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28 de setembro de 2017

AMOR, SEMPRE


mesmo para quem me odeia
eu tento mandar amor.
Isso não é ser do contra:
na boa, é ser "a favor"

a favor do entendimento
a única solução
para que esse planetinha
não sofra destruição

Coreias e Norteaméricas
acham que é tudo na briga
porém a revolução
não é feita com intriga

é na base dos encontros
não tô falando de sexo
digo só que nesse mundo
há côncavo e há convexo

quem vai salvar esse mundo
é a porra do afeto, mano
café com prosa da boa
pra desfazer todo engano

é reconhecer beleza
venha de onde vier
não precisa botar cerca
nem cheirar um pó qualquer

tem gente boa no mundo
isso sempre me impulsiona
e a conclusão é só uma:
AFETO REVOLUCIONA
P.R.Barja

29 de novembro de 2014

De Crença e Descrenças (uma crônica de 1994)


   Relembrando a época em que comecei a fazer catecismo percebo que, depois de algum tempo, tornei-me extremamente permeável à religião católica. Ou seja, comecei a gostar de ler a Bíblia e pensar em temas religiosos: Deus, a Criação, o Universo... Obviamente, por volta dos quinze anos, passei pela crise de rebeldia adolescente que me fazia renegar toda e qualquer crença, mas arrisco dizer que, das meditações surgidas na infância até a graduação em física, foi apenas um pequeno passo.

   Hoje, parece-me claro o quanto de crença temos nas mais diversas áreas do nosso (não tão) vasto conhecimento: filosofia, psicologia, pedagogia, biologia, política (votar é, em última análise, um ato de fé em pessoas e sistemas – e não se confunda isso com fanatismo, que também existe em todas essas áreas). A física é, por ironia, a área do conhecimento humano historicamente mais atolada em crenças as mais estranhas possíveis. Quando digo “por ironia”, refiro-me à legião de físicos que se dizem ateus. Como e por que acreditam, então, que a possível descoberta do último quark previsto na teoria desvenda de uma vez por todas a já milenar busca pelos “blocos fundamentais da matéria”?

   Este texto é de 1994. Qualquer pessoa pode dizer: “daqui a 50 anos, será descoberta a prova experimental da existência dos subquarks...”

   Na verdade, Deus pode estar murmurando isso agora mesmo, entre uma risada e outra.

   Outro exemplo de crença dogmática no âmbito da física diz respeito ao Big Bang. Até mesmo físicos não conseguem suportar o peso de questionar tudo eternamente e cristalizam dogmas como a ocorrência do Big Bang, “o início de tudo”. Mas há pesquisadores que defendem a idéia de um Universo cíclico, com uma sucessão de Big Bangs onde cada um marca ao mesmo tempo o fim de um ciclo e o início de outro (soube desta teoria através de uma palestra do prof. Ross Douglas, do IFGW/Unicamp). Mesmo Stephen Hawking (autor do best-seller “Uma Breve História do Tempo”) já defendeu e atacou a teoria do Big Bang, em diferentes momentos.

   Por tudo isso, pode não ser sensato concentrar toda a fé só na ciência ou só na religião. Nesse sentido, vale citar a abertura do “Evangelho segundo o Espiritismo” (organizado por Allan Kardec, Ed. IDE, 1978, 142a. edição, S.Paulo): “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”

   Quanto à velha questão “Determinismo x Incerteza”: o fato de existirem leis da física não determina de maneira absoluta a evolução de todos os seres; o que as leis fazem é simplesmente imprimir limites para os acontecimentos.

   Nossos movimentos são determinados pelo nosso livre arbítrio e executados de acordo com os limites impostos pelas leis físicas. Assim, Deus não joga dados: ao que parece, ele criou dados e regras para que nós possamos jogar, conforme nossa consciência e vontade.

