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12 de abril de 2012

Refletindo sobre Arte


(para pessoas inspiradoras: Adriana Barja, Eduardo Okamoto, Jair Alves, Tin Urbinatti e tantos outros que são "artistas" porque são "humanos")


  "O teatro não é revolucionário em si mesmo, mas certamente pode ser um excelente ensaio..." (BOAL)

 "Não digam: 'Este homem não é um artista!' porque, se vocês puserem tamanha barreira entre vocês e o mundo, vocês ficarão fora do mundo; se não lhe derem o título de artista, talvez ele, a vocês, não lhes dê o título de homens (...) por isso digam: É UM ARTISTA PORQUE É UM SER HUMANO." (BRECHT)

  A Arte não é revolucionária em si - pode vir a ser um ensaio (importante) para uma revolução. Mas, se "treino é treino e jogo é jogo", não se deve querer que a Arte (o treino) esteja acima da Vida (o jogo real). Assim, não há espaço para arrogância, muito menos para a (falsa) divisão das pessoas em "artistas" e "outros".

 
 
*  *  * 
 
 
"O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres
não passam de meros atores." (SHAKESPEARE)
"O homem é um animal político."  (ARISTÓTELES)

  O ser humano é um ser político. O ser humano é um ser artístico.
  O ser humano também é um ser social: não pode fazer só para si.
  Como aquele-que-faz-política, aquele-que-faz-arte é um servidor.
  Quando consciente disso, tem a vantagem de poder escolher a quem serve.
 
 
*  *  *


"Não se entra no mesmo rio duas vezes." (HERÁCLITO)

  Se Arte é ensaio (como diz Boal), quem faz Arte é aquele que treina, ensaia, trabalha: o operário em construção
  Não nasce pronto. Não fica pronto, pois não é produto.
  Não se entra na mesma peça duas vezes. Não se entra na mesma Vida duas vezes...

9 de março de 2012

Para que o futebol passe a ser visto como o que de fato é

(Uma crônica sobre futebol e arte, para os amigos e artistas Aguinaldo Pereira, Carlos Rosa, Julinho Bittencourt, Marcos Canduta, Marcio Douglas Mané, Réginaldo Poeta e outros que também já entenderam tudo)

   Após as duas pinturas executadas por Neymar no recente espetáculo contra o Inter (RS), no dia de seu aniversário de 3 anos como profissional, não consigo mais guardar só pra mim uma percepção que vem se formando nos últimos 3 anos.
   Aqui vai o provável óbvio ululante, inexplicavelmente silenciado por trás desse papo secular de chamar o futebol de "nobre esporte bretão", quando a verdade é muito mais simples: FUTEBOL é ARTE.

Foto: EFE

    Como, de outra forma, justificar o deleite do artista que repentinamente se percebe arrepiado ao presenciar um drible desconcertante? E o estado de euforia e prazer a que somos coletivamente conduzidos ao apreciar um determinado lance? Um estado que é, no fundo, igual àquela sensação que faz o público de um teatro levantar-se ao final de uma ária de ópera (ou pas de deux, ou peça dramática, ou solo de sax) e aplaudir apaixonadamente "os jogadores" (the players, les jouers) pelo desempenho?
   Sim, não há outra explicação: FUTEBOL é ARTE.
   E, como arte, tem lá suas diferenças significativas com esportes convencionais.
   Uma delas: como explicar a irreprodutibilidade de um lance futebolístico?
   Partidas inteiras de xadrez podem se repetir. Alguns jogos de vôlei parecem já ter sido assistidos antes - mas o futebol... o futebol é uma caixinha de surpresas. Como a Arte.
   O panteão dos ídolos praticamente não sofre alterações, quando se passa a pensar o futebol como Arte. Apenas para ficar na América Latina, continuam lá no topo os maiores artistas: Pelé, Maradona, Ronaldo, Messi, Neymar...
   Ok, alguém pode perguntar: mas e os "apenas bons", como ficam? Haverá espaço na Arte para Edu Dracena, Ibson, Juan?
   E eu respondo: a música também tem seus "apenas bons", ou vocês acham por acaso que todo músico é o Arismar do Espírito Santo, ou que todo guitarrista é o Toninho Horta? Não dá, né? Mas o
que seria de uma grande banda, com grandes solistas, sem uma boa "cozinha"?
   Apesar de tudo, os Beatles sempre foram (muito) mais que Lennon & McCartney. Havia o brilho discreto de George (Arouca? ou Ganso, mesmo?) e Ringo sempre foi a segurança necessária para os voos - um zagueiro que impunha respeito e, na hora do escanteio, ainda aparecia de vez em quando lá pra área pra cabecear.
   Sobre a plasticidade dos lances, capaz de demonstrar a tese do futebol como forma de arte, nem há muito o que comentar. Melhor fazer uma experiência: assistam uma filmagem de um grande elenco de dança. Um dvd do Ballet Bolshoi, por exemplo. Mas assistam em câmera lenta. Ok? Agora, façam o mesmo com qualquer jogo de um grande time de futebol. Entenderam onde quero chegar?
   Bom, a essa altura chegamos num ponto importante: a questão da violência dentro de campo (fora de campo também ocorre, seja no futebol ou em shows de música pop).
   Pois bem: por que é que vemos violência no campo de futebol? Pois é: porque muita gente insiste em pensar futebol como esporte, um território onde a competitividade muitas vezes fala mais alto que a beleza (nesse sentido, por sinal, um festival de música assemelha-se bastante a uma competição esportiva, com torcida organizada e tudo).
   Acontece que FUTEBOL é ARTE. E, se percebemos isso, a questão da violência fica naturalmente resolvida. Sem uso de cartão!
   Sim: se FUTEBOL é ARTE, a violência deixa de existir em campo, pois perde o sentido. Ou alguém imagina um guitarrista de um grupo sendo escalado só pra entrar com tudo na canela do Brian May ou do Eric Clapton, por exemplo? Nem pensar. O que vai predominar é a sensação de gratidão e felicidade por poder fazer uma "jam com o mestre". Do mesmo jeito que o pessoal do Inter deve ter sentido, ao cumprimentar o Neymar no fim do jogo. 


Foto: GazetaPress

   Ah, mas e aquela história de "ter que fazer gol"? Como é que fica? Meu palpite: o futebol, visto e praticado como arte, passará a ter muito mais gols (temos times espalhados pelo mundo que comprovam isso semanalmente). E todos finalmente entenderemos que o velho técnico tinha razão: o gol é (sim!) mero detalhe - consequência natural da ARTE.

P.R.Barja

P.S.: Os autógrafos, claro, continuarão a ser dados apenas após o término do espetáculo, para não prejudicar a fluência do show.