8 de outubro de 2010

Pensando Política Cultural

Fiquei sabendo de um encontro promovido no SESC SJC neste 07/10 com a proposta de discutir Política Cultural. Animado, fui pra lá. Escrever é algo que se impõe neste momento, pois não dá mais pra "passar recibo" em certas posturas. É importante a gente se posicionar, e defendo que seja: a) publicamente; b) se possível, por escrito; c) em texto assinado. Assim, contribuimos para um debate honesto, em que a divergência de ideias seja mais que "tolerada": seja respeitada.

Na verdade, não falei nada durante o encontro porque, confesso, o desenrolar da coisa foi desanimador (opinião, agora sei, compartilhada por outras pessoas que estavam no auditório e preferiram mais ouvir que falar). Rapidamente perdeu-se o foco, e o que era pra ser "roda de conversa" virou um chororô a respeito da Fundação Cultural da cidade. Em alguns momentos, lembrava um Palmeiras x Corinthians (se houvesse juiz, a mãe teria sido mencionada, com certeza).

O que me entristece é ter a sensação de que uma parte da comunidade artística joseense age como se estivesse refém da Fundação Cultural. Isso não faz sentido - não precisa ser assim!

Cultura se faz em MUITOS lugares e instituições. Nas escolas, por exemplo. Faculdades. Na rua e nas praças. Dentro das empresas. E, claro, também nos teatros e espaços mantidos por uma Fundação Cultural.

O fato: muitas cidades sequer possuem uma Fundação Cultural. Algumas não tem nem mesmo uma Secretaria de Cultura. Mas HÁ Arte sendo feita nesses lugares! Arte de qualidade, e em quantidade. Impossível não lembrar de São Luiz do Paraitinga, por exemplo. A cidade ficou submersa no início de 2010, eventos foram cancelados e conheço gente boa que achou que "estava tudo perdido". Que nada! A Cultura continua fervilhando por lá, e por onde quer que passem os artistas luizenses. Importante deixar claro: isso não tem nada a ver com "apoio do Estado". Tem a ver com a identidade profunda das pessoas (artistas ou não) com sua cidade, com a sensação de que "somos nós que fazemos isso funcionar". Isso é forte por lá! Um mês depois da calamidade, as bandas luizenses estavam viajando pelo estado e, aqui mesmo no SESC SJC, ouvimos a frase lapidar: "Gente, São Luiz não acabou não: só caíram umas paredes".
Acho que não precisa explicar nada. Só aplaudir.

Voltando ao encontro: o que acontece com a gente por aqui? Por que razão ficamos tão dependentes de uma Fundação Cultural?

Palmas pra Jaqueline, do Bola de Meia. O pessoal entendeu que tem que construir seu próprio caminho, e está fazendo isso brilhantemente. Wangy (Velhus Novatus), idem. Wangy tem um trabalho importante na Fundação Cultural, mas não se contenta com isso: é um agente cultural dentro e fora da Fundação.

Aliás, gostaria de propor a substituição da expressão "agente cultural" por "cidadão-artista". O engenheiro que curte, faz e produz Arte faz parte desse time (certo, Vander? certo, Atul?). O professor que vê a Arte como forma essencial de Educação também - seja ele artista ou não.

Precisamos entender que existem muitos caminhos para a Arte fora de uma Fundação Cultural. Temos que nos apropriar desta verdade. Construir nossos caminhos. Cláudio Mendel (quase um mestre zen durante a conversa; aprendeu com o Abreu, talvez?) deu a dica: pra aprovar o Fundo Municipal de Cultura é necessária mobilização de todos nós - senão não vai rolar. E nesse ponto acho que todos concordamos: tem que falar é com o prefeito. Fazer valer a vontade dos cidadãos-artistas.

Um encontro como o que tivemos hoje não é pra ficar discutindo salário de motorista, nem de regente de orquestra... se é possível saber destes valores, isso é ótimo, pois já mostra alguma transparência. Mas ficar batendo nessa tecla é se esquivar de discutir efetivamente Política Cultural.

Outra coisa: uma orquestra custa caro. E TEM que custar caro. É totalmente diferente de um projeto de circulação de folhetos de cordel, entendem? Não vamos entrar numas de achar que o dinheiro da orquestra poderia render X apresentações do grupo Y, pois é um (grave) erro pensar que uma coisa pode excluir a outra
(Obs.: não estou advogando em causa própria - sou o cara do cordel, não o da orquestra).

Magano, obrigado por trazer a conversa para um foco objetivo, positivo e propositivo: vamos batalhar pelo Fundo Municipal de Cultura.