P.R.Barja

24 de outubro de 2014

Regulamentação da mídia (colaborando para o debate público)

   Para começar, vejamos o que diz sobre liberdade de expressão o Capítulo I da Constituição Federal (1988), no artigo quinto:
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...)
IX – é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
(...)
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.

   Pronto. Agora vamos lá: o que é a tal “regulamentação da mídia”, que existe em tantos países e no Brasil não sai da gaveta?
   Basicamente, seria um tipo de regulamentação para evitar concentração excessiva de meios/mídia sob controle de “poucos proprietários". Em outras palavras: busca evitar a concentração de muitos veículos de mídia na mão de um único grupo ou família.
   No contexto brasileiro, entendo que limitar a alta concentração hoje existente em torno das poucas e poderosas “famílias da mídia" no Brasil seria justamente uma forma de garantir a liberdade de expressão, que nossa Constituição de 1988 defende mas, na prática, ainda não existe. Prova: os casos frequentes de jornalistas demitidos por grandes grupos hegemônicos pela simples ousadia de “pisar fora da linha editorial” (estou usando um eufemismo). Assim, a pressão ideológica sobre o profissional da comunicação pode ser vista como subproduto da concentração da mídia.
   Há um Projeto de Lei (PMDB/BA) para substituição da Lei da Imprensa que voga desde a ditadura militar. Clique AQUI para ver a respectiva ficha de tramitação. O Projeto foi apresentado em 1991. Detalhe: NÃO foi votado, debatido, apreciado - estamos em 2014!
   Minha leitura, simples: os congressistas temem as “famílias da mídia”. Vejamos outras leituras, a partir da matéria da Revista FORUM, ed. 146:


Segue um trecho e alguns depoimentos presentes na matéria mencionada:

O Fórum Nacional Pela Democratização dos Meios de Comunicação (FNDC) visa colher 1,3 milhão de assinaturas no intuito de propor um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para a regulamentação da comunicação social eletrônica do país, além de levar o debate à sociedade.

Ivo Freitas (coletivo Mídia Ninja): diz que não houve avanço político no que diz respeito à regulamentação. “Mas não é por falta de vontade, tanto do governo em si como dos alternativos da mídia. A tentativa de regulação dos meios de comunicação ainda sofre bastante oposição das famílias detentoras das concessões. O que se pode dizer é que a discussão avançou”.

Mayrá Lima (conselho diretor do Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social): “A radiodifusão segue monopolizada e as famílias que controlam o conjunto da grande mídia no Brasil continuam usufruindo das concessões públicas sem que haja um mecanismo em que a sociedade possa fiscalizar possíveis violações de direitos. Carecemos de um regramento que impeça a propriedade cruzada, garanta pluralidade e diversidade nos meios de comunicação.”

FORUM: Por que entra e sai governo e as legislaturas, sucessivamente, não fazem o debate em torno de um novo marco para a mídia?

Conceição Oliveira (blog Maria Frô): “Não avança porque o Congresso é feito por políticos que dividem este monopólio midiático. Collor, Sarney, Renan [Calheiros], família de Antônio Carlos Magalhães dividem concessões de rádio e TV retransmitindo a Globo, vários têm jornais etc.

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Outro artigo interessante (e esclarecedor) sobre o tema está disponível aqui:

Diário do Centro do Mundo:

P.R.Barja

15 de março de 2014

Para debater livros, cultura e memória - III

Última parte da coletânea de trechos curtos do livro Não contem com o fim do livro (RJ: Record, 2010), de U.Eco, J.C.Carrière e J.P.Tonnac, para fomentar o debate sobre cultura, livros, tecnologia e memória, dentro e fora da sala de aula.


