6 de novembro de 2019

Cartografia conjunta

"Relatório" (feito em cordel) sobre 1 projeto social e educativo desenvolvido por René Novaes Jr (INPE) e diversos parceiros. Viva a pesquisa social e colaborativa!


4 de novembro de 2019

VIDA SEVERINA: um espetáculo necessário


   Neste domingo pós-finados, fui ver "Vida Severina ou Tem Muita Gente Neste Barco", peça do Núcleo de Artes Cênicas do SESI SJC, composta a partir da justaposição das obras de João Cabral ("Morte e Vida Severina") e de Matei Visniec (Migraantes), sob a sensível direção de Roberval Rodolfo.
   Vou direto ao ponto: vejam a peça! O espetáculo está em cartaz no SESI SJC - e é gratuito. Muito bom. Roberval costurou 1 roteiro simplesmente brilhante: amarrou João Cabral com Visniec para discutir (i)migração.
Trata-se de 1 grupo jovem, amador - sim! E isso é mais uma razão para se acompanhar o trabalho. Há grandes valores individuais e a tendência é crescer como grupo, o que aliás já se verifica, ao longo dos últimos anos.
   A música é sempre um ponto importante dos trabalhos do NAC, merece atenção - assim como a garra, a alegria de se saber em cena para um debate importante.
   A peça em si é belíssima, um real ato de denúncia e resistência - imperdível e necessária no Brasil e na São José de hoje. Muitos saíram emocionados, mas arrisco dizer que o maior mérito do trabalho é gerar o empoderamento coletivo. Aquela sensação  de que, afinal, do lado dos humanistas, "ninguém solta a mão de ninguém". Neste sentido, acho particularmente importante que o trabalho seja prestigiado pelos colegas da classe artística.
   Vi ontem, já conto os dias para rever. Parabéns aos envolvidos. E sigamos na resistência lírica através da Arte.



1 de outubro de 2019

escola (um poema cotidiano)


pra
mim
tá na cara
a escola exagera:
40 exercícios? pra quando?
desde quando quantidade é qualidade?
"os pais gostam" - é o que alegam
sou a prova: há controvérsias
e eis que aos 15, 16
a menina estuda
manhã tarde noite
não brinca não descansa
estuda química estuda matemática
estuda história estuda geografia
estuda física e química de novo
estuda mais e mais química
sem parar nem pra comer
o estômago embrulha
vomita o almoço
é só melhorar que volta
estuda estuda estuda estuda
mas a grande lição do dia
é a que aprende em casa
não está no livro:
se for vomitar
favor utilizar
o vaso sanitário

P. R. Barja

30 de março de 2019

Fafá de Belém reunifica o Brasil


     São raros os que conseguem, mas o grande artista é assim: nos primeiros 30 segundos, conquista o público, transformando em festa os minutos seguintes. Benjamin diria que é uma questão de aura, e é bem essa a sensação que temos ao presenciar um show de Fafá de Belém. É dessas (raras) artistas que mesmo o crítico mais sóbrio tem vontade de cobrir de adjetivos: expressiva, expansiva, generosa...
     Com mais de 40 anos de carreira, Fafá de Belém impressiona nos palcos pelo talento e vitalidade. Desde os anos (19)70, a cantora vem construindo um repertório de grande versatilidade e que, justamente por sua diversidade, retrata à perfeição o Brasil. Fafá começou sua carreira cantando obras do mestre Waldemar Henrique, é presença frequente em trilhas de novela, canta (bem) Chico Buarque, deslumbra em despudoradas versões de canções brega, tem feito apresentações esporádicas com orquestra e, no show atual, privilegia as guitarradas do Pará.
     O formato da apresentação é, em si, uma aula: mescla conceitos de pocket-show (é um trio: a cantora e a excelente dupla Cordeiro nas duas guitarras) com as características de show grande, com direito a telão e, claro, a voz oceânica da protagonista. A sequência de imagens é muito bem escolhida, criando o cenário (e ajudando a dar o clima) de cada canção.
     Artista ampla, dessas que entra nas canções com a profundidade de atriz, Fafá alia o talento à cidadania. Quando fala, é com propriedade que o faz. Elegante e incisiva, sem citar nomes, critica o atual governo, que “se ajeita e faz acordos com o estrangeiro, mas não apoia a cultura aqui, no Brasil”. Fafá é categórica ao dizer: “nós, artistas, somos trabalhadores, não somos vagabundos como andam dizendo” – e alerta sobre a necessidade de união popular, para que “o povo não fique a mercê dos que estão lá em cima”. O mote do show, a mensagem que fica, é essa, de que o Brasil é grande e não faz sentido nenhum que estejamos divididos.
     Escolhido a dedo, o bis reforça o discurso da cantora, que alia graça e garra ao entoar os versos de Chico da Silva: “O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor”, seguidos pela canção-arremate, de Lulu Santos, que evidencia a defesa da união na diversidade: “Consideramos justa toda forma de amor”.
     Para alguns, a expressão “que tesão de show” pode invocar censura – que jeito chulo, que exagero, que isso, que aquilo... Mas acontece que, hoje, o tesão em si tornou-se manifestação de resistência. Então, para que disfarçar o inegável em malabarismos linguísticos?
     Que tesão de show.

