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19 de maio de 2020

Um Simples Galpão (sobre o Galpão Estação Cidadania)


daqui a 80 anos
nas ruínas de São José
ninguém saberá daquela via
tragada pelo rio
nem daquela outra
em desuso, abandonada
disso tudo
 afinal
  restará
   quase nada
e quem se lembrará
daquela (in)vencível ponte
que tanto enfeiava o horizonte?

mas o rio
tenho esperança
será testemunha
viva

daqui a 80 anos
alguém achará estranho
encontrar as fundações
do projeto equivocado
que começou
a ser erguido
do lado errado

bem perto dali
a árvore mais antiga
ainda oferecerá
sombra amiga

daqui a 80 anos
quem se lembrará
do pleito que elegeu
um bando de vereador
e um (in)certo prefeito...
qual o nome do sujeito?
tento lembrar
não há jeito
- bem feito.

mas haverá
ainda e sempre
o som de uma flauta
e sua melodia incauta
que fará renascer eterna dança
nos pés espevitados de criança
haverá
ainda e sempre
um sorriso bordado em cores vivas
a força da mais bela narrativa

e cada um de nós
que por lá tiver passado
já terá deixado aos filhos
e aos filhos dos filhos
o caminho dos trilhos
a arte como oração
a artesania
daquele simples Galpão
Estação
Cidadania

(Paulo Roxo Barja, para todos os artistas do eterno Galpão Estação Cidadania)













Todas essas fotos ilustram apenas alguns dos tantos momentos de Cultura e Arte proporcionados pelos atuantes artistas e parceiros do Galpão Estação Cidadania - que foi desocupado à força e destruído pelo poder público apenas fisicamente, mas permanece em nós como símbolo de espaço livre para o exercício da cidadania plena.
Saibamos seguir em frente nessa trilha, sempre!

14 de maio de 2020

Matéria - Subnotificação da pandemia em São José dos Campos (com áudio)

O link a seguir apresenta matéria publicada no site da Rádio Piratininga após entrevista/bate papo realizado em 13 de maio na rádio. A matéria apresenta parte das minhas declarações, em áudio com o que consideraram os principais trechos:

Matéria sobre isolamento social - jornal "O Vale"



No link abaixo, matéria do jornal "O Vale" incluindo um gráfico e comentários nossos sobre a taxa de isolamento em função do dia da semana:

12 de maio de 2020

10 de maio de 2020

Matéria do jornal "O Vale" sobre a estatística da pandemia em São José dos Campos

Esta semana, fomos procurados pela equipe do jornal "O Vale" para falar sobre a estatística da pandemia de COVID19 em São José dos Campos e região.

O resultado foi a boa matéria do Xandu Alves, disponível na íntegra através do link:

Número de Casos de COVID19 em São José - Pesquisa UNIVAP

7 de fevereiro de 2020

Diálogo sobre o salto do artista

(à memória do músico Almir Mello)

P - Que quer dizer o artista
     que, ao sofrer, no auge da dor,
     salta sem a proteção da rede?
R - Quer dizer que não é justo
     um simples trabalhador
     morrer de fome ou de sede.

P - O que quer dizer o artista
     que dava tanta alegria
     e se lança assim no abismo?
R - Quer dizer que ninguém pode
     só dar e não receber:
     é cruel tal mecanismo.

P - O que quer dizer o artista
     que não busca mais aplausos 
     ao se jogar no infinito?
R - Quer dizer: vaidade é vã
     - e há jornadas solitárias.
     Assim penso. Assim reflito.

Paulo Barja

6 de novembro de 2019

Cartografia conjunta

"Relatório" (feito em cordel) sobre 1 projeto social e educativo desenvolvido por René Novaes Jr (INPE) e diversos parceiros. Viva a pesquisa social e colaborativa!


