14 de dezembro de 2013

13 de dezembro de 2013

Gata de Alice (soneto)


Às vezes você bem que se parece
com o gato de Alice, que flutua
e some de repente, sob a lua
- apenas o sorriso permanece.

No entanto, com você se dá o inverso:
o seu sorriso some. Vai aonde?
Você é que permanece. Ele se esconde
- flutua em algum ponto do universo.

Você fica incompleta sem sorriso
até que se aproxima um pensamento:
“Pra que ser sempre escrava do juízo?”

Ronrone, lamba as patas, pule, cace,
revire as latas, viva o seu momento
e sinta o que sob o bigode nasce !

P. R. Barja

Uma cena da vida de professor

(Só pra dizer...)

     Entre as correrias e tropeços do dia-a-dia, vejo um ex-aluno à distância e cumprimento rapidamente, seguindo meu rumo. Mas aí ele vem chegando e pede por favor que me chamem, diz que precisa falar comigo:
- Professor, eu nem fui propriamente seu aluno, estudava Estatística em outra turma... mas fui algumas vezes tirar dúvidas com o sr. e queria dizer que me ajudou muito. Tirei 10 na última prova e até hoje sou grato ao sr. por isso.
- Ah...! Mas então eu é que agradeço: esse teu agradecimento é o combustível de qualquer professor...!
     Ele seguiu. Eu segui. Mas estou até agora pensando que não agradeci suficientemente este aluno pelo gesto dele. Se soubesse a importância disso pra gente... obrigado, obrigado, obrigado!

P. R. Barja

9 de dezembro de 2013

Valsa Antiga (Valsa n.1)

Composta aos 17 anos, a "Valsa Antiga" foi a primeira de várias valsas que fiz (sempre adorei valsa ao piano). Mas ficou esquecida por 25 anos... no dia em que lembrei da existência da valsa, corri pro piano e toquei antes que esquecesse de novo. Taí:


VALSA ANTIGA (Valsa n.1)

A música nova 
que eu canto agora
já não é mais nova:
perde nesse instante
o ritmo inconstante
- a última prova
de que ela era nova.

Brisa amanhecida
logo adormecida
ao vento entardece;
no silêncio, cresce
a nuvem de angústia
por não conseguir
criar nada novo.

As palavras ditas
e as notas cantadas
são nuas e mudas,
não dizem mais nada...
e o verso perfeito
torna-se desfeito
pela ação do tempo

... e os três tempos tristes
desse meu compasso
despretensioso
são meus inimigos:
ex-música nova, 
agora uma valsa
num álbum antigo.

Paulo R. Barja