29 de abril de 2012

"FOGO FÁTUO" e o dilema PROZAC/PROJAC


   "O REI ESTÁ NU!" - essa é certamente a frase que ressoa em muitos dos espectadores da peça FOGO FÁTUO, em cartaz no SESC Santana até 27/5. Trata-se de um trabalho vigoroso que tem como uma de suas maiores virtudes a profunda honestidade que propõe nas relações entre as diversas instâncias presentes (de um modo ou de outro) em cena: escritor, ator, indivíduo, público, cidadão, sociedade, criador/criatura... "e o diabo a 4".

   Nunca é demais lembrar que o mito é, talvez por definição, atemporal - assim como a questão do criador-em-crise (presente "dia sim, outro também") em tantos de nós, reconheçamos. Mas é claro que o tema ganha relevância nesses "tempos modernos" em que a dupla PROZAC e PROJAC parece comandar o imaginário (e o real) de boa parte da sociedade. Se a meta é "crescer e aparecer" a todo custo, de preferência sorrindo e mandando beijinho pra galera, nega-se cada vez mais o direito à crise, ao tempo de amadurecimento da criação, ao silêncio necessário do criador. Tudo é ritmo, tudo é pressa, os fins justificam os meios e algo acaba se perdendo no "Vale Tudo das Artes".

   FOGO FÁTUO propõe um respiro necessário nessa loucura. Poderia ser receitada como "prescrição médica" para alguns, contra a mentalidade fast food tão presente em nosso cotidiano. Nesse sentido, é fantástico o início da peça, que de cara já propõe uma quebra de ritmo: somos inseridos no tempo-sem-tempo (o fade-out final poderia explorar ainda mais isso, com as luzes baixando lentissimamente para nos lembrar de respeitar este tempo-sem-tempo do Escritor criando. Talvez alguns tenham pressa de bater palma e levantar, mas outros vão captar a mensagem).

   O trabalho é um típico work-in-progress: logo após a apresentação do último sábado, pudemos acompanhar um pouco do sempre instigante processo de (re)criação, com sugestões sendo coletadas e compartilhadas entre criador e criatura. Mas, afinal, quem é quem? Nem é o caso de fazer a pergunta, uma vez que ambos criam e são criados em cena. E aqui temos um fato curioso: a nítida diferença de desenvoltura cênica entre Hélio Cícero e Samir Yazbek (nem seria justo exigir “paridade” aqui) colabora inclusive para trazer novas camadas de leitura a alguns trechos da peça. Insistente, a pergunta “Quem é você?” é provocadora e essencial para este Escritor em busca de uma pista criativa – que pode vir na forma de um pacto proposto por Mefisto em crise.

   Apenas discordamos de um pequeno trecho do texto de apresentação no programa da peça: a crise compartilhada entre Fausto e Mefisto (este, auxiliado pela interpretação soberba de Hélio Cícero), em vez de gerar descrença, acaba sendo um último e maravilhoso recurso de sedução. Uma espécie de "canto do cisne", ao qual é praticamente impossível o Escritor manter-se surdo. O pacto, agora democratizado, ressurge como solução digna para ambas as partes. Afinal, se a "outra" alternativa é a proliferação da maldade gratuita, talvez ainda seja melhor garantir um espaço para Mefisto nesse mundo.

27 de abril de 2012

Carta do (e)leitor (26/04/2012)


Da seção CARTA DO LEITOR, "O Vale", 26/04/2012
GM em SJC

Chega a ser constrangedora a posição do prefeito Eduardo Cury diante da ameaça de cortes de postos de trabalho em São José. Ele simplesmente não faz nada. Muitos prefeitos ajudam a trazer e manter postos de trabalho em suas cidades, independentemente dos sindicalistas. Pesquisem a crise de Santos em 1989 e verão o que um prefeito pode fazer se quiser REALMENTE trabalhar pela cidade. É muita incompetência andar na contramão do Brasil.

Paulo Barja

26 de abril de 2012

Soneto sobre a beleza


Quero a beleza que balança, natural,
sem vãos retoques, imperfeita, inteira, plena.
Não a beleza produzida no cinema,
mas a da moça de sandália e avental.

