5 de dezembro de 2017

Em Nome da Cidadania

(a propósito da apreciação de projeto referente à proposta de "escola sem partido" em São José dos Campos)

     Sou homem, branco, católico, classe média, heterossexual; nunca passei fome e sempre tive onde morar. Sou maioria? Não: combinadas, essas características formam um subgrupo da sociedade – o subgrupo dos privilegiados, ou seja, dos que acessam as melhores opções de trabalho, independentemente de mérito. Mas, nesse contexto de vantagem competitiva (na verdade, injustiça estrutural), por que tantos com perfil assim mostram tanta dificuldade em abrir espaço para os demais? Impor uma visão de mundo oriunda de privilégios seria uma injustiça flagrante.
     Sou homem – nessa condição, reconheço o machismo da sociedade atual; é um tipo de injustiça que deve envergonhar a todos e precisa ser superado, em nome de uma convivência mais harmoniosa.
     Sou branco – assim, preciso saber do ponto de vista dos negros, secularmente oprimidos no Brasil. Mais que falar, preciso ouvir, para que superemos as diferenças ainda existentes.
     Sou católico – por isso, é importante que minha filha tenha acesso à Umbanda, ao Espiritismo, ao Budismo e às outras religiões na escola, para aprender a respeitar a diversidade.
     Sou de classe média – preciso então estar atento às demandas sociais, para ajudar o país a superar a desigualdade.
     Sou heterossexual – mas seria um monstro se desrespeitasse o direito de todo e qualquer indivíduo para viver sua sexualidade da forma que lhe for mais conveniente.
    Ao condenar uma opção diferente das minhas, estaria violando a própria noção de humanidade. Como pai, devo respeitar a autoridade dos professores, que devem trabalhar com plena liberdade. Como professor, preciso garantir que alunos jamais reproduzam as injustiças de que estamos fartos. Como cidadão, exijo o direito à diversidade.
     Por isso, pela cidadania, sou contra a “escola sem partido”.

Paulo Roxo Barja

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