4 de novembro de 2019

VIDA SEVERINA: um espetáculo necessário


   Neste domingo pós-finados, fui ver "Vida Severina ou Tem Muita Gente Neste Barco", peça do Núcleo de Artes Cênicas do SESI SJC, composta a partir da justaposição das obras de João Cabral ("Morte e Vida Severina") e de Matei Visniec (Migraantes), sob a sensível direção de Roberval Rodolfo.
   Vou direto ao ponto: vejam a peça! O espetáculo está em cartaz no SESI SJC - e é gratuito. Muito bom. Roberval costurou 1 roteiro simplesmente brilhante: amarrou João Cabral com Visniec para discutir (i)migração.
Trata-se de 1 grupo jovem, amador - sim! E isso é mais uma razão para se acompanhar o trabalho. Há grandes valores individuais e a tendência é crescer como grupo, o que aliás já se verifica, ao longo dos últimos anos.
   A música é sempre um ponto importante dos trabalhos do NAC, merece atenção - assim como a garra, a alegria de se saber em cena para um debate importante.
   A peça em si é belíssima, um real ato de denúncia e resistência - imperdível e necessária no Brasil e na São José de hoje. Muitos saíram emocionados, mas arrisco dizer que o maior mérito do trabalho é gerar o empoderamento coletivo. Aquela sensação  de que, afinal, do lado dos humanistas, "ninguém solta a mão de ninguém". Neste sentido, acho particularmente importante que o trabalho seja prestigiado pelos colegas da classe artística.
   Vi ontem, já conto os dias para rever. Parabéns aos envolvidos. E sigamos na resistência lírica através da Arte.



18 de janeiro de 2019

O FUTURO FUZIL

- Agora eu vou ter UM FUZIL!
   Ouvi essa frase enquanto aguardava na fila do caixa de um mercado na região central da cidade. A pessoa dizia isso ao celular; tive uma certa impressão de que chegara a levantar a voz, como se quisesse público para sua afirmação.
   Não me voltei para ver quem falava. Na verdade minha vontade era sair dali, se possível abrindo as asas e voando sem rumo, para perto das nuvens e longe dessa futura terra de fuzis.
   Não sei quem falou aquilo, nem porque falou. Mas reparei: era uma voz de mulher.

#SãoJoséDosTiros

27 de dezembro de 2018

BANHADO ORGÂNICO

A comunidade tem mais de oitenta anos de existência e mora em local curioso: é uma roça bem ao lado da região central da cidade. A mídia diz que há traficantes entre os moradores. O prefeito pede na justiça a saída imediata da comunidade – pretende fazer no local uma via expressa (apenas para carros) e um parque. Mas o próprio bairro já é um parque, com a vantagem da produção da agricultura familiar. A comunidade produz as melhores bananas da cidade.
Encontro pai e filho na rua, empurrando um carrinho onde vendem sua produção, quase em frente a um supermercado:
- É banana orgânica! Não tem aquele monte de produtos químicos, não.
Peço meia dúzia. O menino aponta para umas poucas bananas no canto do tabuleiro e pergunta:
- Pai, essas aqui estão meio verdes, feinhas. Vende?
- Com essas a gente faz doce, filho.
Pergunto se as bananas são do bairro ameaçado pela prefeitura. Eles confirmam:
- Sim, moramos lá.
Pelo sabor da solidariedade, acabo comprando uma dúzia.

13 de dezembro de 2018

“PARAHYBA RIO MULHER”: UMA FORÇA NECESSÁRIA


Lirismo e força: performance traz para a rua a "História além dos livros"

     “Vivemos tempos difíceis” é quase o novo “Bom dia” dos brasileiros, neste 2018 que é um agravamento de 2017, que foi, por sua vez, uma sequência dura de 2016... Mas cabe uma pergunta: desde quando estamos sendo golpeados? Não aprendemos isso na escola, mas a verdade é que a História do Brasil tem sido, desde sempre, a história de uma sequência de golpes. Ou alguém ainda acredita no mito de que os portugueses eram brancos civilizadíssimos que chegaram aqui tratando muito bem os índios, que foram auxiliados em trabalhos voluntários por negros bem dispostos vindos da África Mãe?

     Ainda hoje, a chibata é vista como recurso para uns - mas é pura dor para outros. Nesse contexto, e voltando a 2018, o mergulho (cultural, artístico) em episódios tristes da nossa história é importante para revelar caminhos de resistência. Porque, se temos uma longa história de golpes, também é verdade que temos uma longa história de resistência. Perguntem aos índios, por exemplo. Ou às mulheres fortes da Paraíba!

