28 de agosto de 2010

História: Um abraço para Galina

     Logo que entrei no mestrado na Unicamp, pintou o primeiro congresso científico importante pra eu ir apresentar um trabalho, em Caxambu, MG. Lembro que eu estava contente mas bem nervoso - afinal, era minha "estreia" nesse tipo de evento. Quando estava expondo o trabalho, apareceu uma professora e começou a fazer perguntas. Ela era estrangeira e falava com sotaque bem carregado, o que me deu mais medo ainda. Mas lembro que ela foi muito paciente e doce comigo, como se quisesse mesmo me acalmar. Foi bom, comecei a me sentir mais seguro e ficamos conversando um tempo sobre o trabalho. Depois fui saber que aquela ela a dra. Galina Borissevitch, uma cientista russa importante, e achei o máximo ela ter dado aquela força - provavelmente ela nem imagina o quanto isso foi importante pra mim.
Desde então, tenho tido a sorte de participar de diversos eventos, em vários países. É sempre bom - mas nunca me esqueci daquela professora russa.
     Semana passada - ou seja, mais de 15 anos depois do encontro com a dra. Galina - eu estava em Aracaju e um dos palestrantes do congresso era o prof. Iuri Borissevitch, marido dela. Assim que tive chance, fui falar com ele, que também é uma pessoa inteligentíssima e muito amável. Perguntei sobre a esposa e ele me respondeu: "Você não pode imaginar: acredita que agora em vez de fazer pesquisa científica ela resolveu ficar só dando aula num colégio?"
Em seguida nos despedimos, desejando boa sorte um pro outro. E eu tenho que dizer que tudo aquilo fez sentido pra mim: entendi que aquela mulher iluminada sempre teve o interesse maior de ensinar, de mostrar o caminho aos mais jovens, dar conselhos - educar, no sentido mais amplo da palavra.
     Como é bonito isso... felizes dos alunos dela!

14 de agosto de 2010

Haikai

asas abertas se fecham
com o tempo
asas fechadas se abrem

Soneto do mestre

Quando era menino ainda, tive a felicidade de conhecer um grande poeta: Roldão Mendes Rosa. Trago sua poesia em mim. Eis um soneto do mestre que até hoje me inspira:

Quem te escuta navega de olhos cegos
velhos mares há muito navegados
e surpreende-se em terras sem memória
lavrando chãos há muito já lavrados.

A quem te segue, faz-se puro o tempo
que de impuro se fez quando passado;
faz-se de lua a noite que era escura
e o dia sem ventura, aventurado.

Pensar em ti é desejar-te sempre:
sem a saudade que amargura a alma
ou a incerteza que amargura a espera.

Estar contigo é não saber que há morte:
é ver que o tempo as árvores desfolha
e outono em ti rescende a primavera.