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28 de maio de 2018

Domingo de Cidadania

(Apesar de tudo...)

   Neste domingo, ao meio dia, fui à comunidade Santa Cruz para um evento de futebol - organizado pelos próprios moradores. No caminho, passei pela maior praça da região central da cidade, onde cerca de 15 pessoas vestidas de amarelo tinham esticado uma faixa pedindo intervenção militar. Alguns apitavam. Nenhum discurso.
   Não desviei meu trajeto. Seguindo no rumo do evento comunitário, cheguei à Santa Cruz. Alto astral: os meninos recebiam as camisas dos times - cinco times, cinco cores. Vestindo a camisa da seleção espanhola, fui logo chamado de "olheiro da Espanha". Brincando, disse aos meninos que tempos atrás já havia levado "um certo Neymar" embora pra Europa. Todos sorriram. Debatemos rapidamente lances da partida da véspera, Real Madri x Liverpool. Que golaço, o segundo! E que falhas do goleiro, os outros gols... Em minutos, éramos amigos.


Os times, uniformizados
Escolas participaram

Pose para foto oficial

Artistas e apoiadores, ao lado da mesa das premiações

   Em paralelo ao futebol, iniciava-se a organização para o almoço comunitário. Tudo colaborativo, todos se ajudando e se fortalecendo. Deixei kits de cordéis para a premiação dos meninos e, junto com amigos, também alguns livros.
   Na véspera, havia ocorrido um incêndio por lá, na casa da mãe de um líder comunitário, mas todos se uniram, ajudaram (procedimentos emergenciais efetuados, estragos avaliados, planos para reconstrução) e resolveram manter o evento. Atrasou um pouco. Alguns tinham ido à comunidade de Pinheirinho dos Palmares para o lançamento da candidatura de Lula à presidência.
   No evento, conheci um jovem escritor da comunidade, que lançava seu primeiro livro. O relato autobiográfico contava os muitos apuros de alguém que ainda tinha tanto a viver e que encontrara no rap uma forma de falar sobre e para a comunidade. Enquanto conversávamos, reparei que o som ambiente apresentava raps feitos provavelmente por ele e colegas dali. No início de cada gravação, trechos de notícias de rádios locais falavam sobre supostos crimes ocorridos no interior da comunidade. Entendi na hora a denúncia. Daquele jeito, os artistas locais mostravam a todos a forma como eram vistos pela cidade - e que destoava completamente da realidade que eu conheci ali, ao vivo.

Conversa de cantadores boleiros - de vermelho, fui por alguns minutos o "olheiro da Espanha", rs

Hora dos jogos!

Torcida presente, acompanhando e comentando
Premiação literária: cordéis e livros
A comunidade, em torno do futebol: um universo riquíssimo: quadra e parquinho comunitário, arte visual, literatura...

   Com os jogos ainda acontecendo, passeamos pelas ruas estreitas e visualmente riquíssimas da comunidade. Símbolos de futebol aqui e ali, comércio alternativo, paz e limpeza. Fomos almoçar na padaria e depois nos despedimos dos colegas.

A grande vitória é participar
   Na volta, às 14h45, sempre a pé, passando novamente pela praça na região central da cidade... Vimos agora cerca de 150 pessoas, a maioria usando roupa amarela e alguns "embrulhados" em bandeiras do Brasil. Uma viatura da polícia circulava dando segurança a eles. Havia megafone, mas o único e insistente discurso era:

"Liguem para qualquer rádio! Avisem que estamos aqui.
Serve qualquer rádio. Tentem a Jovem Pan..."

   Não pude deixar de pensar no tanto que aqueles "brasileiros de bem", uniformizados, teriam aprendido sobre cidadania se tivessem visitado a comunidade Santa Cruz.