     Não acredito em acaso: todo encontro tem uma razão de ser. No meio da semana, no meio de tarde, no centro de São José dos Campos, eu e minha filha ficamos sabendo que haveria teatro de rua na Praça do Sapo. Como só a Arte salva (e à noite ainda haveria trabalho), resolvemos ir até a praça.

      Chegamos cedo: “Elas estão no calçadão!”

     Fomos ao encontro das moças. Percussão, voz e energia davam o toque: “tá com cara de que vai ser bom”, pensei. Foi mais: foi necessário. Sempre cantando, a trupe chega à praça, onde a própria demarcação de espaço marca o início da performance. O vermelho está presente: enquanto denunciam episódios de violência contra a mulher, as moças banham-se num rio que é de água e de sangue. E então começa uma aula ao mesmo tempo de Arte e de História – aquela que os livros não contam, ou seja, aquela que vai bem além das verdades oficiais.

     Anayde Beiriz foi uma escritora e poeta libertária, destinada a chocar a conservadora sociedade paraibana da primeira metade do século XX. Defensora ardorosa da participação feminina na política e nas artes, Anayde envolve-se amorosamente com João Dantas, líder da oposição ao então “presidente da Paraíba” (governador) João Pessoa. Em meio a um violento confronto político, Dantas se refugia no Recife, sem abandonar Anayde: o amor revolucionário é cantado em cartas, em verso e prosa. João Pessoa então manda a polícia revistar as casas dos revoltosos, buscando armas que comprovassem a preparação de uma revolta armada. Em vez de armas, a polícia encontra cartas e poemas de amor no cofre do escritório de João Dantas, na capital da Paraíba.

     Amor é crime? O material epistolar apreendido é fartamente divulgado por jornais alinhados ao governo, para atingir Dantas, que reage “na lata”: numa confeitaria recifense, mata João Pessoa com um tiro à queima roupa, sendo preso em flagrante. Anayde então vai morar num abrigo no Recife, onde visita Dantas até que este é encontrado morto em sua cela. A desculpa oficial é a de sempre: suicídio. Poucos dias depois, Anayde morre envenenada, em mais um “suicídio” assim, entre aspas.

     A violência pode assumir muitas formas.

     A força de Anayde me faz lembrar da santista Pagu, que viveu na mesma época. E em outras mulheres guerreiras, de todas as épocas. As atrizes falam de suas avós e convidam o público a falar também, para que se honre – coletivamente – a memória destas mulheres. Há espaço para lirismo e saudade. As falas finais do espetáculo retomam o caráter de resistência política ao defender publicamente a coragem de Dilma Rousseff, vítima de um processo de impeachment claramente carregado de machismo. Enquanto escrevo esse texto, multiplicam-se denúncias contra um certo eleito e seus filhos, envolvidos em atividades “pouco republicanas”. Como agirá a imprensa agora?

     A história brilhantemente contada por Cely Farias, Kassandra Brandão, Natália Sá e Jinarla Pereira fala da Paraíba, do Brasil e, em última análise, de todos nós. O grupo tem a melhor das qualidades quando se trata de teatro, principalmente na rua: as moças mostram um entrosamento perfeito. O espírito de equipe valoriza cada momento do espetáculo, visualmente belo, fortalecendo um trabalho que já é forte pelo tema abordado.

     Toda força a essas moças! Que façam mais e mais arte pelas ruas de nosso país, que anda precisando. E que a História – essa que mora além das verdades oficiais – seja sempre lembrada, para possamos resistir sempre às tentativas de silenciamento.

P.R.Barja

28 de maio de 2018

Domingo de Cidadania

(Apesar de tudo...)

   Neste domingo, ao meio dia, fui à comunidade Santa Cruz para um evento de futebol - organizado pelos próprios moradores. No caminho, passei pela maior praça da região central da cidade, onde cerca de 15 pessoas vestidas de amarelo tinham esticado uma faixa pedindo intervenção militar. Alguns apitavam. Nenhum discurso.
   Não desviei meu trajeto. Seguindo no rumo do evento comunitário, cheguei à Santa Cruz. Alto astral: os meninos recebiam as camisas dos times - cinco times, cinco cores. Vestindo a camisa da seleção espanhola, fui logo chamado de "olheiro da Espanha". Brincando, disse aos meninos que tempos atrás já havia levado "um certo Neymar" embora pra Europa. Todos sorriram. Debatemos rapidamente lances da partida da véspera, Real Madri x Liverpool. Que golaço, o segundo! E que falhas do goleiro, os outros gols... Em minutos, éramos amigos.