"O Mahabharata é a primeira obra escrita. A história moderna do livro também começa com uma bíblia."
(J.C.Carrière)




"Atravessamos uma época complexa, incerta, em que o primeiro dever de todos, sem dúvida, na medida do possível, é estimular as trocas entre os saberes, as experiências, os pontos de vista, as esperanças, os projetos."
(J.C.Carrière)

5 de março de 2014

Para debater livros, cultura e memória - II

Seguimos apresentando pequenos trechos do livro Não contem com o fim do livro (RJ: Record, 2010), de U.Eco, J.C.Carrière e J.P.Tonnac, para fomentar o debate sobre cultura, livros, tecnologia e memória, dentro e fora da sala de aula.


"O que a internet nos fornece na verdade é uma informação bruta, sem nenhum discernimento, ou quase isso, sem controle das fontes ou hierarquização. Ora, todos nós precisamos não apenas verificar, como dar sentido, isto é, organizar, colocar seu saber num momento do seu discurso. Mas segundo que critérios?" - J.C.Carrière

"Estávamos convencidos de que, com a globalização, todo mundo pensaria da mesma forma. Temos um resultado contrário sobre todos os aspectos: (a globalização) contribui para o esfacelamento da experiência comum." - U.Eco


"Quando você se contenta em aplicar as regras, toda surpresa, todo brilho, toda inspiração se evapora. É a lição que tento passar, às vezes, aos jovens cineastas: ´Vocês podem continuar a fazer filmes, isso é relativamente fácil, e esquecer de fazer cinema.' " -  J.C.Carrière


"Quando o Estado é excessivamente poderoso, a Poesia se cala." - U.Eco

"Talvez tenhamos saboreado na escola uma literatura demasiadamente filtrada e, por esse motivo, carente de sabores impuros." - J.C.Carrière

"O livro é como a roda. Uma vez que você o inventou, não pode ir mais longe." - U.Eco

"Shakespeare sem sua obra não seria ninguém. A obra de Shakespeare sem Shakespeare permaneceria a obra de Shakespeare." - J.C.Carrière





2 de março de 2014

Para debater livros, cultura e memória - I

Esta postagem visa apresentar trechos do livro Não contem com o fim do livro (RJ: Record, 2010), de Umberto Eco, Jean-Claude Carrière e Jean-Philippe de Tonnac. Nosso intuito é, a partir disso, fomentar o debate sobre livros, tecnologia e memória, dentro e fora da sala de aula.


"O que chamamos Cultura é na realidade um longo processo de seleção e filtragem. Coleções inteiras de livros, pinturas, filmes, HQs, objetos de arte foram assim açambarcadas pela mão do inquisidor, ou desapareceram nas chamas, ou se perderam por simples negligência. Era a melhor parte do imenso legado dos séculos precedentes? Era a pior? Nesse domínio da expressão criadora, recolhemos as pepitas ou a lama?"  -  J.P.Tonnac

"Sempre que surge uma nova técnica (...) ela se pretende orgulhosa e única (...) como se preparasse para varrer tudo que a precedeu (...) ao passo que, na realidade, é o contrário que acontece. A técnica não é de forma alguma uma facilidade."  -  J.C.Carrière

Nada mais efêmero do que os suportes duráveis - Este é um dos temas centrais do livro (e título de um capítulo). A incessante aceleração da produção de novidades tecnologias leva a chamar de obsoleto algo que era novo "no trimestre anterior". 
   O problema se aplica até mesmo às coisas mais banais. Anos atrás, sob o título "Vale a Pena Ver de Novo", uma emissora de TV reprisava telenovelas de décadas passadas. Agora as novelas reprisadas são aquelas produzidas 3 ou 4 anos atrás. São as novas antiguidades!
   Por sinal, enquanto compilo estas notas, acabo de jogar no lixo 2 cds que se tornaram obsoletos em menos de 5 anos: traziam softwares irremediavelmente ultrapassados.