Quero a beleza que evolui no dia-a-dia.
Aquela que o tempo só faz mais elegante.
Beleza simples, que dispensa alto-falante.
Sem correção, regime, droga ou cirurgia.

Quero a beleza sem batom, beleza calma.
Não a inventada: a descoberta, mais real.
Beleza boa, paz e amor, de corpo e alma.

Beleza viva: pôr-do-sol no fim da tarde.
Beleza assim, cheia de luz, nunca é banal,
é pura, é zen, só faz o bem e nunca arde.

Paulo Barja 

obs.: este soneto é parte integrante do Cordel Joseense "Sonetos de Amor & Cuidados",
mas pode e deve ser fruido de modo totalmente independente

25 de abril de 2012

Carta do (e)leitor (25/04/2012)


Da seção CARTA DO LEITOR, "O Vale", 25/04/2012

Centro de SJC
   Em relação à reportagem do último domingo do jornal O Vale sobre projetos da Prefeitura de São José dos Campos para recuperar as praças do centro, considero importante que se melhore a qualidade de trabalho para os camelôs e a qualidade do comércio para a população do centro.
   Mas enquanto isso o Cine Teatro Benedito Alves continua fechado e o novo Teatro Municipal é motivo de piada em todo o Brasil. É caso único de Teatro INVERTIDO, consumindo verba milionária da cidade.
   Pergunto: quem foram os beneficiados até agora com o Teatro INVERTIDO? Eis um tema que merece investigação aprofundada. 
Paulo Barja

21 de abril de 2012

Pinheirinho - Análise apartidária


PINHEIRINHO - Analisemos os fatos sem partidarismos:

1) O Pinheirinho tinha dono. Será? Ó que se sabe é que até o início dos anos 70 era do governo do Estado de SP. A "posse" de Naji Nahas, anunciada em 1981, é questionável juridicamente;

2) Nahas, SE era proprietário, NUNCA poderia ficar devendo TODOS os impostos durante estes 31 anos. A dívida chegou aos DEZESSEIS milhões de reais, só que o prefeito Eduardo Cury (PSDB) deu DESCONTO a Nahas agora em 2012, abaixando a dívida para pouco menos de 14 milhões;

3) Além disso, a prefeitura gastou (dados oficiais) outros 14 milhões na "operação Pinheirinho", somados a outro tanto do Governo do Estado com pms etc;

4) A Constituição Federal arbitra a propriedade dizendo que esta precisa ter função social.
Conclusão: o Pinheirinho, hoje, pode ser da prefeitura ou do Estado, mas nunca de Naji Nahas. Assim, está mais que na hora de cobrar a PROMESSA feita pelo próprio prefeito em agosto/2011, quando ele disse em entrevista (gravada): "Agora que o povo do Pinheirinho está organizado, vamos regularizar, só que é necessário paciência pois o processo é longo e pode demorar alguns anos".

19 de abril de 2012

UNIVAP sedia palestra com o autor do livro "PRIVATARIA TUCANA"

O papel da universidade é sediar e estimular o debate político aberto a toda a sociedade. Neste 19 de abril, às 19h, a UNIVAP sedia a palestra-debate com o autor do livro "Privataria Tucana". Os organizadores do evento estão de parabéns, e toda a sociedade joseense está convidada!

12 de abril de 2012

Refletindo sobre Arte


(para pessoas inspiradoras: Adriana Barja, Eduardo Okamoto, Jair Alves, Tin Urbinatti e tantos outros que são "artistas" porque são "humanos")


  "O teatro não é revolucionário em si mesmo, mas certamente pode ser um excelente ensaio..." (BOAL)

 "Não digam: 'Este homem não é um artista!' porque, se vocês puserem tamanha barreira entre vocês e o mundo, vocês ficarão fora do mundo; se não lhe derem o título de artista, talvez ele, a vocês, não lhes dê o título de homens (...) por isso digam: É UM ARTISTA PORQUE É UM SER HUMANO." (BRECHT)

  A Arte não é revolucionária em si - pode vir a ser um ensaio (importante) para uma revolução. Mas, se "treino é treino e jogo é jogo", não se deve querer que a Arte (o treino) esteja acima da Vida (o jogo real). Assim, não há espaço para arrogância, muito menos para a (falsa) divisão das pessoas em "artistas" e "outros".