Os times, uniformizados
Escolas participaram

Pose para foto oficial

Artistas e apoiadores, ao lado da mesa das premiações

   Em paralelo ao futebol, iniciava-se a organização para o almoço comunitário. Tudo colaborativo, todos se ajudando e se fortalecendo. Deixei kits de cordéis para a premiação dos meninos e, junto com amigos, também alguns livros.
   Na véspera, havia ocorrido um incêndio por lá, na casa da mãe de um líder comunitário, mas todos se uniram, ajudaram (procedimentos emergenciais efetuados, estragos avaliados, planos para reconstrução) e resolveram manter o evento. Atrasou um pouco. Alguns tinham ido à comunidade de Pinheirinho dos Palmares para o lançamento da candidatura de Lula à presidência.
   No evento, conheci um jovem escritor da comunidade, que lançava seu primeiro livro. O relato autobiográfico contava os muitos apuros de alguém que ainda tinha tanto a viver e que encontrara no rap uma forma de falar sobre e para a comunidade. Enquanto conversávamos, reparei que o som ambiente apresentava raps feitos provavelmente por ele e colegas dali. No início de cada gravação, trechos de notícias de rádios locais falavam sobre supostos crimes ocorridos no interior da comunidade. Entendi na hora a denúncia. Daquele jeito, os artistas locais mostravam a todos a forma como eram vistos pela cidade - e que destoava completamente da realidade que eu conheci ali, ao vivo.

Conversa de cantadores boleiros - de vermelho, fui por alguns minutos o "olheiro da Espanha", rs

Hora dos jogos!

Torcida presente, acompanhando e comentando
Premiação literária: cordéis e livros
A comunidade, em torno do futebol: um universo riquíssimo: quadra e parquinho comunitário, arte visual, literatura...

   Com os jogos ainda acontecendo, passeamos pelas ruas estreitas e visualmente riquíssimas da comunidade. Símbolos de futebol aqui e ali, comércio alternativo, paz e limpeza. Fomos almoçar na padaria e depois nos despedimos dos colegas.

A grande vitória é participar
   Na volta, às 14h45, sempre a pé, passando novamente pela praça na região central da cidade... Vimos agora cerca de 150 pessoas, a maioria usando roupa amarela e alguns "embrulhados" em bandeiras do Brasil. Uma viatura da polícia circulava dando segurança a eles. Havia megafone, mas o único e insistente discurso era:

"Liguem para qualquer rádio! Avisem que estamos aqui.
Serve qualquer rádio. Tentem a Jovem Pan..."

   Não pude deixar de pensar no tanto que aqueles "brasileiros de bem", uniformizados, teriam aprendido sobre cidadania se tivessem visitado a comunidade Santa Cruz.

* * *

   Poderia ter acabado por ali, mas, em seguida...
   Quase na esquina de casa, um rapaz negro, forte, pedia "pelo amor de Deus" que alguém ajudasse a comprar fralda para os filhos (gêmeos) dele... Disse que havia saído da cadeia há quatro dias (após 8 anos de reclusão por homicídio) e a polícia já tinha passado por ele há alguns minutos, fazendo marcação, perguntando o que ele estava fazendo ali... Ele estava tentando juntar dinheiro para as fraldas. Tinha menos de quatro reais, às 15h. A mulher estava sentada na calçada, a uma quadra, com os filhos, no frio, no sol... Ele confessou que conhecidos tinham falado para ele roubar fraldas, mas ele não queria se sujeitar a voltar para a cadeia depois de tudo... Paguei o pacote de fraldas. Com delicadeza, ele me pediu também a nota fiscal, para provar que as fraldas tinham sido compradas. Percebam a crueldade: a sociedade punitiva faz marcação cerrada... Aquele homem simples sabia que precisaria provar sua honestidade a cada instante, a cada gesto. Após guardar a nota, ele perguntou se eu era de alguma igreja; eu disse que não. Ele então me deu a bênção de Deus.
   E eu recebi.

