28 de dezembro de 2014

SOLIDARIEDADE - com ou sem foto

A história é tristemente real: uma moça começa um relacionamento com um sujeito e, poucas semanas depois, é covardemente agredida pelo imbecil (perdão, não achei outra palavra). O que fazer? Segundo a maioria das pessoas, o melhor é ir imediatamente à delegacia e fazer um Boletim de Ocorrência. Porém, ainda antes de seguir o conselho dos amigos, ela decide denunciar o agressor em rede social.

Perguntam-me: por que ela faz isso? Sinceramente, não acho que a pergunta seja relevante diante da gravidade do fato. A meu ver, a pergunta correta é bem outra: o que leva um homem a cometer tamanho ato de covardia? De todo modo, vejo uma razão bem simples para a publicação da moça. Imagino que ela tenha desejado deixar um alerta, o mais claro e público possível, para fazer com que pessoas próximas de um e/ou de outro fiquem cientes do potencial de agressão, do caráter violento do sujeito que cometeu o gesto absurdo. Enfim, o que sei é que a moça posta uma foto de seu próprio rosto – provando assim a agressão que acaba de sofrer – e junta a isso um texto curto em que fornece o nome do agressor.

Para nossa tristeza, surgem em cena os relativistas, dizendo coisas como “será que ela não fez nada antes?” Outros argumentam que não é possível ter certeza de que o acusado foi realmente o agressor. Ok, apure-se tudo: de acordo. Porém, considero inadmissível que se parta para a inversão dos fatos, com a culpabilização... da vítima. Absurdo! Há quem chegue a comparar o caso a “mais um reality show”. A pessoa agredida chega a ser chamada de exibicionista porque teve a coragem de mostrar o que aconteceu. Que mundo é esse? Nessas horas, faço um baita esforço para respeitar o direito de cada um falar (e escrever) o que quiser. No entanto, sinto-me na obrigação de dizer (e gostaria que fosse em alto e bom som) que precisamos parar de encarar violência real como cena de reality show!

É necessário que as pessoas se conscientizem do seguinte: as agressões contra mulheres nesse país vêm de muito longe e continuam até hoje. Curiosamente, estas agressões reais e cotidianas não aparecem nos tais shows de (falsa) realidade. Aquilo lá nos programas de TV não é reality, meus caros: são “autênticas histórias falsas”, como diz um espanhol que conheci anos atrás.

Dizem alguns que “rede social não é pra isso”. Seria então para que? Só pra exibir foto bonitinha de festa? Questionamento não pode? Denúncias são proibidas? Por quem? De minha parte, todo respeito ao uso de toda e qualquer rede social como local de manifestação de cidadania sim.

Triste país o nosso. Uma mulher foi agredida e conseguiu fotografar e denunciar a agressão antes mesmo de fazer o BO, ponto. Não vou condenar isso! Por sinal, uma perguntinha básica: quantos Boletins de Ocorrência cada um de nós já leu hoje? E quantas imagens já viu, no mesmo período? Pensem nisso.

Chamo atenção para o fato de que não estamos aqui julgando fotos. A questão é que precisamos debater e combater a violência. Também precisamos combater o preconceito no julgamento que se faz de quem é vitimado pela violência nesse país. São mulheres. São, também, negros, orientais, latinos, nordestinos. Somos nós os agredidos, percebem?

Nenhum de nós precisa ser parente ou amigo pessoal de uma pessoa agredida para sentir o impulso da solidariedade, de querer se mostrar pronto a ajudar. A partir de certas reações lidas hoje, sinto despertar em mim uma profunda verdade, mais material do que qualquer foto. Aqui vai ela: nada pode desencantar mais o ser humano do que a falta de solidariedade.

Isso aqui é só minha opinião pessoal. Mas, em pleno século XXI, este começa a ser um pais onde os agredidos não se calam. Não mais. E, como ninguém é uma ilha, uma agressão a uma pessoa – qualquer pessoa – é uma agressão, também, a mim.

P.R.Barja

21 de dezembro de 2014

Por que?


Por que não consigo ser feliz?


