19 de maio de 2015

Caetano e "Irene"

Sobre Caetano e a história da canção “IRENE”, 1968/69



Sempre achei que IRENE fosse uma das canções leves do Caetano. Não é...

Após ser eliminado do Festival de Música Popular Brasileira por conta de seu discurso em É PROIBIDO PROIBIR (em solidariedade a Gil, também desclassificado), a dupla foi presa e teve os cabelos raspados. Foi na cadeia que Caetano compôs os versos de IRENE. Essa informação é essencial para que se compreenda a letra da canção:


“Eu quero ir, minha gente
Eu não sou daqui
Eu não tenho nada...”


O disco com a canção IRENE, lançado por Caetano em 1969, tem outra peculiaridade: ele NÃO aparece na capa. Ainda estava de cabelo curto... Somente em seu disco seguinte (o “álbum inglês”), Caetano volta a aparecer na capa. A foto é tristíssima: um baiano no frio londrino... mas ele já estava de cabelo comprido.

P.R.Barja

2 de maio de 2015

RESPOSTA DE UM PROFESSOR à fala do senador (Cordel Joseense 56)

Brasília, 2015:
numa sessão do Senado
o “nobre” senador Serra
(há pouco tempo empossado)
produziu, ao microfone,
um discurso equivocado:

Foi se queixar, no plenário,
das horas-atividade
pagas para os professores
e bem justas, na verdade.
Professor trabalha muito:
negar isso é vã maldade!

No discurso, o senador
usou um termo insolente:
disse que os mestres ganhavam
só para “supostamente”
preparar as próprias aulas...
Senador, seja decente!

(faço aqui breve parênteses:
para estes versos fazer,
antes corrigi 100 provas,
pois esse era meu dever,
e fui depois, na internet,
o diário preencher)

O senador criticava
(falta alça em sua mala)
que o professor recebesse
40 horas... sua fala:
“10 horas-atividade,
SÓ 30 horas na sala!”

Porém, depois do discurso,
nenhum jornal registrou
a bronca que o senador
de professores levou;
uso então estas sextilhas
pra mostrar nosso valor.

“Prezado Senador Serra:
o senhor não foi eleito
pra bater em professor
nem negar nosso direito.
Mas, se quiser discutir,
sou professor: eu aceito.

Por sinal, sei que o senhor
também é nosso colega:
sei dos vídeos no YouTube
- quem correr ainda pega -
de aulas suas em campanha...
O senhor sabe e não nega.

Não vou questionar as aulas
nem os seus erros de conta,
pois o senhor, pelo visto,
nenhum erro em mim aponta.
O debate é sempre bom,
nunca é uma coisa tonta. 

O senhor falou de "custo":
professor tem custo, sim!
Senador também tem custo:
o senhor acha ruim?
Vamos debater agora
isso, tintim por tintim.

Neste primeiro bimestre,
corrigi (e ainda bem!)
trezentas e tantas provas
sem dever nada a ninguém.
Aulas? Posso assegurar
que dei muito mais de cem.

O senhor não se preocupe:
Não ache que é tão difícil...
Corrigi mais de trezentas
e dez listas de exercício.
Sei que, pro senhor também,
trabalhar é um doce vício...

De quantas sessões ao todo
o senhor participou
nessas últimas semanas,
no bimestre que passou?
E os projetos sociais,
afinal, quantos votou?

Na trilha do seu discurso,
não cabe fazer piadas:
precisamos discutir
as "horas não trabalhadas"
também aí no Congresso
- são verdades mal faladas...

Que tal se a gente parasse
de pagar os senadores
pelas promessas que fazem
sob a luz dos refletores
e a tal “meritocracia”
fosse aplicada aos senhores?

E, para não perder tempo,
eu também pergunto, então:
por que o senhor defendeu
essa terceirização
que ao nosso trabalho honesto
gera precarização?

Eu já estou até achando
que a tal terceirização
veio de outro senador
que em segundo turno NÃO
se elegeu e, num terceiro,
sonha ganhar a eleição...!

Quem já comprou prédio inteiro
conhece dinheiro vivo...
Senador: na Educação,
não diga “custo excessivo”
pois o preço da ignorância
é mais alto e permissivo.

Talvez mesmo os professores
ganhar melhor já pudessem,
se os senadores ganhassem
realmente o que merecem
e bem menos assessores
os políticos tivessem.

Deixo aqui no meu cordel
a modesta sugestão:
que descontem do salário
do “Senador-da-nação”
as horas-atividade
que trabalhadas não são.

P rezadíssimo político:
R espeito é muito importante.
B asta treinar; é possível
A vançar nisso bastante.
R esta só falar bem menos,
J ogando fora os venenos:
A gradeço nesse instante!
Paulo R. Barja