(Paulo R. Barja, com Claudia R. Lemes e fotos de JB, Moacyr Pinto e P.R.Barja)

28 de fevereiro de 2018

Caro Demais

   Na triste manhã de sábado em que escrevo, um trabalhador está sendo velado em São José dos Campos; será sepultado à tarde. Foi assassinado durante o trabalho. Não falo de um empresário, industrial ou político; também não é diretor de empresa de ônibus nem Secretário de Transportes. Trata-se de um cobrador de ônibus, baleado durante um assalto na sexta-feira, 16 de fevereiro. Por conta disso, a paralisação dos cobradores e motoristas de ônibus no dia seguinte não é apenas justa: é necessária, para denunciar a absoluta fragilidade da vida de um cidadão trabalhador nesta cidade.

   Vejamos: São José dos Campos tem hoje uma das maiores tarifas de ônibus do Brasil (fica atrás de Brasília e Campinas). Mesmo assim, as empresas de ônibus solicitam aumento de quase 40% na tarifa – devem mirar o Livro dos Recordes. Surreal, já que nenhuma categoria de trabalhadores recebeu esse aumento – nem os secretários do prefeito, já contemplados com polpudos 19%. Pergunta-se: que segurança essas empresas – e, em última análise, a prefeitura – oferecem ao cidadão? A pontualidade é questionável; a disponibilidade de veículos em certas linhas beira o ridículo, com ônibus a cada hora e meia, provando que o sistema público de transporte visa o benefício apenas dos “de cima”, submetendo a população a duras condições de lotação – tentem espremer seis pessoas por metro quadrado, como as empresas aceitam nos ônibus.

   Atenta-se contra a vida a cada momento, aqui. Dizem que o barato sai caro. Aqui em São José, o caro é inaceitável.

Paulo R. Barja

8 de dezembro de 2017

(Mais uma) Vitória da Liberdade


     Saímos da Câmara de São José dos Campos pouco depois das 20h. Vitória: entregamos manifestos, ocupamos a galeria e foi novamente adiado o projeto da "Escola Sem Partido". Mas foi chocante ver uma turminha (MBL) defender o tal projeto gritando que quer o Bolsonaro presidente...
Era só isso e usar buzinas. Zero argumento...
     O projeto deverá ser arquivado porque restringe a liberdade de expressão, cerceia a educação e usa o surrado e absurdo argumento de "proibir ideologia de gênero"...
     Ei, o que defendemos é o respeito a todos, o direito à diversidade, à cidadania!
    A autointitulada direita não quer que se fale de feminismo nem respeito às minorias. E o MBL levou bandeiras do século XIX! Brasil império! Estão 200 anos atrasados.
     Fui de rosa e fiquei com o povo LGBT, claro. Gente decente!

Sessão histórica na Câmara de SJC, 7/dez/17

5 de dezembro de 2017

Em Nome da Cidadania

(a propósito da apreciação de projeto referente à proposta de "escola sem partido" em São José dos Campos)

     Sou homem, branco, católico, classe média, heterossexual; nunca passei fome e sempre tive onde morar. Sou maioria? Não: combinadas, essas características formam um subgrupo da sociedade – o subgrupo dos privilegiados, ou seja, dos que acessam as melhores opções de trabalho, independentemente de mérito. Mas, nesse contexto de vantagem competitiva (na verdade, injustiça estrutural), por que tantos com perfil assim mostram tanta dificuldade em abrir espaço para os demais? Impor uma visão de mundo oriunda de privilégios seria uma injustiça flagrante.
     Sou homem – nessa condição, reconheço o machismo da sociedade atual; é um tipo de injustiça que deve envergonhar a todos e precisa ser superado, em nome de uma convivência mais harmoniosa.
     Sou branco – assim, preciso saber do ponto de vista dos negros, secularmente oprimidos no Brasil. Mais que falar, preciso ouvir, para que superemos as diferenças ainda existentes.
     Sou católico – por isso, é importante que minha filha tenha acesso à Umbanda, ao Espiritismo, ao Budismo e às outras religiões na escola, para aprender a respeitar a diversidade.
     Sou de classe média – preciso então estar atento às demandas sociais, para ajudar o país a superar a desigualdade.
     Sou heterossexual – mas seria um monstro se desrespeitasse o direito de todo e qualquer indivíduo para viver sua sexualidade da forma que lhe for mais conveniente.
    Ao condenar uma opção diferente das minhas, estaria violando a própria noção de humanidade. Como pai, devo respeitar a autoridade dos professores, que devem trabalhar com plena liberdade. Como professor, preciso garantir que alunos jamais reproduzam as injustiças de que estamos fartos. Como cidadão, exijo o direito à diversidade.
     Por isso, pela cidadania, sou contra a “escola sem partido”.