 
 
*  *  * 
 
 
"O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres
não passam de meros atores." (SHAKESPEARE)
"O homem é um animal político."  (ARISTÓTELES)

  O ser humano é um ser político. O ser humano é um ser artístico.
  O ser humano também é um ser social: não pode fazer só para si.
  Como aquele-que-faz-política, aquele-que-faz-arte é um servidor.
  Quando consciente disso, tem a vantagem de poder escolher a quem serve.
 
 
*  *  *


"Não se entra no mesmo rio duas vezes." (HERÁCLITO)

  Se Arte é ensaio (como diz Boal), quem faz Arte é aquele que treina, ensaia, trabalha: o operário em construção
  Não nasce pronto. Não fica pronto, pois não é produto.
  Não se entra na mesma peça duas vezes. Não se entra na mesma Vida duas vezes...

Sobre o fazer artístico atual

(para Jair Alves e os Macunaímicos, com um abraço)

   Acompanhando debates recentes e importantes no Portal Macunaíma, atrevo-me a fazer aqui uma breve lista do que considero fundamental pra gente que trabalha com arte:
1) Respeito ao público (antes, durante e após o espetáculo);
2) Estar aberto a sugestões (generosidade no falar e no ouvir);
3) Tentar exercitar pensamento-e-prática que possam ir além das (surradas) dicotomias: “erudito x popular”, “palco x rua” etc. Há o que apreender (e aprender, mesmo) nos diversos campos.
   Exemplifico: como escritor de cordel, busco aprender e apreender tanto com a mordacidade de um Leandro Gomes de Barros quanto com o lirismo de um Drummond. Não contraponho um a outro, nem me interesso muito em calcular um eventual “índice de revolução” na obra de cada um deles.
   Por sinal, preparem-se para um “choque de realidade”. Prontos? Aqui vai: Michel Teló (Ai, se eu te pego... te quebro a cara) já entrou na parada de sucessos dos States! Azar dos americanos: é o contra-ataque da mediocridade brazuca.
   Por que trago isto aqui? Porque este fato da vida real, por incrível que pareça, aponta um possível caminho para nós:

Busquemos uma Revolução da Qualidade!

   Vamos levar sonetos e música medieval para as nossas feiras, e cordel para os colégios e universidades! A qualidade será nossa bandeira.
   Sejamos intransigentes no respeito à vida e à arte. Viva a Revolução...

8 de abril de 2012

Teatro "Como a Gente Gosta"


Chegando da Curitiba com belas lembranças na bagagem... da família (sempre!)  e do Teatro:


Abaixo, a ligação direta para o texto que escrevemos sobre a peça:

Porque o que é bom tem mais é que ser divulgado mesmo: viva o Teatro!

O Velho Duque da vez, entre suas filhas (Rosalinda/Mariana e Bebel, a tímida)

5 de abril de 2012

O sentido da dor em cena


   Acho que estamos de acordo: seja qual for a linguagem, urge buscar um sentido para a sensação de vazio e para a dor em cena.
   Para que esta vá além de dor vazia, "encenada".
   E, se é verdade que isso pode surgir a partir das terras árabes, até mesmo em terras joseenses (o prefeito aqui é um Cury, por sinal) é possível encontrar situações de dor que podem sensibilizar realmente o artista, para que este sensibilize o público.
   Penso que essa seria uma nobre função da arte: tocar aquele que muitas vezes não é (mais) tocado pelos fatos cotidianos, porque perdeu a noção do tanto que há de dor ao seu redor.
Por sinal, isso foi brilhantemente conseguido com o trabalho de Eduardo Okamoto, "Agora e na Hora de Nossa Hora". Artista exemplar, aliás, ao terminar o debate assumindo que o trabalho (com o qual já rodou o mundo) é, sim, um trabalho "em progresso", "em construção".
   Não poderia ser diferente: afinal, como disse Vinícius (trazido também brilhantemente por Tin Urbinatti), somos todos OPERÁRIOS EM CONSTRUÇÃO.