(J.C.Carrière, in "Não contem com o fim do livro",
RJ: Record, 2010)

- Se agora dispomos de tudo sobre tudo, sem filtragem, de uma soma ilimitada de informações acessíveis em nossos monitores, (...) o que nos restará para conhecer? (...) O que devemos aprender ainda? (Carrière)
- A arte da síntese. (Eco)

Segundo Eco, caminhamos rapidamente para o ponto em ninguém mais será confiável. Isso porque todos poderão ter feito suas publicações baseados ao menos parcialmente na internet, que mistura verdades e mentiras com a mesma profusão: "Tudo ficará "sujeito à confirmação".


"O saber é tudo com que somos entupidos e que nem sempre tem uma utilidade. O conhecimento é a transformação de um saber numa experiência de vida. (...) Só nos resta - que consolo - a inteligência"  -  J.C.Carrière

15 de janeiro de 2014

Estatística & Cidadania (III) - Analise, em vez de desprezar os dados



   Em vez de desprezar os dados, devemos sempre exercitar a análise crítica. Não se pode realizar um levantamento estatístico "querendo muito provar que se está certo" porque, em última análise, isso pode levar pessoas a conclusões bastante equivocadas. 
   Segue um exemplo de duas notícias (divulgadas nesta semana, em sítios da internet e imprensa falada e escrita) e duas leituras dos mesmos dados:

Informações:
1) Desemprego cai para 5,3% em agosto
2) Bolsa Família passa de 3.583.000 famílias assistidas em 2003 para 13.751.000 em 2013

Interpretações:
1) Gente adepta do "quanto pior, melhor" tem reclamado por aí contra esses dados. A acusação: estas seriam notícias contraditórias, pois o aumento de bolsas seria tradução do aumento do desemprego. Assim, estes "opositores das notícias" concluem que "os dados não são confiáveis e ao menos um deles deve ser ser "engodo" (sim, foi essa a palavra que li).
2) Bem mais simples: o nome disso é INCLUSÃO SOCIAL. Temos mais pessoas empregadas e menos pessoas alijadas da sociedade.

Discussão:
Antes de mais nada, é bom dizer que as duas notícias estão associadas ao conceito de derivada, importantíssimo em Cálculo e que representa a taxa de variação.
Por definição, a inflação é a taxa de variação do preço ao longo do tempo*. Assim, "inflação zero" obviamente não significa nada de graça (ah, quem dera...!), mas simplesmente quer dizer que não ocorreu variação de preço no intervalo de tempo considerado.
Já sobre o número de famílias atendidas num programa, uma informação importante diz respeito, também, à variação: se o programa foi mantido, ampliado ou reduzido ao longo da década (a notícia se refere ao período 2003-2013).
   Como o número de atendidos em 2013 foi maior do que o atendido em 2003, temos o que se chama de derivada positiva: ampliação do programa ao longo da década.
   Defender a tese do "engodo" é ignorar uma diferença fundamental na escala de tempo dos dados...! Vejamos:
- A notícia 1 refere-se a uma escala MENSAL
- A notícia 2 refere-se a UMA DÉCADA.

Sempre há quem goste de ajustar os dados à sua própria visão das coisas. Chega-se ao cúmulo de sugerir desprezar os dados...! Nas nossas aulas de Estatística aprenderemos a NÃO desprezar os dados e fazer, SIM, análise crítica. Abraços!

Paulo Barja

* derivada negativa, em inflação, significa redução de preços - a chamada DEFLAÇÃO. É algo particularmente comum quando se trata de produtos agrícolas entrando em fase de maior produção: "o preço do tomate caiu 20%" e assim por diante. Tentem comprar morango em julho e em dezembro e avaliem se há ou não diferença no preço...