- Felicidade se acha em horinhas de descuido...

Perdão, mestre, mas discordo:
enquanto houver uma única injustiça
cometida contra um único de nós,
como descansar?

"É impossível ser feliz sozinho"

- e essa frase do Jobim
não fala de amor:
é política.
(P. R. Barja)

29 de novembro de 2014

De Crença e Descrenças (uma crônica de 1994)


   Relembrando a época em que comecei a fazer catecismo percebo que, depois de algum tempo, tornei-me extremamente permeável à religião católica. Ou seja, comecei a gostar de ler a Bíblia e pensar em temas religiosos: Deus, a Criação, o Universo... Obviamente, por volta dos quinze anos, passei pela crise de rebeldia adolescente que me fazia renegar toda e qualquer crença, mas arrisco dizer que, das meditações surgidas na infância até a graduação em física, foi apenas um pequeno passo.

   Hoje, parece-me claro o quanto de crença temos nas mais diversas áreas do nosso (não tão) vasto conhecimento: filosofia, psicologia, pedagogia, biologia, política (votar é, em última análise, um ato de fé em pessoas e sistemas – e não se confunda isso com fanatismo, que também existe em todas essas áreas). A física é, por ironia, a área do conhecimento humano historicamente mais atolada em crenças as mais estranhas possíveis. Quando digo “por ironia”, refiro-me à legião de físicos que se dizem ateus. Como e por que acreditam, então, que a possível descoberta do último quark previsto na teoria desvenda de uma vez por todas a já milenar busca pelos “blocos fundamentais da matéria”?

   Este texto é de 1994. Qualquer pessoa pode dizer: “daqui a 50 anos, será descoberta a prova experimental da existência dos subquarks...”

   Na verdade, Deus pode estar murmurando isso agora mesmo, entre uma risada e outra.

   Outro exemplo de crença dogmática no âmbito da física diz respeito ao Big Bang. Até mesmo físicos não conseguem suportar o peso de questionar tudo eternamente e cristalizam dogmas como a ocorrência do Big Bang, “o início de tudo”. Mas há pesquisadores que defendem a idéia de um Universo cíclico, com uma sucessão de Big Bangs onde cada um marca ao mesmo tempo o fim de um ciclo e o início de outro (soube desta teoria através de uma palestra do prof. Ross Douglas, do IFGW/Unicamp). Mesmo Stephen Hawking (autor do best-seller “Uma Breve História do Tempo”) já defendeu e atacou a teoria do Big Bang, em diferentes momentos.

   Por tudo isso, pode não ser sensato concentrar toda a fé só na ciência ou só na religião. Nesse sentido, vale citar a abertura do “Evangelho segundo o Espiritismo” (organizado por Allan Kardec, Ed. IDE, 1978, 142a. edição, S.Paulo): “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”

   Quanto à velha questão “Determinismo x Incerteza”: o fato de existirem leis da física não determina de maneira absoluta a evolução de todos os seres; o que as leis fazem é simplesmente imprimir limites para os acontecimentos.

   Nossos movimentos são determinados pelo nosso livre arbítrio e executados de acordo com os limites impostos pelas leis físicas. Assim, Deus não joga dados: ao que parece, ele criou dados e regras para que nós possamos jogar, conforme nossa consciência e vontade.

P.R.Barja

17 de novembro de 2014

RESPOSTA-MANIFESTO

EM RESPOSTA A UMA PROPOSTA FEITA A ARTISTAS LOCAIS
“Apresente-se de graça em nossa sede, fazemos divulgação”

      Considero absurdo e mesmo constrangedor o convite feito, uma vez que artistas precisam ser pagos pela Arte que fazem, até mesmo para manter a Saúde. Creio que isso seja simples de entender, principalmente por quem se diz disposto a trabalhar "pela humanização do atendimento". Pois bem: quando um artista é "convidado a trabalhar de graça" numa empresa que tem totais condições de pagar pelos serviços prestados, isso na verdade soa como "desumanização", na medida em que sucateia o valor do artista enquanto ser humano. 