Temos que propor ações voltadas para a promoção da Arte e da Cultura. Não é possível que tanto artista, gente inteligente, não encontre muitos e diversos caminhos para a produção artística!

Edital é importante no momento? Ok, vamos batalhar por isto.

Temos que pensar grande, de modo abrangente. E pensar grande significa também cuidar do que parece pequeno. Buscar formas novas pra fazer as coisas. Um exemplo bem ingênuo, pra começar: que tal um projeto "Arte no Poste"? Custo-quase-zero. Cada escritor "adota" um (ou 2, ou 3) postes no bairro onde mora - pontos onde passe bastante gente, de preferência - e semanalmente coloca lá um texto. O papel da Prefeitura seria apenas NÃO arrancar o texto (nem o poste). Ah, mas pode passar um cidadão qualquer, achar o texto bonito e levar, ou escrever por cima. Tudo bem!
(Experiência parecida foi feita na Unicamp no início dos anos 90. Anos depois, duas alegrias: conheci um professor de Inglês que tinha "retirado" um texto, e uma professora de Letras que tinha guardado outro texto.)

Na saída do teatro, lancei uma provocação: se por acaso a Fundação Cultural fosse varrida do mapa, o que faria cada um de nós? Lembro do Nelson Rodrigues: a gente tem que parar de querer fazer papel de vira-lata, pessoal! Tem que perder a mania de estender o pires ou o chapéu pra ver se pinga alguma moedinha. Então, pra não ficar dependendo de Fundação, quais seriam (serão?) nossos passos? Tomaríamos mais as rédeas da elaboração de uma Política Cultural? Essas são questões cruciais.

(Pausa afetiva: VIVA Reginaldo, Zenilda e o "Poesia no Prato"!!!)

No fim das contas, acho que todos nós temos condições de extrair coisas boas deste encontro, a começar pela própria iniciativa de se abrir o debate - parabéns à moçada do Estival por isso. Dá pra sacar que existe uma "demanda reprimida" por debates desse tipo na comunidade artística joseense. Vamos para o debate, então - isso é bom. E espero sinceramente que numa próxima oportunidade (em breve!) seja possível realizar realmente um encontro de propostas sobre Política Cultural.

Paulo Barja
P.S.: vejam o filme "The Wall" (ou escutem, ou leiam a letra). Pensem: o que fazer quando o Muro cai? Por que não começar agora?

19 comentários:

  1. Olá Paulo... como é conhecido não sou um artista-cidadão, mas um expectador atento.

    Lendo seu texto destacou-me um ponto: você, junto com outros presentes, preferiram ouvir enquanto o encontro tomava um rumo que não resolvia os problemas efetivos.

    Esse considero o erro principal. As pessoas inteligentes e com percepção dos problemas devem se levantar e falar.

    Como engenheiro e administrador, penso como Jack Welch - A franqueza incomoda, mas é a única maneira de gerar mudanças.

    Boa sorte a todos nós (incluo-me como consumidor dessa politica pela qual vocês lutam)

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  2. Prezado "..." :

    1) Acho que as pessoas "inteligentes e com percepção" devem se levantar e falar, de preferência seguindo as inscrições, sem sabotagem - claro que não haveria tempo dentro do SESC pra todo mundo falar calmamente o que pensa, por isso a necessidade de se levar o debate "para a rua";

    2) Ouvir é importante. Formamos nosso pensamento também a partir do que ouvimos;

    3) Ao perceber que era muito importante manifestar meu ponto de vista (eu não conseguiria dormir se não tivesse falado), sim... eu me levantei e falei MUITO, quando houve espaço (a rua ainda é um espaço democrático), do lado de fora do SESC, até 22h30, com um bom grupo de gente interessada no assunto e aberta a ouvir (incluindo a moçada do Estival). Francamente, acho que 20 minutos na rua podem ter sido mais produtivos que aquelas 3h em auditório;

    4) Perfeita sua colocação: franqueza incomoda mas é essencial. Foi esse o tom do verdadeiro debate, fora dos limites do auditório, e foi isso que busquei trazer aqui no texto, até mesmo para que o pessoal que foi embora sem participar da "roda na rua" ficasse a par disso e pudesse também se manifestar;

    5) Apenas uma observação: na minha opinião, não existe esse papel "apenas de espectador/consumidor". Não existe "só isso", entende? Estamos juntos nesse barco, queiramos ou não. Então, se você é interessado no assunto, sua opinião tem exatamente o mesmo valor da de qualquer outro cidadão (artista ou não).