13 de janeiro de 2014

Estatística & Cidadania (I) - Imposto de Renda no Mundo

   Um rápido balanço destes primeiros anos de atividade aqui no blog mostra que poesia é a palavra-chave mais frequente (sempre esteve entre as 3 primeiras). Até aqui, nenhum reparo a fazer, já que poesia cabe perfeitamente dentro de Arte e Cidadania (lema/tema do blog).
   No entanto, considerando que sou professor (de Estatística Básica, inclusive), a partir de agora pretendo postar por aqui também dados/tabelas/gráficos que sirvam como base para discussões sobre Cidadania.
   Neste espírito, começo disponibilizando uma tabela com algumas das maiores alíquotas de Imposto de Renda no mundo (dados de dez/2013). O tema é interessante à medida que se alastra, por todo o mundo e no Brasil, a discussão sobre taxações adicionais de grandes fortunas (que permitiriam, por sua vez, reduzir significativamente a carga de impostos sobre as classes média e baixa).


   É importante (essencial, eu diria) ressaltar que, em boa parte destes países, a alíquota máxima só atinge uma porcentagem realmente pequena da população. Em particular, no caso da proposta mais radical de taxação até 2013 (a francesa, com 75% de alíquota), esta porcentagem só é aplicável a 1500 pessoas físicas na França (cuja população beira atualmente os 70 milhões de habitantes): cerca de 0,002% por cento da população!
   Complemento a postagem com relatos resumidos de duas iniciativas (ocorridas nos EUA, vejam só!) no sentido de aumentar a alíquota do imposto sobre "mega-ricos" (a leitura dos textos a seguir deixa claro o assunto). 
   Esclareço que a escolha de exemplos americanos é proposital e serve para evidenciar o fato de que a campanha pela redução das desigualdades sociais é universal e, ao contrário do que muitos pensam, não está necessariamente associada a comunismo, socialismo, anarquismo & outros "ismos".



30 de abril de 2013

Desmontando Falácias (ou "Pela maioridade nos argumentos")


Recebi um email repassando “argumentos do prof. Adilson Dallari” a favor da redução da maioridade penal. Infelizmente (mas não surpreendentemente), o autor do email não revela os emails dos demais destinatários, impedindo assim que se abra um debate real. Por esta razão, tomo a liberdade de trazer a discussão para este blog:
Quem perde e quem ganha com a redução da idade mínima de responsabilidade penal?

 
1) Primeiro argumento falho do prof. Dallari:
“A Constituição Brasileira (...) reconheceu expressamente que aos 16 anos o menor tem plena capacidade de discernimento, a ponto de poder eleger todos os mandatários políticos (...) Logicamente, em termos de lógica formal, algo não pode SER e NÃO SER ao mesmo tempo. Assim, ou bem se tira a capacidade eleitoral ou se confere a responsabilidade penal.”

Resposta:
- Em primeiro lugar, o sr. coloca em pé de igualdade duas questões diferentes (e independentes): maioridade penal e voto facultativo para cargos eletivos. Vejamos apenas alguns aspectos cabais dessa diferença, demonstrando a clara ASSIMETRIA da lei no que se refere à maioridade:

a) Maiores de 18 anos são OBRIGADOS a votar, enquanto os menores (a partir dos 16 anos) têm o direito de ESCOLHER se querem ou não votar;
b) Mais grave que isso: menores PODEM eleger todos os mandatários políticos, porém NÃO PODEM ser eleitos para nenhum desses cargos!

Só isso já é o suficiente para se pensar, não é? Porém, como físico, preciso também me contrapor ao uso da lógica formal aqui. De fato, a lógica formal jamais poderá ser utilizada como critério da verdade, uma vez que é possível chegar a conclusões absurdas utilizando lógica formal. Tudo depende dos pontos de partida, sobre os quais muitas vezes não há concordância alguma. Em alguns casos há mesmo uma concordância quanto à FALTA de validade das premissas iniciais, porém a lógica formal é insensível à mentira e permite concluir que “as baleias voam”, só para citar um exemplo pescado rapidamente na internet. Em resumo: lei alguma, decisão alguma deve ser baseada simplesmente na (muita vezes falsa e errônea) lógica formal.