* * *

   Poderia ter acabado por ali, mas, em seguida...
   Quase na esquina de casa, um rapaz negro, forte, pedia "pelo amor de Deus" que alguém ajudasse a comprar fralda para os filhos (gêmeos) dele... Disse que havia saído da cadeia há quatro dias (após 8 anos de reclusão por homicídio) e a polícia já tinha passado por ele há alguns minutos, fazendo marcação, perguntando o que ele estava fazendo ali... Ele estava tentando juntar dinheiro para as fraldas. Tinha menos de quatro reais, às 15h. A mulher estava sentada na calçada, a uma quadra, com os filhos, no frio, no sol... Ele confessou que conhecidos tinham falado para ele roubar fraldas, mas ele não queria se sujeitar a voltar para a cadeia depois de tudo... Paguei o pacote de fraldas. Com delicadeza, ele me pediu também a nota fiscal, para provar que as fraldas tinham sido compradas. Percebam a crueldade: a sociedade punitiva faz marcação cerrada... Aquele homem simples sabia que precisaria provar sua honestidade a cada instante, a cada gesto. Após guardar a nota, ele perguntou se eu era de alguma igreja; eu disse que não. Ele então me deu a bênção de Deus.
   E eu recebi.

(Paulo R. Barja, com Claudia R. Lemes e fotos de JB, Moacyr Pinto e P.R.Barja)

22 de julho de 2012

Sarau Libertário "6 meses sem Pinheirinho"


LIBERTÁRIOS, vamos para as ruas
Sem bandeiras: não estamos sós!
E que sejam as palavras nuas
Tradução disso que existe em nós:
Ato e Arte pra denunciar,
Verso e Música pra questionar
com a força dessa nossa voz.
P.R.Barja

Textos de Mayara e Paulo...

...músicas de Adoniran e Zé Geraldo...


... e a indignação de TODOS NÓS

Que nossos versos e vozes ajudem na reconstrução...

... de uma cidade realmente de todos - sem exceção.
"É preciso estar atento e forte!"

6 de setembro de 2011

A Vida é a Arte do Encontro (Festivale 2011)

  A coisa mais bonita e importante da Vida são esses momentos fantásticos de encontro e compartilhamento: arte, afeto e generosidade, nessa busca pela construção de um mundo melhor. Foi uma grande alegria receber a Cia Buraco d´Oráculo e a peça "Ser Tão Ser" aqui em São José dos Campos. Disse muito pra gente, nós que estamos estudando pra fazer essa ponte entre a Seca da Alma e a Seca do Sertão. E, pra lidar com isso, só mesmo convocando a Palavra e a Música, o Verso e a Voz...

Irmanados: contra a Seca da Alma, ARTE NA RUA!
Na Rodoviária Velha de São José, arando novos Campos para a Arte

  Que BOM poder encontrar, falar poesia e cantar junto com Edmilson Santini, Santos Chagas e o pessoal do Buraco D´Oráculo!

Cantando para celebrar o tempo-espaço público do encontro

  Com direito a cantar "Asa Branca" na Rodoviária Velha, bem em frente ao Banhado - área de proteção ambiental de São José dos Campos para a qual estamos chamando a atenção através da poesia de cordel.

Parceria que flui, natural... Edmilson e Santos Chagas não se viam há "uns 20 anos".
O melhor da Arte é permitir esses (re)encontros. Coisa pra ser celebrada mesmo.

  A Vida é (mesmo) maior do que a arte. E na Vida, como na Arte, acredito no afeto como força revolucionária.


"Eu te asseguro: não chore não, viu?"

   A Vida é (mesmo) a arte do encontro, já dizia o poeta - e isso é verdade.

RJ, SJC e Curitiba: Edmilson Santini, Paulo Barja e Santos Chagas

  Poder receber Edmilson e Santos Chagas - e interagir com esses caras - é uma das maiores alegrias que esta cidade podia ter dado a esse cordelista feliz. 
 

  Depois de tanta vivência energizante, o papo inda foi longe... fazendo bater o sentimento de inauguração de uma parceria múltipla (desejo imenso) dessas que dá sentido ao existir.

"Vida é pra celebrar!"

