmo. no Brasil
vivemos tempo incerto, bem o sabes
- pequenos crimes líricos nos salvam -
vivemos esse recapeamento
que cobre as cores com o cinza asfáltico
porém nem bem assenta e as fissuras
começam a surgir, anarcofendas
a tua escrita jovem me energiza
e aguça meu olhar interior
não há terror aqui. sobrevivemos
e a hora de um incêndio se aproxima
chegou em boa hora o teu poema
o tempo é mesmo um deus provocador
soubeste viajar usando os versos
e aqui chegaste sem um arranhão
trabalhas nas fissuras. apreendo
a relatividade e seu lirismo
com rimas ou sem rimas: eis o homem
cantando sempre à beira de um abismo
releio o teu poema, amado mestre
a data é de 70 anos atrás
os dramas são perenes. já sabias.
a tinta ainda parece por secar
agora volto à luta, renovado
desmorto, renascido, sempre vivo
que meu abraço chegue até aí
na força desse afeto subversivo
a vida segue indefinida e vasta
nenhum de nós se chama Raimundo
senhores, uma rosa fura o asfalto!
é feia, mas é tua: é do Drummond.
P.R.Barja
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