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29 de outubro de 2015

Dois Vídeos

Depois de um longo tempo sem postar nada por aqui...


"YELLOW" (Coldplay)

"CHANCE PRA PAZ" (Lennon/Ono/Barja)
Turma PP 2015 cantando
na aula de Expressão Artística
da FCSAC/Univap

17 de maio de 2013

Amor Obsessivo (por Hakim Bey)

(texto original de Hakim Bey; tradução: P.R.Barja)

Uma "dialética áspera" nos leva a perceber um gosto impuro na História: sob uma operação de escavação, localizamos uma coleção de antiguidades suprimidas e realizadas – práticas tolas, obsoletas e insatisfatórias como o "Amor Obsessivo". A ideia de Romance é romana apenas no sentido de que foi trazida (de volta) à Europa por Cruzados e Trovadores. A paixão enlouquecida e sem esperança aparece pela primeira vez em textos orientais, como no Anel da Pomba de Ibn Hazm (na verdade uma gíria para para o pênis circuncidado) e nas primeiras versões de Layla e Majnun do Arabistão. Os sufis se apropriaram da linguagem desse tipo de literatura, erotizando assim ainda mais uma cultura e religião já erotizadas.

Mas se o desejo permeia toda a estrutura e o estilo do Islã, continua no entanto a ser um desejo reprimido. "Aquele que ama, mas permanece casto e morre de saudade, alcança o status de um mártir na Jihad", ou seja, chega ao paraíso – ou assim diz a tradição popular (mas talvez espúria) do próprio Profeta. A tensão cortante desse paradoxo cristaliza uma nova categoria de emoção na vida: o amor romântico, baseado no desejo insatisfeito, na separação em vez da união, isto é, em saudade. O período helenístico (como evocado por Kaváfis, por exemplo) forneceu os gêneros para essa convenção – o "romance" em si, o idílio e a lírica erótica – mas o Islã lançou nova luz para as velhas formas com seu sistema de sublimação passional. O fermento greco-egípcio-islâmico adiciona um toque pederasta ao “novo” estilo; além disso, a mulher ideal do romance não é nem mulher nem concubina, mas “alguém proibido”, certamente fora da categoria de simples reprodutor(a). Deste modo, o Romance aparece como um tipo de gnose, em que espírito e carne ocupam posições opostas, talvez também como uma espécie de “libertinagem extremada” em que uma forte emoção é vista como mais satisfatória até mesmo do que a própria satisfação. Visto como "alquimia espiritual", o objetivo da coisa parece ser a interiorização de uma consciência não-ordinária. Este desenvolvimento alcançou graus extremos, mas ainda "dentro da lei” com sufis como Ahmad Ghazzali, Awhadoddin Kermani e Abdol-Rhaman Jami, que testemunharam “a presença do Ser Divino” em certos meninos bonitos e ainda assim permaneceram (supostamente) castos. Os Troubadors (trovadores) disseram o mesmo de suas damas adoradas; Dante Vita Nuova representa o exemplo extremo. Tanto cristãos quanto muçulmanos percorreram precipícios traiçoeiros com esta doutrina de castidade sublime, mas os efeitos espirituais, por vezes, podem ser enormes, como com o iraquiano Fakhroddin, Rumi ou mesmo Dante.
Mas não seria possível ver a questão do desejo de uma perspectiva tântrica e admitir que a "união" em si é também uma forma de iluminação suprema? Tal posição foi tomada por Ibn 'Arabi, que no entanto limitava a discussão a “casamento legal” ou “concubinato”. Como o homossexualismo era proibido na lei islâmica, um sufi que amasse garotos não teria a possibilidade legal de realização sensual. O jurista Ibn Taimiyya uma vez perguntou a um dervixe se ele tinha feito mais do que simplesmente beijar o ser amado. "E se o que eu fiz?", respondeu o interrogado. A resposta seria certamente "culpado por heresia!", isso para não falar de formas consideradas ainda mais graves de crime. Uma resposta semelhante seria dada a qualquer trovador de “tendência tântrica-adúltera”, e talvez tenha sido esse tipo de resposta que levou alguns deles para a heresia organizada do catarismo [1].
O amor romântico no Ocidente recebeu energias do neoplatonismo, assim como o mundo islâmico, e a ideia de romance fornecia uma forma aceitável (ainda ortodoxa) de compromisso entre a moral cristã e o “erocosmo” redescoberto da Antiguidade. Mesmo assim, o equilíbrio era precário: Pico della Mirandola e o pagão Botticelli acabaram nos braços de Savonarola [2].
Uma minoria secreta de nobres renascentistas, clérigos e artistas optou firmemente pelo paganismo clandestino, a Hypnerotomachia Poliphilo [3] ou os monstros do jardim de Bomarzo, sugerindo a existência de uma facção ou seita “tântrica”. Mas para a maioria dos platônicos, a ideia de um amor baseado em espera solitária servia a propósitos ortodoxos e alegóricos, em que o sujeito amado só poderia ser uma sombra distante do real (como exemplificado por Santa Teresa e São João da Cruz) e só poderia ser amado de acordo com um “código cavalheiresco” casto e penitencial. A questão central do romance “A Morte de Artur” (de Malory) é que Lancelot não consegue sustentar o ideal cavalheiresco, amando carnalmente Guinevere em vez de se contentar apenas com o espírito.