2 de abril de 2012

Questões nada bufas

(texto publicado originalmente no Portal Macunaíma: "Questões nada bufas")


   Tendo terminado há pouco a Mostra Joseense, venho até aqui retomar algumas questões bem colocadas durante a Mostra e que podemos ver nas críticas aqui publicadas. Tivemos contato com obras “de baixo custo e alto poder de alcance”, como AQUI TREM, por exemplo. E creio que acabamos de ver o outro lado dessa história/debate. Trata-se do "MISTÉRIO BUFO" que, a meu ver, perde-se no que, em Análise do Discurso, poderíamos chamar de "silenciamento pelo excesso". Muita produção, muita canção e texto mas, por fim, a pergunta que não quer calar: a que, ou a quem, serve tudo isso?
    Ressalto que a pergunta é ainda mais importante quando se constata o inequívoco potencial do time reunido para a
montagem.
   Certamente, qualquer análise "técnica" aqui seria descabida (do tipo: belíssimo piano ao vivo porém fora de sincronia com a voz em alguns momentos), face a questões maiores e mais prementes. Arrisco-me a colocar aqui algumas delas:
   1) Acho que vivemos em tempo em que é absolutamente necessário questionar o papel dos palavrões no discurso (seja ou não cênico). Como dizia o grande poeta José Paulo Paes, o palavrão (e sei que é curioso admitir isso) é uma importante instituição, que por isso mesmo não pode ser utilizada "a torto e à direita" (não há erro de digitação aqui). O uso indiscriminado gera um esvaziamento do discurso, e o palavrão despejado perde o caráter (que poderia ter) de revolta justa e plena de sentido, para cair numa vala comum que, para dizer o mínimo, não é transformadora – e entretém tanto quanto o “Ai, se eu te pego” que já somos obrigados a aturar fora do teatro.
   2) Qual a "real crítica que sobra
" quando se mistura indistintamente o papa, o nazismo e Che Guevara no mesmo saco de pancadas (ou “saco de merda”, para ficar no linguajar da montagem)? Aqui a coisa pega mesmo, pois toda atividade humana é, queiram ou não, política. Assim, o roteiro do “Mistério Bufo” sugere uma generalização do tipo “todas as ideologias são a mesma porcaria” – generalização essa que tem servido de alicerce e escudo para justificar o que temos de píor no cenário político. Passar recibo nesta visão de que “todos são errados por igual e o inferno é uma belezinha comparado com o que temos aqui” é inaceitável. Saindo do teatro, isso equivaleria a abraçar com fé essas Marchas Contra a Corrupção (marchas-bufas?) promovidas por corruptos e que atiram somente numa direção: a direção dos outros (já que o inferno são os outros, como diria o escritor).
   Enfim, esperei pacientemente o término da sessão na expectativa de um debate que seria importante e cuja ausência me levou a escrever aqui, propondo essas questões que são, a bem dizer, de todos nós, e de todos os dias.
    Deixo aqui um abraço ao trio de debatedores que muito nos enriqueceu nestes dias joseenses. Segue o diálogo!
P.Barja

1 de abril de 2012

"Agora e na Hora de Nossa Hora"


de/com Eduardo Okamoto. A peça, apresentada ontem aqui em São José dos Campos, é tão marcante que ficamos uma hora debatendo depois, e praticamente NÃO se falou de teatro (como bem apontou o Jair Alves). Esse talvez seja o mérito principal (dos muitos) desse trabalho: trazer para a sociedade a discussão sobre a situação dos moradores de rua - em particular, as crianças e adolescentes. 

Porque a Verdade está lá fora, mas precisa reverberar dentro de nós.

   A peça tem mais uma apresentação hoje (01/04/2012), às 19h, no CET/Parque da Cidade. Para quem sabe o momento que vivemos aqui em São José dos Campos, com tanta intolerância e ódio, ver é quase uma obrigação.


Obs.: vale também pra quem não se importa com nada disso (o que acho difícil) mas quer ver um trabalho artístico fortíssimo. Alô, sr. prefeito!