    Obrigado pelo interesse - e pela lucidez!
    Abraço

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  3. Não pude participar do debate por motivos particulares, mas fico feliz que as pessoas voltem a discutir cultura na nossa cidade. Concordo quando você diz que os artistas da cidade parecem estar reféns da Fundação. É preciso existirmos sem a Fundação para nós sermos mais importantes que ela e não o contrário. Hoje a Fundação é um grande fornecedor de tetas para os vereadores da nossa cidade. Não devemos deixar isso passar em branco, é claro, mas não podemos parar de produzir para ficar brigando com a Fundação. Repito: Somos mais importantes que ela. Ela deve existir para a cidade toda e não nós para ela.
    Vamos lutar pelo Fundo de Cultura e por outras leis que ajudem a nossa produçaõ e o acesso da população a ela. E uma lei não exclui a outra, ou outras.
    Carlos Rosa

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  4. Continuando a conversa na roda...parte 1

    "...A aranha tece puxando o fio da teia
    a ciência da abelha, da aranha e da linha...
    muita gente desconhece...." João do Vale

    Pessoas queridas,
    Também considero importante o diálogo. Mas pra dizer a verdade me encontro num luto danado pelos resultados da última campanha eleitoral no Brasil, mas principalmente no estado de São Paulo. Só isso daria um bom debate.
    Também estou num processo interno de recuperação de minha saúde física e por isso não estava nos meus planos dialogar sobre a Política Cultural de São José dos Campos, que já me cansou de verdade, pois não existe eco entre a sociedade civil e governo local. São José possui um legislativo, executivo e até judiciário que deixa muito a desejar no que se refere a construção democrática participativa e popular.
    Parece ser uma cidade gerenciada pela classe dominante que não quer largar o osso...e chega inclusive a ter um discurso ditatorial, autoritário e demagogo.
    Só compareci ao debate porque foi um convite de artistas indo contra a maré da opressão governamental pra ver se mexe alguma coisa por aqui e por essa atitude tenho muito respeito.
    Uma das únicas pessoas próximas, que conheço na atualidade ...que atuou muito para o desenvolvimento de fato de uma política cultural para o Brasil através do Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura que é "Célio Turino" (PCdoB) foi derrotado na última eleição por Tiririca, para mim é deprimente essa situação. Chego a pensar que São Paulo merece os políticos que elege! E os pontos de Cultura do estado perderam uma chance única de colocar alguém para representar a Cultura como deputado federal.
    Pois bem...quanto a roda de conversa de ontem, que foi uma pena não ser em roda...posso dizer que tudo é válido quando se trata de aproximar governos do povo para um diálogo frente a frente.
    Claro que o tempo deu mal para se apresentar...rsrsrs mas é necessário fazer o máximo com o pouco que se tem...e por isso a mim só foi possível levantar umas questões.
    Praticamente não falei de Fundação Cultural, porque não estava ali para representá-la, na verdade sei pouco de lá, acho que no fundo nem a própria fundação tem noção clara ao que veio e qual sua verdadeira missão, o que é uma pena.
    Política Pública na área da Cultura pra mim são iniciativas do estado para garantia do direito a expressão e ao acesso cultural conforme prevê a constituição brasileira.
    Abraços solidários, brincantes e saltitantes!
    Jacqueline Baumgratz
    Ponto de Cultura Bola de Meia
    (12) 3206-2524/3941-9723
    ciabolademeia@ciabolademeia.org.br
    www.ciabolademeia.org.br

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  5. Continuando a roda de conversa - parte 2