O surgimento do Capitalismo exerce um estranho efeito sobre a ideia de romance. Só posso expressar isto com uma comparação absurda: é como se o ser amado se tornasse “o investimento perfeito”, sempre desejado, sempre pago, mas nunca realmente adorado. A abnegação do romance se harmoniza perfeitamente com a auto-negação do Capitalismo. Mais do que limitar suas exigências simplesmente à moral ou à castidade, o capital exige escassez, tanto de produção como de prazer erótico. A religião proíbe a sexualidade, emprestando uma aura de glamour à abstinência; o capital remove a sexualidade, mergulhando-a em desespero. A ideia de romance agora é o que leva ao suicídio de Werther, ao desgosto de Byron, à castidade dos dândis. Neste sentido, o romance se tornará a obsessão bidimensional perfeita da música popular e da publicidade, fornecendo um rastro de utopia dentro da reprodução infinita da mercadoria.
Em resposta a esta situação, os tempos modernos têm oferecido dois diferentes vereditos sobre o romance, aparentemente opostos. Um, o amor louco surrealista, claramente pertence à tradição romântica, mas propõe uma solução radical para o paradoxo do desejo, combinando a idéia de sublimação com a perspectiva tântrica. Opondo-se à escassez (ou "praga emocional", como diria Reich) do capitalismo, o Surrealismo propõe um excesso (transgressor) do desejo mais obsessivo e da realização mais sensual. O que o romance de Nezami ou Malory tinham separado (a espera e a união), os surrealistas propunham que se reunisse. O efeito era para ser explosivo, literalmente revolucionário.
O segundo ponto de vista relevante aqui também foi revolucionário, mas “clássico” ao invés de “romântico”. O anarquista-individualista John Henry Mackay desesperou-se com o amor romântico, que ele só podia ver como contaminado com as formas sociais de propriedade e alienação. O amante romântico espera “possuir” ou “ser possuído” pelo ser amado. Se o casamento é simplesmente prostituição legalizada (a análise anarquista usual), Mackay descobriu que o próprio amor havia virado uma mercadoria. O amor romântico é uma doença do ego e sua relação com a “propriedade”; em oposição a isto, Mackay propôs a amizade erótica, livre de relações de propriedade, com base na generosidade em vez de espera e retirada (ou seja, escassez): um amor entre sujeitos autônomos em relação de igualdade.
Apesar de Mackay e os surrealistas parecem opostos, num ponto eles concordam: o amor é soberano. Além disso, ambos rejeitam a herança platônica da “espera sem esperança”, agora vista como autodestrutiva - talvez uma medida da dívida que ambos (anarquistas e surrealistas) têm com Nietzsche. Mackay exige um Eros apolíneo, os surrealistas (claro) optam por Dionísio, obsessivo, perigoso. Mas ambos revoltam-se contra o “romance".
Hoje em dia, estas duas soluções para o problema do romance parecem ainda abertas, possíveis. Talvez a atmosfera pareça ainda mais poluída com imagens degradadas de desejo do que nos dias de Mackay ou Breton, mas não parece ter havido mudanças qualitativas nas relações entre Amor e Capitalismo tardio desde então. Admito minha preferência filosófica pela posição de Mackay porque tenho sido incapaz de sublimar o desejo num contexto de obsessão desesperada sem me sentir miserável e a felicidade (objetivo de Mackay) parece nascer da desistência de falso cavalheirismo e abnegado dandismo em favor de amores mais reais e "pagãos". Ainda assim, deve-se admitir que tanto “separação” quanto “união” são estados não-ordinários de consciência. Desejo obsessivo intenso constitui um “estado místico” que só precisa de um traço de religião para se cristalizar como êxtase neoplatônico. Mas nós, românticos, devemos lembrar que a felicidade também possui um elemento completamente alheio a qualquer aconchego morno-burguês ou covardia insípida. A felicidade expressa um aspecto festivo e até mesmo insurrecional que lhe dá – paradoxalmente – sua própria aura romântica. Talvez possamos imaginar uma síntese de Mackay e Breton – um guarda-chuva e uma máquina de costura numa ópera de mesa – e construir uma utopia baseada “na generosidade, tanto quanto na obsessão” (mais uma vez, vem a tentação de fundir Nietzsche com Charles Fourier e sua “Atração Fatal”); mas, na verdade, eu sonhei com isso (lembro, de repente, como se fosse literalmente um sonho) – e isso assumiu uma realidade tentadora filtrada para minha vida (em certas Zonas Autônomas Temporárias), um tempo-espaço “impossível”... e toda minha teoria se baseia nesta breve pista.
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[1] Os seguidores do catarismo deviam abster-se da alimentação carnívora, de atividades sexuais, evitar qualquer forma de violência; além disso, não poderiam possuir nenhum bem material (N.T.)
[2] Padre Dominicano que, na Florença do séc.XV, opôs-se fortemente à vida pagã e à imoralidade inclusive (principalmente?) na corte de Lourenço de Médici (N.T.)
[3] Um dos livros mais misteriosos do período renascentista, tendo sido impresso (em grego) no ano de 1499. Inclui diversas passagens oníricas e eróticas, com ilustrações em xilogravura.