      Esclareço que, antes de redigir esta pequena resposta, entrei em contato com diversos artistas, inclusive via redes sociais, e o entendimento geral foi este, o que motivou o envio da resposta (fiz essa consulta prévia a colegas para não incorrer no erro de um julgamento precipitado e descolado da realidade). 

      Informo adicionalmente que, em outros países onde tenho amigos artistas, há movimentos de conscientização junto a artistas para que NÃO aceitem este tipo de proposta. A motivação para o movimento coletivo de recusa é a seguinte: enquanto alguns têm outras fontes de renda e poderiam até se dar ao luxo de "trabalhar de graça", outros dependem exclusivamente do que recebem pelo seu trabalho artístico para sobreviver. 

      Entendo que artistas precisam ser bem pagos por quem pode pagar justamente para que possam se dedicar, em outros momentos, a apresentações beneficentes e/ou voluntárias junto a instituições que dependam exclusivamente de esforços coletivos – e, estes sim, humanitários – para subsistência. 

      No entanto, creio que nossa conduta diante desse tipo de situação deve ser fruto de amadurecimento coletivo e troca de ideias (como tudo, sempre). Assim, tomo a liberdade de sugerir uma contraproposta. Tenho quase certeza de que artistas da cidade topariam fazer apresentações por valores, digamos, a partir de R$400 por apresentação (dependendo, naturalmente, da configuração artística - solo ou grupo). Em troca, divulgariam o local e os serviços da empresa contratante. Creio que isso traria transparência ao relacionamento e, sem dúvida, benefícios à imagem da empresa. 

      Uma proposta alternativa (talvez não para esta empresa, mas para outras, mais humildes) seria, ainda, que a empresa prestasse serviços gratuitos aos artistas e, a cada valor X (a definir), o artista fizesse uma apresentação em contrapartida. 

      Para citar um caso recente que mobilizou a sociedade brasileira: nenhum de nós é Deus. Nenhum de nós está acima do outro. Todos precisamos batalhar (com o suor de cada dia) pelo alimento, moradia, saúde e – sempre – respeito.

      Sigamos na trilha da construção de um novo país a cada dia, em cada atitude. 

      Saudações,
P. R. Barja

11 de novembro de 2014

Parceria


Sábado passado (8/11), como atividade da parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente de São José dos Campos (SEMEA) e a UNIVAP, ministramos uma Oficina de Cordel para a formação de agentes de educação popular na área ambiental/agroecológica. Clique AQUI para ler matéria completa a respeito.

Finalização da Oficina de Cordel na Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(foto: PMSJC, 2014)

28 de outubro de 2014

"Que Fim Levou Samanta Miller" - lançamento


Depois de meses de diversão e (muito) trabalho, dia 25/10/2014 ocorreu na Univap Urbanova o lançamento da pulp fiction universitária "Que Fim Levou Samanta Miller", escrita em conjunto por Paulo Barja e o Coletivo Fidelio (alunos da FCSAC - Univap). 
Clique para ver o álbum de fotos.

24 de outubro de 2014

Regulamentação da mídia (colaborando para o debate público)

   Para começar, vejamos o que diz sobre liberdade de expressão o Capítulo I da Constituição Federal (1988), no artigo quinto:
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...)
IX – é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
(...)
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.

   Pronto. Agora vamos lá: o que é a tal “regulamentação da mídia”, que existe em tantos países e no Brasil não sai da gaveta?
   Basicamente, seria um tipo de regulamentação para evitar concentração excessiva de meios/mídia sob controle de “poucos proprietários". Em outras palavras: busca evitar a concentração de muitos veículos de mídia na mão de um único grupo ou família.
   No contexto brasileiro, entendo que limitar a alta concentração hoje existente em torno das poucas e poderosas “famílias da mídia" no Brasil seria justamente uma forma de garantir a liberdade de expressão, que nossa Constituição de 1988 defende mas, na prática, ainda não existe. Prova: os casos frequentes de jornalistas demitidos por grandes grupos hegemônicos pela simples ousadia de “pisar fora da linha editorial” (estou usando um eufemismo). Assim, a pressão ideológica sobre o profissional da comunicação pode ser vista como subproduto da concentração da mídia.
   Há um Projeto de Lei (PMDB/BA) para substituição da Lei da Imprensa que voga desde a ditadura militar. Clique AQUI para ver a respectiva ficha de tramitação. O Projeto foi apresentado em 1991. Detalhe: NÃO foi votado, debatido, apreciado - estamos em 2014!
   Minha leitura, simples: os congressistas temem as “famílias da mídia”. Vejamos outras leituras, a partir da matéria da Revista FORUM, ed. 146:


Segue um trecho e alguns depoimentos presentes na matéria mencionada:

O Fórum Nacional Pela Democratização dos Meios de Comunicação (FNDC) visa colher 1,3 milhão de assinaturas no intuito de propor um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para a regulamentação da comunicação social eletrônica do país, além de levar o debate à sociedade.

Ivo Freitas (coletivo Mídia Ninja): diz que não houve avanço político no que diz respeito à regulamentação. “Mas não é por falta de vontade, tanto do governo em si como dos alternativos da mídia. A tentativa de regulação dos meios de comunicação ainda sofre bastante oposição das famílias detentoras das concessões. O que se pode dizer é que a discussão avançou”.

Mayrá Lima (conselho diretor do Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social): “A radiodifusão segue monopolizada e as famílias que controlam o conjunto da grande mídia no Brasil continuam usufruindo das concessões públicas sem que haja um mecanismo em que a sociedade possa fiscalizar possíveis violações de direitos. Carecemos de um regramento que impeça a propriedade cruzada, garanta pluralidade e diversidade nos meios de comunicação.”

FORUM: Por que entra e sai governo e as legislaturas, sucessivamente, não fazem o debate em torno de um novo marco para a mídia?

Conceição Oliveira (blog Maria Frô): “Não avança porque o Congresso é feito por políticos que dividem este monopólio midiático. Collor, Sarney, Renan [Calheiros], família de Antônio Carlos Magalhães dividem concessões de rádio e TV retransmitindo a Globo, vários têm jornais etc.

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Outro artigo interessante (e esclarecedor) sobre o tema está disponível aqui:

Diário do Centro do Mundo:

P.R.Barja

22 de outubro de 2014

A Força das Minorias


Venho aqui manifestar
total solidariedade
a todas as minorias
do nosso imenso país:
as opções minoritárias 
as siglas minoritárias 
as vozes minoritárias
falo isso comovido
comovido e convicto
de que são as minorias
unidas, reconhecidas
nobres no olhar e nos gestos
que dão rumo a essa nação
pois são essas minorias
unidas, reconhecidas
que sabem da força imensa
do respeito às diferenças
assim ensinam e aprendem
assim juntos aprendemos
que a soma das minorias
vence todo preconceito
converte-se em maioria
mas maioria sensível
mais madura e mais feliz
e é disso que precisamos

P.R.Barja

18 de outubro de 2014

Crônica - O Nó da Gravata

(para meu pai, o eterno maestro Barja)