    Se o Estado é burocrático e ainda necessita de mecanismo de melhor distribuição de rendas, o Programa Cultura Viva mostrou ser uma ótima alternativa com os editais promovendo mais acesso aos bens culturais através de projetos e acompanhamento nas prestações de contas.
    Pra mim existem diversos pontos de cultura aqui em São José dos Campos que ainda não foram conveniados por diversos motivos, falta de instituição social jurídica adequada, falta de experiência em gestão cultural...isso não significa que não competências, muita gente boa fazendo arte e cultura por aqui...o pessoal do Estival é prova disso, o Libercanto que ainda não é conveniado,o Moçambique da Vila Tesouro, a Casa de Cultura Caipira... e tantos outros coletivos artísticos e culturais...mas não sei porque até agora a Fundação Cultural não se manifestou...nem entendo o porquê...pois para cidades acima de 200 mil habitantes a proporção é 2 x 1 ou seja o governo federal entra com 2 partes e o município com 1, poderíamos com 3 milhões ter pelo menos 15 pontos de cultura conveniados recebendo 5mil por mês durante 3 anos para concluir um projeto bom para a comunidade. Diadema, Guarulhos, Rio Claro, Campinas, Hortolândia, são exemplos disso... Mas você acha que os Tucanos vão topar? É ego puro! Ao pensar que estão se humilhando em aceitar um programa de governo tão bom...como o Cultura Viva do governo do Lula? Existem mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia...
    É a velha visão neoliberal de Cultura como Mercadoria que vem se propagando no governo de SJCampos por mais de uma década...não é pra cansar? Os opressores aqui são maiores que de qualquer lugar nesse país, pois são mascarados...não sabemos de onde vem o tiro...e ainda por cima temos um controle militar...aeronáutico etc...
    Na palestra do Célio na Teia 2010 do Ceará ele falou sobre o silêncio Kariri e a importância do seu grito de liberdade, a importância de sua fala; pois bem eu aqui do meu lado guarani, mestiço venho falar por necessidade de compartilhamento de algumas percepções e incertezas.
    O Programa Cultura Viva fez muita diferença na vida institucional da Cia Bola de Meia, trouxe mais qualificação, protagonismo, consciência política e social, (empoderamento) “empodimento”, emancipação e a conseqüência disso foi a transformação de minha vida pessoal também.
    Nenhum governo federal abriu diálogo para construção de uma Política Pública para o país como este, isso faz desse momento, um momento histórico do ponto de vista social e cultural da nação.
    O Programa Cultura Viva é um modelo de Política Pública que eu acredito porém nem é cogitado pelos gestores da “cultura oficial” do município, o que é uma pena.
    Não concordo que toda verba para os projetos culturais sejam diretamente público. Na verdade o Bola de Meia viveu até 2005 com verba de suas criações artísticas e culturais, buscando apoios e patrocínios diretos com empresas privadas, somente bem pouco tempo faz essa experiência com verba pública e através de editais o que acredito ser mais ético e transparente pois são editais públicos de grande abrangência, existe uma seleção por comissão técnica contratada para a seleção, todo projeto é seguido de acompanhamento e prestação de contas e se não for cumprido existe punição sim, que envolve multas não habilitação para participação em futuros editais etc.
    Bem esse assunto nunca se encerra, mas preciso cuidar dos filhos, então nesse momento me retiro da conversa enquanto a roda gira e as reflexões amadurecem...e segue o cortejo!
    Como brincam as crianças aqui no Ponto de Cultura: "Suave na nave" e "Tranquilo como um grilo"...
    Jacqueline Baumgratz
    (12) 32062524/91087011

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  6. Querida Jacqueline,
    você é uma "cidadã-artista" maravilhosa, sabia? MUITO obrigado pela contribuição a esse debate. Também estou estarrecido com o resultado parcial da eleição no Brasil, mas tenho muita convicção de que no segundo turno vai ficar claro pras pessoas quem é que trabalha junto com o povo e quem "quer que se dane". VIVA O "CULTURA VIVA" !!!

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  7. Prezados, o André Ravasco escreveu há pouco e sugeriu que fosse colocado o email dele aqui nos comentários. Aqui vai:


    "Também estive neste encontro no SESC, e não me furtei do direito de me posicionar à respeito da política cultural de São José dos Campos (ou a falta de), desenvolvida pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, instituição criada na década de 80 por iniciativa de artistas pensando o desenvolvimento da arte e da cultura em nosso Município.
    Lembrando aqui Brecht, não me furtei do direito de me manifestar porque antes de ser artista sou cidadão e como cidadão acredito ser nossa responsabilidade fiscalizar como é gasto o dinheiro público e garantir que seja aplicado de acordo com o interesse público de forma democrática.
    Quero deixar claro que não sou contra a existência da Orquestra Municipal, mas é necessário discutir a eficiência no uso do dinheiro público. Como citou Claudio Mendel, dos 17 milhões repassados pela Prefeitura à Fundação, após o pagamento das despesas de manutenção e de funcionários restam 4 milhões para serem aplicados em atividades fins, deste montante é retirada a verba dos grupos estáveis da Fundação (Orquestra Municipal cujo custo é de 1,3 milhão, Coro Jovem e Corpo de Baile) para então chegarmos a aproximadamente 1,5 milhão, verba a ser destinada ao desenvolvimento de TODAS as outras atividades realizadas pela instituição, como por exemplo as oficinas culturais, que só neste ano tiveram por volta 6.000 inscritos.
    Esta mesma verba de 1,5 milhão ainda tem que ser utilizada para fomentar todas as outras linguagens artísticas e culturais, inclusive a próprio música, já que música não se resume a música erudita. Por isto acho interessante refletirmos o uso do dinheiro público.
    Lembro ainda que encontros como este tem outras funções que não só a de chegarmos a soluções para problemas existentes, mas também tem função pedagógica na construção do pensamento critico, político, artístico e cultural.
    Fico feliz por saber que aquela discussão continua fora do auditório.