6 de março de 2011

Carnaval em Santana: Bloco UAI FOLIA

A Vila Rhodia já é meio que a casa da gente... graças ao amigo e parceiro Wangy, dos Velhus Novatus. Assim, não tinha como recusar o convite pra gente se juntar ao carnaval de rua de lá, né? Segue o cortejo, pessoal!

Preparação...

A turma, pronta pra sair...

Batucada pelas ruas de Santana...! Acorda, Carlão!

Pankeka agita a criançada...

Tudo baratim... alegria não tem preço!!!

10 de setembro de 2010

REDESATANDO-NOS

(Refletindo Sobre Arte em Espaços Públicos)

Como cidadão apaixonado por cultura popular, tenho interesse em acompanhar discussões sobre a rua como espaço de atuação (não apenas no sentido artístico). O texto de Adalton Alves (1) recentemente publicado traz à mente questões pertinentes.
Sébastian Charles (2) tem observações bastante interessantes, que se aplicam como diagnóstico (“como as coisas estão”). Aliás, o conceito de modernidade como “racionalização técnica do mundo” a meu ver engloba perfeitamente o que se tem visto nas artes também (há um bom tempo), com o predomínio dos efeitos visuais, a espetacularização sobrepondo-se às idéias etc.
Há também a exacerbação da própria mídia em si, com o gosto pelos “making of”, os “erros de gravação”, as “cenas excluídas” e por aí afora.
Como conseqüência do hiper-individualismo, também é fato que, hoje, dentro e fora das artes, “os indivíduos ligam-se a diversos grupos, criando novas formas de pertencimento conforme seu interesse”.
No entanto, se a “racionalização técnica” (das artes, do mundo) e o hiper-individualismo são diagnósticos, resta responder à pergunta: o que fazer?
Aí é que entra Marc Augé (3), a meu ver. Desde a leitura do livro dele (“Não-lugares”), frequentemente me questiono sobre a transformação (pós-moderna?) de lugares em não-lugares.
Exemplifico: no corre-corre do mundo atual, a rua também é um “espaço do viajante”, certo? Assim, num certo sentido poderíamos incluir “a rua” na lista de “não lugares” propostos por Augé (até mesmo com taxas associadas, se pensarmos em IPTU e IPVA, por exemplo).
Por outro lado, não dá pra generalizar: basta andar em certos bairros de cidade grande ou em ruas/praças de cidades pequenas pra ver que aí a lógica é oposta, e muitas vezes a rua é sim um lugar (até privilegiado) de encontro.
Uma proposta: atuar como cidadão (mais que como artista) não apenas nos "lugares estabelecidos", mas também (e principalmente) nos não-lugares. Buscar aí as identidades coletivas, trabalhar a noção de pertencimento, o senso crítico – há muito trabalho pela frente, e me parece claro que esta deve ser uma tarefa de muitos, e não “apenas para indicados”!
Enfim, essa é uma discussão que acho que precisa ser levada à sociedade como um todo - como aliás muitas discussões importantes nos dias de hoje. Acho que é chegado o momento de tentar conversar de um modo mais global, misturando mesmo trabalhadores de todas as áreas ou, melhor dizendo, “de todas as artes” - cozinhar e fazer jardinagem, por exemplo, são artes, certo?
A conversa sobre uma definição inclusiva de Arte é uma necessidade urgente para todos nós, creio. Fica a ideia para um diálogo. Aliás, um não: muitos!
Paulo Barja - paulobarja@ig.com.br


REFERÊNCIAS
1) ALVES, Adailton. HIPER, SUPER, PÓS: metáforas da contemporaneidade. Disponível em: http://teatroderuaeacidade.blogspot.com/ (consulta em 09/set/2010)
2) CHARLES, Sébastien. Cartas sobre a hipermodernidade ou O hipermoderno explicado às crianças. Trad.: Xerxes Gusmão. São Paulo: Barcarolla, 2009.
3) AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad.: Maria Lúcia Pereira. 7ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. (Coleção Travessia do Século)