     Tudo que é tocado por aqueles que amamos adquire novo significado para nós. Se era um objeto simples, agora é especial; se era banal, agora é único. Pode até virar amuleto, símbolo do amor, do caráter eterno do afeto – e da saudade.
     Penso nisso a partir de uma simples gravata. E é particularmente curioso que seja uma gravata, já que praticamente não uso gravatas. Chego a passar anos feliz, sem usar gravata uma única vez. Mesmo em ocasiões formais, dou quase sempre um jeito de abdicar do terno em favor de um blaser e uma calça social, só para me sentir absolutamente desobrigado de usar gravata. Mas já cheguei mesmo a cometer o que para alguns seria pecado: colocar o terno e não colocar a gravata.
     Acho que há apenas uma ocasião em que aceito o formalismo no vestuário, e de bom grado. É quando me convidam para ser padrinho de casamento. Acho bonito, uma honraria. Penso assim: até mesmo o convite para uma palestra pode ser uma forma de expor a pessoa a uma situação difícil, mas ninguém convidaria uma pessoa para ser padrinho se não tivesse uma dose ao menos bem razoável de confiança e cumplicidade. 
     Nessas ocasiões, sei que esperam que eu use gravata. E uso gravata.
     Amanhã viverei uma dessas situações. Serei padrinho de casamento. Usarei gravata, depois de anos com o pescoço livre. Nesse caso, o primeiro a fazer é... achar a gravata.
Primeira surpresa: após intensa prospecção, descubro que tenho nada mais, nada menos que três gravatas! Incrível, dado que só devo ter usado gravata sete ou oito vezes na vida.
Mas aí vem a segunda constatação surpreendente, e é essa que me lança ao lirismo mais deslavado, desses de encharcar lenço e fazer o coração transbordar: uma das gravatas está com o nó pronto.
     Foi meu pai que fez esse nó.
     Meu pai partiu deste mundo há alguns anos. Acho que foi quando as asas cresceram demais para caber no terno – que, ao contrário de mim, ele usava com frequência. E meu pai sabia da minha aflição e dificuldade em colocar uma gravata. Acho até que a dificuldade nascia da aflição. Seja como for, eu simplesmente apanhava da gravata, não aprendia a dar o nó. E ele, após diversas tentativas de me ensinar, com paciência e amor havia feito o nó daquela gravata em seu próprio pescoço. Depois, havia afrouxado o nó: “pronto, é só você colocar e ajustar agora”.
     Sei que é simples, sei que pode soar ridículo até. Mas quanto amor, quando amor ali!
     E quanto amor, pai, aqui, ao olhar a gravata que amorosamente já enlaçou teu pescoço antes de ser por mim utilizada e guardada por anos, até a epifania deste momento.
     “Pouco amor não é amor”, já dizia Nelson Rodrigues. Pai, eu te amo tanto, tanto que não tenho medo algum do ridículo ao dizer: este nó eu vou guardar para sempre.


Paulo Barja

Maestro Barja, de gravata, no dia da formatura do autor do blog

17 de outubro de 2014

Tom Zé, genial anarquia

Após o show do Tom Zé na FLIM (Feira Literária realizada no Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, SP), fui apresentar o livro "Anarcopoesia" ao mestre, que não se furtou a fazer um anarcojabá (foto abaixo):

O mestre e um aprendiz entusiasmado


"Que fim levou Samanta Miller?" (lançamento do livro)


   No próximo dia 23 de outubro, às 19h, teremos o lançamento do livro "Que fim levou Samanta Miller?" - o evento integra a programação do Encontro Latinoamericano de Iniciação Científica e Pós-Graduação, realizado anualmente na UNIVAP, em São José dos Campos. 
   O livro é um projeto realizado em conjunto com alunos da FCSAC/UNIVAP e tenho utilizado o termo "pulp fiction universitária" para descrever a produção. Espero que curtam! 


Padrão de manipulação - exemplo real

Manchete mágica da TV Globo: 
"Criação de empregos registra queda"
EPA:
905 MIL vagas foram criadas em 2014 no Brasil! 
Em 2013 a criação havia sido um pouco maior. 
Daí a Globo enfatiza a palavra QUEDA numa manchete sobre o AUMENTO do número de empregos. 

Padrão de manipulação à vista...!

Brevíssima reflexão sobre o jornalismo brasileiro atual

(não apenas em época de eleição)


     Quanto ao comportamento dos jornais brasileiros (a Veja também), o (grande) jornalista Aloysio Biondi destaca uma espécie de sucateamento no jornalismo brasileiro entre final de 98 e início de 99, coincidindo (mas será que existem coincidências?) com a privatização das telecomunicações. A partir daí, títulos de artigos de articulistas como o próprio Biondi eram alterados ou então maquiados, com as informações relevantes sendo jogadas para escanteio (retiradas do título e do lead), entre outros absurdos que podem até ser hilários, dependendo do contexto.

     De lá para cá, em resumo, temos espaços“oficiais” para isso ou aquilo na mídia, mas também há um monte de opiniões e matérias simplesmente proibidas pelo jornal (um exemplo é o eterno tema-tabu do filho de FHC com a jornalista da Globo).