Paulo Roxo Barja

9 de outubro de 2017

Mais que nunca, é preciso sonhar

(“Os Gigantes da Montanha” e o Grupo Galpão)

Fui ao teatro (re)ver o Grupo Galpão e saio com a impressão de que a beleza na Arte, a partir de um certo ponto, ultrapassa o próprio limite das palavras. Paradoxo: ainda assim, sou impelido a escrever. E por razões objetivas: no Brasil de 2017, é preciso assistir “Os Gigantes da Montanha”, montagem do grupo para o texto de Luigi Pirandello.
Sim, vivemos num tempo em que a beleza chega a adquirir conotação subversiva - principalmente quando aliada à excelência da representação. Para dar um exemplo: a caracterização antológica do ator Paulo André como personagem feminina na peça é capaz de ofender certas “pessoas na sala de jantar” (como diriam os Mutantes). Pior para os que se ofendem. Nestes tempos difíceis, em que setores (ultra)conservadores chegam a pedir censura a exposições e apresentações artísticas (na verdade “exigem”, o que apenas explicita seu caráter autoritário), é reconfortante ouvir o Galpão emendar o final de uma das músicas com a exclamação: “Censura não!”
Pirandello morreu às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Certamente compreendia os graves tempos que estavam por vir. Poucos anos depois, Walter Benjamin passou a alertar sobre a mudança de percepção que se operava nas pessoas a partir da reprodutibilidade técnica nas obras de arte. Pois bem: o teatro nunca se curvou à mera reprodutibilidade. O acaso sempre está presente, e por isso mesmo a aura nunca se perde. Curioso: um seriado famoso na TV dos anos 1990 avisava que “a verdade está lá fora”. O Galpão viaja pelo Brasil confirmando que “sim, a verdade está AQUI fora” – e é tanto mais impactante quanto mais se revela através do registro de fábula.
A cada época, seus desafios. Temos os nossos, e não falo (só) de manter as contas em dia: trata-se de lutar inclusive pelos direitos mais fundamentais. Nos últimos tempos, a imprensa (!!) tem dado espaço a políticos que defendem abertamente a imposição de limites à liberdade de expressão, propondo inclusive sanções e multas aos libertários. Pois bem: no passarán, caros censores! Temos a fábula. E fábulas como a de Pirandello prestam-se a múltiplas interpretações e questionamentos; ler, ouvir, cantar e representar são atitudes que enriquecem a própria experiência humana.
Voltando à peça: logo no início, quando a brancaleônica trupe mambembe perambula em busca de um lugar para apresentar seu espetáculo, ficamos sabendo que fantasmas não assustam artistas. Na verdade,

a Arte faz ponte
entre o pleno Aqui-Agora
e o reino do Além.