2) Segundo argumento falho do prof. Dallari:
“A capacidade política aos jovens de 16 anos foi um golpe do PT, pois o jovem tende a ser generoso, se preocupa com a desigualdade e acaba acreditando nas maravilhas do socialismo. Só com o amadurecimento e a experiência ele vai perceber o engano, mas até aí já votou várias vezes no PT.”

Resposta:

a) EPA! Aqui o sr. está francamente NEGANDO ao jovem sequer a possibilidade de ter “amadurecimento e experiência” suficientes para votar “bem”, na sua opinião? Lamento informar que o sr. acaba de se contradizer em relação ao ponto principal da discussão colocada pelo sr. mesmo no item anterior. Brincando, eu poderia até dizer que “encerramos o jogo aqui”. Mas há muito a se dizer, ainda;

b) O sr. acha mesmo que “generosidade” e “preocupação com desigualdade” são ENGANOS? Só posso lamentar pelo sr.;

c) O sr. acha mesmo que os jovens de 16 anos são “petistas por natureza”? Conheço um bocado de gente da juventude tucana que vai ficar brava com o sr. por isto. Conheço também a juventude anarquista de minha cidade, com a qual me identifico, e que deve estar rindo do sr. nesse exato momento;

d) O sr. realmente acredita que o PT, como um todo, ainda é francamente socialista? Parabéns, o sr. crê mais no PT do que uma parte dos eleitores do partido, que se move por questões mais imediatas e concretas do que “ser ou não ser socialista”.

e) O sr. sustenta que só os imaturos e inexperientes votam no PT? “Depois percebem o engano...” – Lamento, sr., mas minha mãe e a maior parte dos docentes universitários com os quais convivo diariamente desmentem sua afirmação. Não estou julgando partido algum aqui, apenas mostrando a falha do seu argumento.

 
3) Terceiro argumento falho do prof. Dallari:
 
“Quem não foi socialista na juventude, não tem coração; quem permanece socialista na maturidade, não tem cérebro.”

Resposta:

Como diria Itamar (o compositor, não o ex-presidente), “Chavão abre porta grande...” – com a triste reprodução deste chavão aqui, o sr. diz, de uma só vez:

a) que a juventude de direita não tem coração;

b) que socialistas experientes não têm cérebro;

c) pior de tudo: que anarquistas não tem nem cérebro nem coração.

Puxa, o sr. não deve ter coração para falar desse jeito...

 
4) Quarto argumento falho do prof. Dallari, acompanhado de um acerto (que bom!):
“Alguém duvida que os jovens delinquentes, revoltados, que se consideram vítimas da sociedade e que não respeitam os valores burgueses (como vida e propriedade) são potenciais eleitores do PT? (...)
“Tudo bem: eu até concordo que o mais importante seria desenvolver MUITO a educação, mas uma coisa não impede a outra. Educação e responsabilidade não são incompatíveis: ao contrário: são complementares.”

Resposta:

Juntei o quarto item com o primeiro acerto para não ter que dizer “vamos para o quarto”, uma vez que não pretendo correr o risco de ser mal interpretado (eu até dividiria com o sr. uma mesa de bar, mas nunca um quarto).
Creio que o sr. comete um erro grave ao afirmar que a VIDA é um “valor burguês”. Não, prezado sr., a VIDA é o mais alto valor humano, independentemente de corrente política ou partidária. Talvez isso até o surpreenda, mas essa verdade vale para os pobres, os burgueses e os ricos aos quais os burgueses servem.
Finalmente, sobre educação e responsabilidade serem complementares: CONCORDO! Acho inclusive que são uma única e mesma coisa. Como exigir responsabilidade de uma criança de 2 anos, por exemplo, se lhe falta educação? Ainda quanto à responsabilidade, sugiro ao sr. o estudo da prática da “justiça restaurativa” – essa, sim, é uma prática que educa, dando responsabilidade. Bem melhor que esquecer os maiores e menores problemas numa cela e esperar que ocorra um milagre.