     Inevitável uma certa nostalgia do que muitos de nós não tivemos: quem curte Nelson Rodrigues, por exemplo, pode verificar quantas vezes as crônicas dele (inclusive as esportivas) já enveredaram por política, mesmo no Globo... sim, claro, ele não era “de esquerda” (haha) - mas o respeito não escolhia página, se é que me entendem.

Paulo R. Barja

6 de outubro de 2014

Ode ao Burguês Secular (SP, 1922+92)


outsider em meu próprio estado
(e não me venham com maiúsculas)
acumulo milhas nas costas
atinjo a "maioridade à margem"
recebo assim renovada
democrática porrada
fartamente distribuída
- sem distinção -
a professores alunos pobres malfeitores
sim
pobreza é crime aqui
cercar terreno não é crime:
basta ter grana passar cheque sem fundo               quebrar a bolsa do Rio
e te deixam ficar devendo
30 anos, 60 milhões
ganha ainda apoio armado
mas pobre tem que ser bom pagador
(o relógio nunca atrasa para o pobre)
experimenta furar a conta de luz
aliás
não importa
vivemos no escuro mesmo


êêêê são paulo
ê são paulo
são paulo da garoa
são paulo da tortura boa
sim
garoa é sangue aqui
a turma de uniforme diz que as balas são de borracha
ops escapou uma aqui outra ali
dizem também: "quem procura acha"
cotas a cumprir menino(a)s a despir
brincantes a despejar
pobres a afugentar
pra longe das passarelas
azuis e amarelas
Ah, Mário, doce Mário, que sonhou são paulo no Brasil
viajando tanto ao Nordeste
em missão de integração
Mário Bandeira Drummond
o teeeeeeeeeempo paaaaaassssssssaaaa!
a valsa acabou
a água acabou
a usp vai mal
e o ministério da verdade adverte:
"beber bosta prejudica a capacidade cerebral"
(hein? o que? gol de quem?)
diz que gosta, sem engulho:
bebe bosta com orgulho!
são paulo russomano!
são paulo feliciano!
são paulo, dize-me com quem andas e te direi
aliás
já disse
...

(P.R.Barja, a partir de Mário)


1 de setembro de 2014

Soneto Eleitoral (candidatura de ocasião)


Se a sigla significasse
o que diz que significa,
a coisa talvez mudasse;
pior do que está não fica.

Legenda? Pra que legenda?
O discurso não é sério.
A "ética" vive à venda
ou está no cemitério.

Sigla certa, ideia incerta:
muda-se de opinião
quando o cinto mais aperta.

Democracia? Quem dera:
"vale tudo" de eleição.
Quanto ao eleitor... já era!

P.R.Barja

29 de agosto de 2014

whatsapp (conto curto)


     Ela andava triste, cabisbaixa, quando ouviu que a chamavam. Levantou o rosto e olhou para seu interlocutor, que perguntava:
   – Ei, o que houve? Por que está desse jeito? Sua beleza anda opaca...
   – Foi o resto da vida inteira que me fez assim. Agora, quase não durmo. Quando deito, ele vem me visitar...
   – Ele quem?
   – O demônio.
     Ela não teria dito isso se não tivesse percebido que o rapaz tinha asas.
   – Ah, que bobagem... Carpe Diem... aproveite o dia! O demônio tem medo de gente alegre.
    Ele abriu então as asas – eram imensas – e esticou a mão para ela. Voaram juntos. E dançaram, sorriram... foram felizes. Quando ele a deixou em casa (pela janela!), a moça emanava luz. Deitou-se e dormiu imediatamente.
     Naquela noite, quando o demônio se aproximou da cama, ela só abriu um olho e disse: BU!! E isso, esse simples “BU!!” impregnado de alegria brincalhona, assustou tanto o demônio que ele nunca mais voltou.