    Grande abraço
    André Ravasco"

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  8. Olá!
    Que prazer conhecer esse espaço de discussão e perceber uma possibilidade de que algo seja construído a partir dele.
    Também estive na reunião e optei por "apenas" escutar.
    Concordo, amplamente, com as colocações do Paulo Barja e reforço que é lamentável ver que artistas se coloquem como órfãos de mãe viva, e essa mãe sendo a Fundação Cultural. Mesmo se assim fosse, o que fazer com esse vazio? Com essa falta? O Bola de Meia e o Velhus Novatus apresentaram o que eles estão fazendo, apesar da Fundação Cultural.
    O que também me chamou a atenção é que foi colocada uma atuação perversa da Fundação Cultural para com os artistas, porém será que não repetimos a perversão quando, na "roda de conversa", a discussão ficou direcionada à Fundação Cultural? Não foi um espaço de construção, foi de cobrança.
    O Mendel falou que era preciso saber o que fazer com a "sobra". E a discussão tentou fazer "sobrar" ainda mais. Por que nos colocamos também nessa sobra? Porque nos colocamos no lugar dos que estão sobrando? Como se a Fundação Cultural tivesse que dar a direção para que a gente não sobre mais, para que deixemos de sobrar. A sobra, pode ser ouro ou lixo, desperdício. A falta faz ir atrás. Foi a falta que fez o Bola de Meia criar seus próprios caminhos e idem o Velhus Novatus. A falta é a condição de vida, é o que fazer com o vazio. E o que vamos fazer, apesar da sobra da Fundação Cultural.
    Será que se colocássemos a Fundação como sobra e fizéssemos nós as ações, ela não sairia desse lugar de completude na qual é colocada e não teria que fazer algo para lidar com essa falta?
    A posição do SESC, como foi colocada na roda de conversa, é fantástica, ele atua no que falta ao Estado/ Município.
    Mas não conseguimos fazer, na roda de conversa, a Fundação Cultural sobrar, ao contrário, ela passou a ser a pauta.
    Bom saber desse espaço. Parabéns!

    Obs.:Tenho procurado divulgar os eventos da região no blog: http://artekulaagenda.wordpress.com/
    O Projeto ArteKula não se restringe a essa agenda e, em breve, espero poder compartilhar outras atividades do ArteKula e contar com a colaboração dos que desejarem construir algo artekulado.

    Andréa Mourão
    (psicóloga, psicalanista e "artekulista")
    http://artekulaagenda.wordpress.com/
    http://www.microsafety.com.br/ArteKula/ArteKula.htm

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  9. Prezada Andréa e "artekulista",

    é um prazer recebê-la por aqui: a construção dos espaços democráticos depende de cada um de nós, pois somos nós que fazemos o espaço, juntos.
    E, sim, será muito bom se for um espaço de construção. Positivo, propositivo.
    Obrigado pela participação e pela excelente atuação do Projeto Artikula, que estamos acompanhando pelos e-mails.
    Abraços,
    Paulo

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  10. Prezados, segue mais uma contribuição pro nosso papo, enviada pela Regina de Araújo. Obrigado, Regina!

    "Paulo,
    Eu não participei da Roda de Conversa porém fui convidada a visitar este bate papo que você lançou aqui no seu blog e tenho a dizer que concordo e compartilho tranquilamente com a sua postura e com a reflexão proposta.
    E digo mais, é preciso maturidade e respeito pelo próprio trabalho artístico suficiente para se libertar das Fundações senão, inclusive, todas as propostas de conversa desembocarão na mesmice.
    Alors, il faut grandir.