Atenciosamente,
Paulo Barja

19 de abril de 2012

UNIVAP sedia palestra com o autor do livro "PRIVATARIA TUCANA"

O papel da universidade é sediar e estimular o debate político aberto a toda a sociedade. Neste 19 de abril, às 19h, a UNIVAP sedia a palestra-debate com o autor do livro "Privataria Tucana". Os organizadores do evento estão de parabéns, e toda a sociedade joseense está convidada!

10 de outubro de 2010

Contribuição ao debate sobre Política Cultural em SJC (por Andréia Barros)

Também quero colocar minhas singelas opiniões, embora não tenha participado do encontro/debate organizado pelo Estivale e pelo SESC, já que estava acompanhando a apresentação do “Reis do Baralho”, com nossos amigos André Braga, Marcelo Moreira e Beto Quadros, no CAC Walmor Chagas, previamente marcado por coincidência no dia 07/10.

Na realidade, como milito na área cultural de São José dos Campos desde o primeiro Curso Livre de Teatro, realizado pela Fundação Cultural e que trouxe para a cidade os mais importantes profissionais de teatro da década de 80, e desde então, há 20 anos atuo, resisto e persisto no teatro joseense, penso que às vezes nos esquecemos que há 14 anos o PSDB assumiu a prefeitura e governa nossa cidade e isso faz a grande diferença no estabelecimento de políticas públicas de cultura.

Na esfera política federal, por exemplo, houve uma mudança de paradigmas na área cultural e os resultados são visíveis.

Muitos dos que hoje nos auxiliam nessa discussão, à época tinham 10 ou 12 anos de idade e podem, de repente, considerar que fazemos de conta que nada acontece.

Quero lembrar aos leitores desse blog, assinado pelo mestre Paulo Barja (que precisou sair de Santos para “descobrir” São José dos Campos), que é sempre prudente rever a história para podermos formular pensamentos e recuperarmos “pedaços” da recente história de nossa cidade, principalmente no que diz respeito às conquistas históricas que temos em nossas mãos, como é o caso da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.

A FCCR foi criada em 1986 como uma das mais “progressistas e democráticas” fundações do Brasil e que atuava por meio de comissões setoriais que elegiam seus coordenadores para compor o Conselho Deliberativo da instituição, responsável pela discussão e formulação de políticas públicas na área cultural do município.

Um grupo de abnegados artistas, intelectuais, políticos e interessados da nossa sociedade, não mediram esforços para que a cidade pudesse ter uma instituição de cultura que respeitasse e valorizasse a produção local, sem perder o foco das ações que pudessem contribuir no fortalecimento e crescimento da cultura em nossa cidade, contribuindo assim, de forma efetiva, para o desenvolvimento social de todos nós.

Durante quatro anos esses artistas, principalmente, lutaram para concretizar uma idéia, que só passou a existir depois de muitas reuniões e manifestações públicas em praças e escolas de São José. Nasceu então em 1986 a Fundação Cultural.

A história é longa, mas é sempre bom relembrar, revigorar. Criada pelo então prefeito Hélio Augusto de Souza para progredir na política pública, foi erroneamente interpretada por alguns políticos e, parafraseando o jornalista Paulo Henrique Amorim, pelo “PIG” (Partido da Imprensa Golpista)! Quem não se lembra do título em um famoso jornal da cidade: “Sexo, drogas e corrupção na Fundação Cultural”.

Mas, voltemos à história. Com a morte do Hélio, assume então o presidente da Câmara, Sr. Antonio José Mendes Faria, que, na época, não se conforma e questiona constantemente porque a FCCR não poderia trazer “Chitãozinho e Xororó” para cantar na cidade? E esse pensamento ainda ocorre até hoje e foi aí, na minha visão, que começaram os equívocos.
E muitos erros e enganos foram cometidos ao longo desses 24 anos de existência e talvez, o maior deles, foi acreditarmos que a formula já estava pronta e que, a partir dali, não se fizesse mais necessária a nossa organização. Que a nossa organização era a própria Fundação Cultural.

