10 de dezembro de 2010

Pensando Literatura (e Arte em geral)

A seguir, mais um texto editado de uma correspondência literária recente:

(...)

   Há que se concordar: tudo o que cada um de nós pensa é resultado do tempo vivido - e, mais que isso, das experiências vividas (tem gente que vive muito mas tem pouca experiência). O que isso gera? A meu ver, gera "opinião pessoal" mesmo, uma vez que toda experiência é uma vivência pessoal em última análise. 

   Quanto a circunscrever um gênio a uma época determinada, os exemplos respondem mais que qualquer discurso. Da Vinci foi, a meu ver, um desses gênios capazes de transcender sua época. Shakespeare foi outro, tanto que mais de 400 anos depois ainda é um dos autores mais encenados do mundo. Há vários outros exemplos - em diferentes campos, o que é um alento pra todos nós, creio.  Nas artes plásticas, podemos lembrar Salvador Dali, em pleno século XX, mergulhando no universo medieval de Bosch. E, pra não deixar de falar na paixão nacional: penso no futebol brasileiro e penso em Pelé, "avô" de Robinho e Neymar. E por aí vai... 

   A reapresentação de um clássico pode ser simplesmente "repisar terreno seguro", mas também pode ser "inovar a partir do que já foi feito". Um exemplo muito feliz é o do Grupo Galpão, de BH, mostrando (inclusive em palco inglês) como se pode fazer Romeu e Julieta no século XXI. 

   Quanto à paixão de "alguns poetas" pela era medieval, não cabe a Freud explicar... Realmente, como explicar que alguns dos maiores poetas concretistas brasileiros, os respeitadíssimos irmãos Campos, passaram a se dedicar (apaixonadamente) ao estudo e tradução de textos medievais? Ah, eles já deram a pista: trata-se de encantamento - e de perceber inovação e modernidade nessas obras de tempos idos. 

   Nesse contexto criativo, discutir o que é novo e o que não é me parece mesmo secundário. É simples: o novo, como o antigo, pode ser bom ou ruim.

   Ainda na literatura: alguns pesquisadores afimam que, em pleno século XXI, os escritores de cordel (manifestação de cultura popular que no Brasil remonta ao século XIX) ainda se nutrem do imaginário/fabulário medieval para criar obras interessantíssimas. Por que será?

   Acho que, do fundo de sua sabedoria popular, os cordelistas apaixonados por histórias medievais são capazes de perceber que não há "mil anos luz de distância" entre os dias de hoje e os de mil anos atrás.

   Saudações medievais, ainda que profundamente imersas neste século XXI,

                                Paulo Barja

2 comentários:

  1. É isso aí, meu caro! Prezo muito essas coisas todas... Se tem gente por aí dzendo que fazemos saraus medievais, é porque estamos no caminho certo! rs... Beo texto, abraço!

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