    Regina de Araújo"

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  11. Bom, pelos últimos comentários postados neste espaço bacana e necessário vou acabar achando que a culpa do sucateamento da FCCR é dos artistas apenas! Acho importantes vivermos nossa arte indepententes da intituição, porém acho que é uma obrigação a denúncia contaste dos desmandos que acontecem na Fundação. Então acho que perdem tempo os que acusam nossos artistas de estarem querendo apenas viver as custas do poder público. As pessoas que ocupam a Fundação hoje não são inocentes nesse processo. Lá exite muita incompetencia, arrogância e desvio de recursos públicos para outros fins... A Fundação se transformou num tetódromo dos partidos aliados do governo local.
    É até cômico esse debate sobre a "sobra". A casa recebe 17 milhões e menos de 5 milhões são destinados ao seu fim, fazer cultura??? Menos de 1/3. Não se deveria debater a "sobra" e sim onde são aplicados as verbas.
    Então, respeitando os comentários anteriores, vamos focar nos opressores...
    Carlos Rosa

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  12. Paulo,

    Também estive presente na "Roda de Conversa", mas discordo frontalmente de suas colocações.

    É evidente que se estamos numa democracia, uma "roda de conversas" estará sujeita às divergências! E que bom que elas existem! Só as divergências são capazes de fazer o homem (e a cultura) evoluir.

    Natural também que numa roda de conversas sobre a política cultural da cidade a FCCR seja um dos focos principais, afinal, é ela a responsável pelo desenvolvimento da política cultural local. Ressalta-se: a FCCR é responsável, por determinação legal, pela POLITICA CULTURAL local. E, nesse termo, inclui-se não só os projetos e verbas para os artistas locais, mas também o desenvolver o espírito critico e artístico dos joseenses. Enfim, inclui-se a determinação de conceder à ARTE a real importância que ela deve ter.

    Se vc ouviu muitos dizerem que o encontro foi desanimador por perda de foco, eu também ouvi de MUITOS artistas que o encontro foi desanimador, eis que não conseguem ser ouvidos.

    Parece-me que existiu uma divisão: de um lado os artistas, descontentes diante da INEXISTÊNCIA de uma polícita cultural na cidade, e de outro pessoas ligadas à FCCR, seja por cargo, seja por serem membros de projetos da FCCR ou projetos apoiados pela FCCR, defendendo a instituição por interesses exclusivamente pessoais.

    Concordo que os artistas não devam sobreviver unicamente das ações da FCCR. Veja meu caso: meu trabalho é totalmente independente. Pago minhas dívidas e a pensão da minha filha com o fruto do trabalho que desenvolvo exclusivamente na área privada com o auxilio dos meus parceiros.

    Mas, mesmo sendo um "agente cultural" ou um "cidadão artista" totalmente independente, considero que se existe uma instituição que possui um orçamento anual de 21 milhões, e que tem como função legal criar e gerir uma POLITICA CULTURAL no municipio, isso deve ser usado em prol dos artistas sim! E também em prol dos munícipes!!

    O trabalho independente os artistas já fazem, uma vez que atualmente essa é a unica possibilidade em nosso município. São muito poucos os que vivem exclusivamente da arte. Como se viver exclusivamente de arte fosse um crime ou algo de que se tenha que ter vergonha. Vc, por exemplo, não vive exclusivamente da arte.

    Precisamos também usufruir dessa segunda viela: a politica cultural que a FCCR deve desenvolver. Ela é essencial não só para que os artistas angariem verbas. Ela é essencial para que a ARTE e a CULTURA sejam valorizadas por todos os joseenses!

    E, para que isso tenha resultado, os artistas precisam ser ouvidos! Mas nunca são! Quando os artistas se manifestam, pleiteando apoio do órgão do município que tem a função exclusiva de apoia-los, são chamados de acomodados e dependentes!!!

    Ora, convenhamos, o termo "cidadão artista" traz em seu conceito a ideia de "cidadão". E todo cidadão quer ver as leis sendo cumpridas!!! A Lei que instituiu a FCCR determina que os artistas e a comunidade DEVEM participar da FCCR. É simples assim!

    E por ultimo, é importante considerar que a necessidade da criação e execução da política cultural do município pela FCCR não vem só em prol dos artistas, mas de todos os municipes!!! Se a FCCR cumprir suas obrigações, poderá permitir que mais artistas surjam. Poderá permitir que a arte ganhe em nossa cidade a importância que ela deve ter.

    Não se engane: São Luis só se reergueu pq o governo de lá entende a importância da arte e da cultura, e angariou diversas verbas e auxilios para que a cultura e a arte local se reconstruisse. A prefeita apareceu em diversos canais de TV pedindo ajuda, e articulou-se em prol da cultura e da arte, atraves de requerimentos oficiais, com o governo estadual e federal, para obter subsidios e verbas. Lá, certamente, os artistas são ouvidos! Lá, certamente a arte e a cultura possuem o real valor que devem ter!

