A primeira vez que me apresentei num sarau em que o poema abaixo foi dito, eu tinha 14 anos - e não sabia o que era amor. Agora, tanto tempo depois, eu sei... que o poema é maravilhoso! Vai aqui um trecho desse poema de mais de 200 atrás (para provar que tem coisas que nunca ficam arcaicas), em homenagem ao dia dos namorados:
O QUE É AMOR
(Domingos Caldas Barbosa, 1740-1800)
Levantou-se na cidade
um novo e geral clamor;
todos contra o amor se queixam,
ninguém sabe o que é amor.
Dizem uns que ele é doçura
outros dizem que ele é dor;
não lhe acertam nome próprio,
ninguém sabe o que é amor.
Que importa que alguém presuma
nestas cousas ser doutor,
se ele ignora como os outros?
Ninguém sabe o que é amor.
Amor é uma ciência
que não pode haver maior,
pois por mais que o amor se estude,
ninguém sabe o que é amor.
Em mil formas aparece
o menino encantador;
inda assim não se conhece...
Ninguém sabe o que é amor.
Ao valente faz covarde,
ao covarde dá valor;
como é isto não se sabe,
ninguém sabe o que é amor.
Choram uns o seu desprezo,
outros cantam seu favor,
de amor choram, de amor cantam...
Ninguém sabe o que é amor.
A uns faz gelar de susto,
noutros causa um doce ardor;
não se sabe a qualidade,
ninguém sabe o que é amor.
Amor tem um ser divino,
não tem forma, corpo ou cor,
sente-se mas não se vê...
ninguém sabe o que é amor.