Amigos: falemos sobre EUA x Portugal, este confronto épico e improvável que ocorreu em gramado brasileiro agora à noite. Dramaticidade total! Um placar decidido aos 49 minutos do segundo tempo de jogo – aliás, faltavam 20 segundos para o apito final – comprova de uma vez por todas que estamos vivendo a Copa das Copas. Por isso, não queiram objetividade nesta hora. Não é possível. Um jogo definido deste modo é uma aula sobre Arte e humanidade: aumenta a responsabilidade de atores de teatro e cinema, de bailarinos, compositores, poetas. Sim! Não é possível aceitar a mediocridade – nem nos palcos, nem nos gramados – após testemunhar uma apresentação assim.
Não estou falando de qualidade ou técnica, compreendam. O que uma partida de futebol como a de hoje nos ensina é que não podemos nos conformar com manifestações artísticas definidas e/ou controladas por bur(r)ocratas via editais. É necessário garantir espaço para a invenção, o improviso, até mesmo para o desespero criativo. Pois foi esse o grande mérito de Portugal neste jogo: o desespero criativo. Acreditar além do possível, ou, por outro ponto de vista, recusar-se a aceitar o que se convencionou chamar de “destino”. Por sinal, há décadas, o próprio gênio mudo falou: “que nossos esforços desafiem as impossibilidades”. Grande Chaplin.
Vejam que coisa: Portugal, hoje, ensinou-nos a desconfiar do fado, da fatalidade!
Nunca houve craque tão vilipendiado antes da hora quanto Cristiano Ronaldo. Eleito melhor do mundo recentemente! Mas a humanidade é bárbara, sádica, perversa. Mal começou o jogo e já se lia nas redes sociais as mais terríveis acusações: Cristiano isso, Cristiano aquilo, Cristiano não veio ao Brasil e tal. Querem saber mais o que? Amigos meus, gente boa que conheço, acusou Cristiano de ter virado astro só porque é um jogador que tira a sobrancelha. Sim, meus amigos, até isso foi dito. E o mais incrível é que, por exatos 94 minutos, não houve resposta possível.
Todos os que viram o jogo perceberam que o crucificado Cristiano enfrenta problemas físicos. É o joelho! Sempre é o joelho. Mas também está nitidamente em estado de exaustão, fraqueza física até. Não sou médico, não sei dar diagnóstico preciso. Pode mesmo ser tristeza, melancolia, dessas que às vezes atingem os melhores do mundo – estaria legitimamente dentro do espírito português algo assim.
Pois bem: durou 94 minutos isso. Tudo seguia o roteiro já tradicional da Copa 2014: um time faz o primeiro gol e em seguida retrai-se até levar a virada. Com um agravante: o segundo gol dos Estados Unidos foi feito... de barriga! Golpe de sorte, talvez, mas humilhante ao ponto de irritar os deuses. Não se poderia admitir um final de drama assim, tão antidramático – tão pequeno, se me permitem.
Então aconteceu: no último lance do jogo, Cristiano recebe a bola na direita, corre com ela e faz o cruzamento mais perfeito desta Copa, colhido perfeitamente por Varela para decretar o placar final. Dois a dois, e qualquer definição fica para a próxima rodada.
As chances de classificação da seleção portuguesa são ínfimas, após esse empate. Mas existem. E, se a Península Ibérica resiste ainda até o fim da semana, isso ocorre graças a Portugal. E a Cristiano, que cristianamente superou a dor, o joelho, a melancolia e nos reensina, mais uma vez, a desafiar as impossibilidades.
Para mim, este único lance já valeu a vinda de Portugal.
22/junho/2014
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