    Júlio Saggin
    Produção em Cena

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  13. Em tempo: a Lei que instituiu a FCCR determina que apenas 40% de seu orçamento seja gasto com pessoal.

    Ora, se o orçamento da FCCR é de cerca de 17 milhões e apenas 5 milhões vem sendo aplicado em projetos, alguma coisa muito errada está acontecendo.

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  14. Leio esse texto como sendo escrito por alguém que foi escolhido para compor a academia joseense de letras, projeto amplamente apoiado pela FCCR, e, portanto, totalmente parcial!

    Qual a diferença de nomes entre agente cultural e cidadão artista?? É isso que importa?? O nome??? É o nome que define a ação??

    é.. deve ser, afinal, Cassiano Ricardo foi um censor da época da ditadura de Vargas!

    Essa sugestão de alteração deve ser pq em SJCampos os cidadãos são sempre curralzinho.

    Melhor seria o cidadão artista, pq também transformaria o artista em curralzinho.

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  15. Parece que uma colocação não exclui a outra. Não percebo divergências nos posicionamentos aqui manifestos, apenas enfoques de diferentes pontos de vista, e que podem se articular.

    Não entendo como um: OU é isso OU é aquilo. OU a FCCR faz OU quem faz é o artista. Acredito ser E E. Faz a FCCR E faz o artista. As vezes juntos e em outras, não.

    É notório que os artistas não tem um espaço para se fazerem ouvir na FCCR, se tivessem, muito provavelmente, a Roda de Conversa não precisaria ter ido para essa direção.

    Os artistas aproveitaram do espaço para falar, mas a questão que tentei colocar mais acima, no outro comentário quando falei da "sobra" é que, para quem foi direcionada essa fala? Para quem foram direcionadas as queixas se a FCCR não estava representada, segundo colocações do própio Mendel, ao dizer que não era o representante da Fundação? Pareceu-me que ele também estava ali com as dores, com os sofrimentos do artista.

    Quando coloquei a questão da "sobra"... e que provavelmente não consegui deixar claro, não falava da sobra em percentuais do orçamento, mas do sentimento de "sobra", de ocuparmos um lugar dos que estão sobrando... acredito que, se conseguissemos inverter e colocássemos a FCCR nesse lugar de sobra, o mal estar ficaria com eles e não com a gente. Ao menos nós não deveríamos ter ocupado esse lugar.

    Reivindicar, sempre! Apontar, acompanhar... porque isso também é da nossa responsabilidade, temos a co-responsabilidade pela política pública, em desenvolver o espírito crítico da população, em dar acesso à arte... não penso que seja "culpa" da FCCR ou somente responsabilidade dela.

    CULPA X RESPONSABILIDADE

    Sob o viés da religião a culpa torna o agente ofensor de Deus, indigno de sua misericórdia, para a psicologia a culpa é a emoção penosa resultante de um conflito, para a justiça, o delito, o crime. Para algumas crenças, nascemos com a marca de um pecado original que nos coloca uma culpa impagável. Um bebê que ainda não nasceu já nascerá com essa culpa. O culpado por um crime terá cassado o seu direito a liberdade, mas não há um pagamento pelo crime, não há a responsabilização. Rouba mil ou milhões, vai preso (ou espera-se que), e a vítima não é ressarcida de seu prejuízo (seja particular ou os cofres públicos).
    Responsabilidade, responsabilizar-se, diferentemente da culpa, que talvez jamais seja possível de ser paga, ao responsabilizar-se tem que dar conta daquilo que se obrigou ou prometeu. É assumir.

    É exigir um posicionamento da FCCR e é também posicionar-se, apesar da FCCR.

    Abraços,
    Andréa Mourão

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  16. Sugiro firmemente que se supere esta visão dicotomista das coisas. A vida e a ARTE são muito mais que isso. E "opressão" é grave, venha de onde for.

    Em tempo: "desenvolver o espírito critico e artístico dos joseenses" deveria ser função de todos os cidadãos-artistas desta cidade.
    Podemos fazer com que seja!

    Considero um GRAVE equívoco a afirmação de que existe uma divisão entre "artistas descontentes" e "pessoas que defendem a FCCR por interesses exclusivamente pessoais".
    Não dá nem mesmo pra concordar com a visão "dentro da FCCR" x "fora da FCCR".
    Essa é uma classificação falsa porque desconsidera a dinâmica natural característica do campo das Artes (artistas com certeza entenderão isto).
    Eu, por exemplo, não me vejo encaixado em nenhuma destas definições, bastante limitadas a meu ver.
    Agora, começo a imaginar que possam existir "interesses exclusivamente pessoais" em jogo, sim (e lamento).
    Vamos juntos superar esta falsa dicotomia, pois só assim conseguiremos avançar de verdade na discussão...

