Na triste manhã de sábado em que escrevo, um trabalhador está sendo velado em São José dos Campos; será sepultado à tarde. Foi assassinado durante o trabalho. Não falo de um empresário, industrial ou político; também não é diretor de empresa de ônibus nem Secretário de Transportes. Trata-se de um cobrador de ônibus, baleado durante um assalto na sexta-feira, 16 de fevereiro. Por conta disso, a paralisação dos cobradores e motoristas de ônibus no dia seguinte não é apenas justa: é necessária, para denunciar a absoluta fragilidade da vida de um cidadão trabalhador nesta cidade.
Vejamos: São José dos Campos tem hoje uma das maiores tarifas de ônibus do Brasil (fica atrás de Brasília e Campinas). Mesmo assim, as empresas de ônibus solicitam aumento de quase 40% na tarifa – devem mirar o Livro dos Recordes. Surreal, já que nenhuma categoria de trabalhadores recebeu esse aumento – nem os secretários do prefeito, já contemplados com polpudos 19%. Pergunta-se: que segurança essas empresas – e, em última análise, a prefeitura – oferecem ao cidadão? A pontualidade é questionável; a disponibilidade de veículos em certas linhas beira o ridículo, com ônibus a cada hora e meia, provando que o sistema público de transporte visa o benefício apenas dos “de cima”, submetendo a população a duras condições de lotação – tentem espremer seis pessoas por metro quadrado, como as empresas aceitam nos ônibus.
Atenta-se contra a vida a cada momento, aqui. Dizem que o barato sai caro. Aqui em São José, o caro é inaceitável.
Paulo R. Barja