19 de julho de 2012

Não me deixes mais (versão em português para "Ne me quitte pas")


Segue o vídeo da versão que fiz em português para a canção Ne me quitte pas, de Jacques Brel. Um dia será cantada em dueto com Eva Sielawa.


(obs.: sim, o "sujeito abandonado" desafina)

P.R.Barja

25 de março de 2012

Pra Que Chorar (Schumann/Heine/Nestrovski) - gravação: Paulo Barja

A canção original de Schumann é belíssima, e a versão do Nestrovski para o poema de H.Heine é muito boa, assim como a ideia básica do arranjo "casando" Schumann com Pixinguinha (o Nestrovski SABE das coisas).
De todo modo, como ainda acho que é fundamentalmente uma canção para piano-e-voz, arrisquei uma gravação caseira nesse formato... espero que não ofenda os ouvidos de ninguém:


24 de março de 2012

Dizem que Dizem (Aznar/Barja) - gravação

Primeira gravação, caseira, de "Dizem que Dizem"
(versão que fiz em português para a canção "Dicen que Dicen", de Pedro Aznar)

 

(veja neste blog e no YouTube a letra em português)

19 de março de 2012

Dizem que Dizem (Pedro Aznar, versão P.Barja)

(Segue abaixo a versão em português para a canção "Dicen que Dicen", de Pedro Aznar - feita direto aqui neste espaço, enquanto ouço repetidamente a canção e fico chocado com sua precisão para os dias atuais, nesta cidade onde ser pobre é crime. Mais pra frente, vou tentar registrar em formato piano-e-voz)


Dizem que dizem que andam dizendo
Tantas palavras só por falar
Como um eclipse para a verdade
Ocultar

"Livre" é ser dono do seu futuro
Para sonhar e realizar
Não é viver solto pelo mundo
Sem lugar

Chama-se "Império" no mundo antigo
Hoje se diz "Globalização"
E é para os países pequenos
Tubarão

Dizem que dizem que dizem que dizem
Dizem que dizem mal

Quando sonhamos um mundo unido
Nunca pensamos nesta prisão
São dez mil olhos guardando o ninho
De um falcão

Fogo é fogo, e sempre queima
Guerra não é paz, nem inferno, céu
Como teremos real justiça
Sob um véu?

 Dizem que dizem que dizem que dizem
Dizem que dizem mal

Hoje as palavras confundem tudo
Mostram 50 e escondem 100
Tanto poder na mão de tão poucos
Não vai bem

Tempo é dinheiro e dinheiro é tudo
Tudo tem preço e não tem valor
Homem há tempos se fez do barro
Por amor

Dizem que dizem que andam dizendo
Tantas palavras só por falar
Como um eclipse para a verdade
Ocultar

26 de janeiro de 2012

Sangrento Domingo - uma canção

Desde o início da absurda violência da pm paulista no caso Pinheirinho (violência autorizada pela administração municipal e pelo governo do estado, diga-se de passagem), penso na semelhança entre o que ocorreu aqui em São José dos Campos de Concentração e o fato narrado na letra de "Sunday Bloody Sunday", do grupo de rock irlandês U2. Hoje descobri que o "Bloody Sunday" irlandês fará 40 anos nos próximos dias, enquanto nós acabamos de ter o nosso. Achei no YouTube um vídeo dessa canção com imagens da ação na Irlanda, no início de 1972. Chocado com a semelhança entre algumas imagens de lá e o que vivemos aqui, fiz esta versão em português para a música.


SANGRENTO DOMINGO
(U2 - versão de P.Barja)

Deu na capa do jornal
Não dá pra fingir que "nada vai mal"
Até quando vai essa canção?
Até quando...?
Se hoje nós pudermos ser um só, hoje...

Gás pimenta logo às 6h
Bombas, tiros... "Saiam já vocês!"
Clima de guerra civil
E a PM mais violenta do Brasil

Domingo Sangrento, Domingo Sangrento

Uma guerra começou
Pobres perdem tudo e... QUEM GANHOU?
Ocupado coração
Mãe e pai, amigo, irmã e irmão

Domingo Sangrento, Domingo Sangrento

Até quando vai essa canção?
Até quando...?
Se hoje nós pudermos ser um só, hoje...
Se hoje...
Só hoje...
Limpe as lágrimas! Limpe as lágrimas!

Domingo Sangrento, Domingo Sangrento

A verdade é surreal:
Não está na tela e nem no jornal
E é difícil não chorar
Sem saber onde eles vão ficar

Domingo Sangrento, Domingo Sangrento

E essa história não tem fim:
Pinheirinho está pra sempre em mim

Domingo Sangrento, Domingo Sangrento
(Limpe as lágrimas, limpe as lágrimas...)