    Existem seres humanos acomodados e dependentes. Assim, é natural que existam artistas acomodados e dependentes.
    Mas quem é atuante não precisa se sentir ofendido com isso, certo? Por favor... avancemos!

    Ainda sobre São Luiz: novamente esclareço que estava me referindo à "alma luizense", não a qualquer eventual verba para São Luiz...
    Repito: não se trata de uma questão monetária...
    Seria maravilhoso se, aos poucos, conseguíssemos construir juntos uma "alma joseense".
    Uma visão de fazer coletivo.

    Enfim: quero ser otimista e acreditar que lutamos por ideais semelhantes, ainda que com posturas diferentes.

    Sede:
    1) Sobre a diferença de nomenclatura ("agente cultural" ou "cidadão-artista"): não, isso não importa... chame como preferir!
    É justamente essa a ideia do espaço aberto aqui: deixar cada um falar com suas próprias palavras.

    2) O fato de ser escolhido para a academia joseense é até curioso sob seu ponto de vista: não sou da FCCR e sempre votei contra o partido que tem sido vitorioso por aqui.
    Por sinal, podemos tentar fazer a academia atuar como ponte entre pontos de vista diferentes, entre artistas e administradores. Que tal?

    3) Sua afirmação de que "em SJCampos os cidadãos são sempre curralzinho" é tão preconceituosa que não merece resposta.
    Basta que leia os comentários de TODOS os participantes desta "roda virtual". São, todos, cidadãos trabalhando CONTRA essa sua afirmação!

    Por fim, um pedido a todos:
    VAMOS nos engajar no segundo turno da eleição presidencial. Vamos mostrar nossa opinião, enquanto agentes culturais (e/ou cidadãos-artistas) joseenses (e/ou não joseenses) preocupados com Política Cultural:
    afinal, quem dará sequência aos avanços essenciais do governo Lula nessa área?

    Abraços a todos,
    Paulo Barja

    P.S.: Andréa, comecei a escrever este comentário antes de ver o seu: você foi BRILHANTE!

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  17. Prezados, a discussão é importante e deve seguir em frente. Assim, acabei de publicar o texto enviado pela Andréia Barros como tópico novo neste blog. É um texto MUITO importante pois, além de avançar, contextualiza nossa discusssão.
    Assim, faço a sugestão:
    Vamos continuar nosso debate na seção de comentários ao texto dela, que tal?

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  18. Concordo com o que foi sugerido pelo Julio Saggin e, posteriormente, complementado pela Andréia Mourão: a FCCR tem que ser uma "segunda viela", nos dizeres do Julio. Tem quer ser E E, nos dizeres da Andreia.

    E como os artistas aqui na cidade de SJCampos já atuam por si só, e praticam, sozinhos, a política cultural local, resta explorar também a segunda viela, que está adormecida, esquecida e surda.

    Os artistas já estão chamando a FCCR de GRANDE PAVÃO SURDO. São artistas locais de renome, que inclusive já expuseram sua arte internacionalmente.

    Tem que ser E e E. E como o artista já atua sozinho, falta o "E" da FCCR.

    Em tempo, será que existe uma alma joseense?? Não acredito nisso. Aqui a diversidade é enorme, e assim deve continuar. Em São Luiz Paraitinga, talvez por ser uma cidade menor, a cultura é mais homogenea. Mas aqui isso não existe, e nunca existirá. E melhor ainda que possa existir espaço para o Cordel, para o Stand Up, para a musica isntrumental, para os musicais, para a dança contemporânea e também a classica! Todos se somam.

    Por fim, que fique claro: divergir não é confrontar.

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  19. É importante considerar que a multiplicidade existe (e deve existir mesmo) nas cidades de modo geral, grandes e pequenas! Por exemplo, São Luiz tem artesanato, tem as roupas de chita, tem cordel, tem música instrumental, tem as (famosas) marchinhas... Lá, tudo se soma!
    Concordo com você: aqui temos até mais oportunidade pra que diferentes manifestações possam somar.

    Os cordéis daqui não precisam ser iguais aos de Pernambuco, nem as marchinhas precisam ser iguais às de São Luiz, nem a música erudita tem que ser igual à de Campinas e por aí vai, entende?

    Então, a Alma Joseense está em formação... em gestação... Cada um de nós pode contribuir - voluntariamente, claro.

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