Paulo R. Barja

26 de agosto de 2014

Um Século, Um Segundo (um poema-ponte entre Física e Comunicação)


Um século atrás:
Física Quântica
(Planck, De Broglie, Bohr, Heisenberg...)
Pacotes de energia
Caráter dual da matéria
(partícula - precisa   ou   onda - difusa ?)
Princípio da Incerteza
(se a gente sabe "onde", não sabe "quando")
A OBSERVAÇÃO afeta O OBSERVADO

Um segundo atrás:
Jornalismo
Pacotes de notícias
Caráter dúbio da matéria
(o fato depende da fonte?)
Padrões de manipulação
(o que couber a gente publica)
A OBSERVAÇÃO afeta O OBSERVADO
(a tal ponto
 que o ato de observar 
 chega a cria novos fatos)

P.R.Barja

24 de agosto de 2014

As Duas Portas (crônica)


Outro dia fui levar minha filha a um encontro com colegas de escola. Não conhecia o endereço, mas imaginei que fosse na região “mais nobre” da cidade. Esse “mais nobre” vai assim mesmo, entre parênteses, por se tratar de expressão questionável, já que utilizada como eufemismo para outra expressão, menos elegante: “mais cara”.
Enfim: era lá mesmo. Estacionei e, ao me aproximar da entrada, a surpresa: havia duas rampas diferentes conduzindo a duas portas diferentes. Aliás, corrijo-me: não eram portas e sim pesados portões metálicos. No alto de cada um, inscrições que explicavam tudo: de um lado, “moradores”. Do outro, “visitantes”. Naturalmente, logo ficou claro para mim que a segunda palavra era outro eufemismo: por “visitantes”, entenda-se “todos os demais”, “os outros” (ou, em última análise e para lembrar de um episódio pessoal bastante chato, “forasteiros”).
Do lado de dentro, seguranças observavam atentamente os candidatos à entrada na fortaleza (juro que estou me segurando para não poluir o texto inteiro com aspas). Além dos seguranças, claro, as indefectíveis câmeras de vídeo. Até aí, vocês podem argumentar que são questões de segurança e tal.    Mas o problema todo é que as duas portas ficam exatamente uma ao lado da outra, sem nenhuma divisória, ou seja: a pessoa que subiu a rampa – seja da esquerda ou da direita – chegará às duas portas ao mesmo tempo. Pode-se inclusive imaginar facilmente a situação de um morador subindo por um lado e um visitante (seguro as aspas) de outro, chegando ambos, ao mesmo tempo, diante das mesmas portas.
Pergunto, do alto da minha humilde ignorância: em que medida a existência de duas portas “etiquetadas” (não aguentei e coloquei as aspas agora) garante a segurança de quem quer que seja?
Voltei para casa incomodado com aquilo. Para mim, só há uma explicação: não se trata de segurança e sim de discriminar, separar artificialmente uns dos outros. O caminho é praticamente o mesmo, porém “vocês entram por aqui; os demais, por ali”.
A situação nos remete aos aeroportos europeus, em que a entrada num país ocorre a partir de filas separadas para cidadãos europeus e “os outros”. Embora questionável, pode-se argumentar que neste caso trata-se de protocolos diferentes, envolvendo consulta a documentos diferentes – e que a entrada ocorre por guichês diferentes. No caso do prédio VIP (sem aspas), a cabine é única: as mesmas pessoas administram a entrada pelos dois portões. Além disso, nenhum documento foi pedido para mim: fui julgado, creio, simplesmente pela aparência.
O portão dos visitantes abriu-se para mim. Entrei e imediatamente andei um metro para o lado, de modo que um segundo depois de entrar eu já seguia a trilha exata dos moradores.
Confesso que muitas vezes não consigo compreender coisas simples e me sinto meio burro. Foi o que senti ali, ao estranhar algo que para a maioria das pessoas talvez já seja natural.
Meu questionamento: até que ponto é natural encarar este tipo de separação como algo natural?

P.R.Barja

23 de agosto de 2014

Ali, naquele bairro simples (crônica)


“O morro não tem vez
mas se derem vez ao morro
toda a cidade vai cantar”
- Vinícius de Moraes

Equipe da E.E.Francisco Marques, Campo dos Alemães,
S.J.Campos: gente que, definitivamente, faz a diferença

  Quero contar o que vi acontecer ali, naquele bairro simples, que não costuma aparecer nos jornais (as eventuais notícias insistem em vincular a região a cenas tristes, mostrando uma visão limitada e por isso mesmo deturpada de uma realidade bem mais bela).