A última cena, aquela que Pirandello contou mas não escreveu, trata do embate dos artistas com os Gigantes. Que não são propriamente gigantes, o texto explica: trata-se de pessoas que chegaram “no alto da Montanha” com muito esforço, mas que, na caminhada, embruteceram, tornaram-se de certo modo insensíveis – esquecerem-se, talvez, de sua própria humanidade. Culpa do Empreendedorismo ou da Meritocracia? A peça estimula fortemente a reflexão, neste momento em que artistas, buscando seu lugar na praça, são pressionados a se converterem em “empresas de um homem só” (as MEIs).
A peça, escrita na década de 1930 e montada pelo Galpão em 2013, torna-se ainda mais atual agora. Os artistas, armados de figurinos, vozes e sonhos, caminham para se apresentar diante dos Gigantes. Retroceder? Nunca. Temer? Jamais.
Ao fim da peça (na verdade, o fim ainda está por escrever), resta-nos agradecer ao Galpão pelo exemplo dado nestes primeiros 35 anos de sua trajetória: sem concessões, dando sempre coerência aos nossos sonhos. Até mesmo depois do espetáculo: nesta cidade que um dia abrigou o Pinheirinho (invadido e desocupado por Gigantes da Montanha fardados), passavam das dez da noite quando encontramos os atores saindo do teatro. Cansados, após mais uma jornada de belezas, eles nos mostram que, sim, sempre há tempo para um abraço. E que ninguém ouse censurar o afeto, que é e sempre será revolucionário.

É preciso que sonhemos,
principalmente acordados;
que encaremos os Gigantes
(na rua e até no Senado)
e saibamos exprimir
com Arte o nosso recado.

P.R.Barja

19 de agosto de 2017

Vitória da Cidadania em São José dos Campos

     Em São José dos Campos, os últimos dias foram de debate sobre questões ligadas à cidadania. Na terça (15/08), a Câmara Municipal foi sede de um embate a respeito da proposta de “Escola Sem Partido”, apresentada por setores contrários ao aprendizado de uma visão crítica da História nas escolas. Enquanto educadores e ativistas contrários à proposta concentraram-se na Câmara para o debate que ocorreria, integrantes e simpatizantes da proposta “Escola Sem Partido” vieram da Praça Afonso Pena até a Câmara. O debate acabou ocorrendo fora do plenário, com enfrentamento entre os manifestantes. Em menor número, os defensores da proposta de “Escola Sem Partido” foram recuando até a porta de entrada, dispersando-se a seguir, enquanto o presidente da Câmara encerrou a sessão alegando falta de segurança.
     Os defensores da “Escola Sem Partido” dizem querer evitar a “propaganda comunista” nas escolas. Entre os professores, em sua maioria, contrários à proposta, entende-se que esta representaria uma censura ao trabalho do educador. Alega-se ainda que a proposta implicaria, ao contrário do que seus defensores afirmam, numa escola COM partido, porém sem espaço para a análise crítica, essencial no ensino e aprendizagem principalmente de História e Geografia.

Audiência pública na UNIVAP
     Já na quarta-feira (16/8), a UNIVAP (Unidade Castejón) sediou audiência pública sobre o Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos (SP). O evento foi particularmente importante porque, na semana anterior, a audiência ocorrida sobre o mesmo tema no campus Baixada Santista da UNIFESP havia sido conturbada, com a presença de mais de 90 policiais militares fardados e inicialmente armados, em atitude considerada opressora e que motivou inclusive uma nota de repúdio publicada pela ADUNIFESP.
     Na UNIVAP, mesmo com auditório lotado, a audiência transcorreu pacificamente, conforme atestaram participantes do evento. Segundo Ana Carla Pinto, “foi muito bom ver o auditório mobilizado, as contribuições foram bem pertinentes”. Francisco Roxo, também presente ao evento, elogiou o incentivo à participação popular, mas lamentou a escassez de tempo para discussão. O sociólogo Moacyr Pinto considerou a audiência “maravilhosa, com a presença dos mais variados setores da sociedade”; segundo ele, ficou claro que era um “encontro democrático sobre Direitos Humanos, sem espaço para o fascismo.”
     A professora Paula Carnevale (UNIVAP) destacou a presença e jovens e participantes de movimentos sociais, comentando ainda que a participação da polícia foi construtiva e propositiva. Carnevale, porém, alerta para o fato de que ainda é necessário avanço quanto ao estabelecimento de formas claras para incorporação das sugestões apresentadas pela população ao documento previamente elaborado.
     Tudo somado, fica a conclusão de que o diálogo é sempre o melhor caminho para exercitar a cidadania, e toda construção deve levar em conta o respeito à diversidade de opiniões – para que cada pessoa possa livremente tomar partido em relação aos temas em debate.

Paulo R. Barja