Quando a Comissão Municipal de Teatro criou em 1990 o Grupo Teatro da Cidade (que deu origem em 1993 à Cia Teatro da Cidade), muitos foram os alertas sobre o primeiro erro dentro da instituição. Quem acompanhou e vivenciou esse período sabe que, apesar dos ótimos resultados obtidos na formação individual de cada integrante e do fantástico trabalho de formação de público, a existência de um grupo estável de teatro na entidade, significava negligenciar a existência dos demais grupos de teatro naquela oportunidade. E foi em decorrência a isso que temos hoje na cidade, importantes grupos como o Velhus Novatus, Cia Sem Máscaras, dentre tantos exemplos.

Mas porque é importante rever nossa recente história na área cultural? Para não cometermos outros erros. Para não esquecermos os protagonistas dessa história. Para não deixar de valorizar e respeitar os recentes protagonistas que chegam e nos chamam para um novo ato do mesmo espetáculo e não como coadjuvantes de um novo trabalho, o que fragiliza nossas ações.

Precisamos nos lembrar que em algumas oportunidades convocamos a cidade e o movimento cultural para dois encontros que chamamos de “Cultura em Questão” e que, nos dois encontros, foram promovidos debates com aqueles que à época pretendiam governar São José dos Campos. Nesses encontros, inclusive, já foram apontadas as futuras ações do PIG e de alguns políticos “progressistas”, mas nós ficamos pacientemente, quietamente...aguardamos...aguardamos...aguardamos.

Existem compromissos assumidos e um deles, talvez o mais importante para nós, produtores e criadores culturais, seria o Fundo Municipal de Cultura. E mais uma vez, como tantas outras, esses compromissos foram deixados de lado e nós, pacientemente, quietamente, aguardamos... aguardamos... aguardamos.

Saímos novamente à  luta. Fizemos reuniões, tentamos nos organizar, levantamos discussões, mobilizamos vereadores e elaboramos um modelo para o “nosso” Fundo Municipal de Cultura. E mais uma vez o poder nos olhou como meros coadjuvantes da cidade e nosso modelo foi para as gavetas do mesmo Prefeito que em 2004, publicamente, em um debate com a nossa participação ativa e interessada em melhorar a sociedade joseense, assumiu o compromisso de defender e criar o Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos.

O ponto principal, como reflete bem a Jacqueline, é que não existe eco entre a sociedade civil e o governo local. Esse ponto está, cada vez mais, nos distanciando de nós mesmos e, por conseqüência, está enfraquecendo nossa organização, nossa produção, nossa contribuição com o que poderíamos chamar de política cultural.

Em tempo: a nossa organização é tão fragilizada que, quando podemos expor nossa opinião, somos chamados de “curralzinho”!

Quando o Carlos Rosa diz “Somos mais importantes que a Fundação Cultural. Ela deve existir para a cidade toda e não nós para ela”, ele está absolutamente certo e coerente. Nós é que podemos ser os protagonistas da história cultural da cidade. A Fundação Cultural deve ser vista como uma possibilidade a mais de nosso trabalho e não a única fonte. Precisamos sim nos organizar para acabar com essa “grande fornecedora de tetas para os vereadores da nossa cidade” e demais políticos dessa  cidade.

Para finalizar, vamos refletir com Bertolt Brecht:

“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora, não contentes, querem privatizar o conhecimento,
a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence”

Que o poder queira fazer isso com a classe artística e cultural eu até entendo - não aceito, mas entendo. Mas, que a própria classe artística e cultural queira fazer isso com a gente, eu não consigo entender e nem aceitar.

Portanto, vamos discutir sim a questão cultural na cidade, mas com respeito e com muita propriedade.

 
Andréia Barros - Atriz, jornalista e mestre em Artes pela Unicamp.