  Sim: naquele bairro tão simples, a beleza transparece nos olhos e corações, surge – espontânea – aqui e ali. Mas existe um local de onde a beleza se irradia. E sabem qual é o núcleo da beleza, ali, naquele bairro simples?

  É a escola.

  Ali, naquele bairro simples, tem gente que trabalha e se dedica a mudar para melhor não apenas o bairro como também a cidade. Gente que, durante a semana, dá aula e estuda; aos fins de semana, enfeita sua escola (sua, sim!) e convida os amigos pra festa. Gente que, em pleno sábado (ou domingo), leva os filhos à escola para fazer balé, tocar violino e pintar telas maravilhosas (são guiados por mãos de fada).

  Passei a manhã admirando e me comovendo com tanto trabalho bem feito por gente de talento que a mídia não mostra. É gente como essa e trabalho assim, nesse bairro simples, que me inspira todo dia.

  Sei que talvez essas pessoas nunca fiquem sabendo do texto que escrevo agora, emocionado. Por que escrevo, então? Porque desejo que muitos, que todos saibam que, perto da gente, tem gente nesse exato momento melhorando a rua, o bairro – melhorando o mundo.

  A eles, nossa gratidão.
P.R.Barja

1 de agosto de 2014

Versos A Moraes

(um poema da madrugada pós-ValeSul)


O Método do Grande Irmão


Agosto - mês de cachorro louco, dizem alguns  -se aproxima. E eis que a CCR Nova Dutra adota o método 1984: anuncia o aumento dos pedágios... SEM utilizar a palavra “aumento”! Nem sequer o termo “reajuste” é mencionado.
O informativo (fartamente) distribuído aos motoristas (em cada um dos muitos pedágios da Via Dutra) diz apenas que “passam a vigorar novas tarifas de pedágio da Rodovia Presidente Dutra”. Lança, em seguida, um singelo convite à população:
“Conheça os valores das tarifas: ...”
Imagino que os próximos comunicados sobre aumento no valor do pedágio falarão de “redução com sinal trocado”. Num estágio mais avançado de desfaçatez, talvez cheguem a festejar a “ótima notícia: valores mais adequados para o pedágio”!
Não é novidade: na sociedade descrita por George Orwell no livro 1984 (escrito em 1948), simplesmente altera-se o registro do passado, para cercear qualquer possibilidade de análise crítica. Deste modo, por exemplo, um aumento de R$2,50 para R$2,70 pode ser anunciado como:
“Ótima notícia! Alteração do pedágio para o valor reduzido de R$2,70”
As pessoas, nesse caso, seriam levadas a crer que houve um decréscimo em vez de um aumento, pois o valor antigo seria alterado em todos os registros para parecer que houve uma queda, digamos, de R$3 (valor fictício) para "apenas R$2,70".
Estejamos atentos.
31/julho/2014

19 de julho de 2014

haikai


no espaço
aquilo que é denso
flutua

(P.R.Barja)

SP oficializando a discriminação: Vagão Rosa no metrô paulista


Acabo de ler que já está na mesa do governador paulista a proposta de criar um VAGÃO ROSA só para mulheres no metrô de SP. A ideia seria "evitar assédio". 
Confesso que não entendo.
Então é assim? Mais uma vez, as "soluções políticas contra a opressão" significam trancafiar os próprios oprimidos? Não seria melhor se todos nos uníssemos para não permitir qualquer tipo de agressão às mulheres?
Sempre é mais fácil jogar a culpa nas vítimas.
Mas é, também, mais covarde.

16 de julho de 2014

Vida em vão? Não!


Que mundo estranho esse:
um pintor passa a vida ouvindo que "não vale nada" (e é tratado como louco);
depois que morre, um quadro seu passa a valer mais de 80 milhões de dólares.
O contrário já seria melhor...
(P.R.Barja)

2 de julho de 2014