Paulo Roxo Barja

27 de janeiro de 2019

Aos que ainda insistem em culpar um partido político por tudo

   Recebi por redes sociais (onde mais?) pseudoargumentos que tentam atribuir a um dado partido político a culpa pelo segundo crime ambiental (contra a humanidade) verificado neste 25/01/2019, em MG.
   Segue o que penso: a simples expressão "fundos de empresas estatais controlados pelo PT" é tão ficcional quanto "fundos controlados por gnomos" ou "fundos controlados por tucanos". É o tipo de falácia que não colabora em nada para esclarecer o ocorrido.
   Depois, considero insano "comprar" a ideia generalista de que "tudo isso se deve a uma quadrilha petista que inclui reitores" bla bla bla. Além de ser de um binarismo primitivista nível Bolsonaro (todos aqui podemos ir além disso, por favor), pergunto:
- Alguém aqui conhece algum "reitor petista"? Envolvido em relatórios ambientais  fraudulentos, pra completar?
   Não sou filiado a partido político algum - nunca achei um que merecesse minha confiança total, mas respeito quem seja filiado a qual sigla for. Mas já passou muito da hora de entender que PRECISAMOS (todos) tomar partido diante da questão REAL. Alguém aqui defende:
- Lucro acima de tudo?
- Uma empresa acima de todos?
   Trata-se, como há 200 anos, da (eterna) guerra de classes.  O nome do bicho é "capitalismo", e, para este sistema, desemprego e morte são consequências inevitáveis dos processos de maximização de lucros (um estudante na Cantina da Unicamp sabe explicar isso).
   Ah, sim: não nos esqueçamos de que TODA corrupção é privada. Absurdo? Não, obviedade: todo diretor de empresa, gerente, chefe de obra, capitão reformado ou deputado que desvia verba ou contrata milícia o faz em benefício pessoal, privado, particular. Desafio algum ser humano a apresentar uma única prova em contrário.
   Portanto, privatizar "apenas" acirra os ânimos e gera dividendos aqui e ali, mas jamais reduziu mortes, por exemplo.
   Tudo se trata de refletir: o que é mesmo que escolhemos para colocar acima de tudo e todos? O nome "Brasil" para mim não vale a morte de um único cidadão brasileiro. E ontem morremos muitas vezes, pois morreram muitos.

18 de janeiro de 2019

O FUTURO FUZIL

- Agora eu vou ter UM FUZIL!
   Ouvi essa frase enquanto aguardava na fila do caixa de um mercado na região central da cidade. A pessoa dizia isso ao celular; tive uma certa impressão de que chegara a levantar a voz, como se quisesse público para sua afirmação.
   Não me voltei para ver quem falava. Na verdade minha vontade era sair dali, se possível abrindo as asas e voando sem rumo, para perto das nuvens e longe dessa futura terra de fuzis.
   Não sei quem falou aquilo, nem porque falou. Mas reparei: era uma voz de mulher.

#SãoJoséDosTiros

3 de janeiro de 2019

RIR, A SÉRIO


     Lembro que uma estratégia frequente dos coxinhas era ridicularizar Dilma. Porém as falas dos "empoÇados" são muito mais propensas a revelar o ridículo que neles de fato habita. Nesse contexto, vejo com bons olhos uma postura crítica que alie lirismo (canalhas odeiam poesia) a bom humor (para sobrevivência da nossa oprimida alma). Além de tudo, soa como cobrança de coerência: riram antes, por que não agora? Por outro lado, se os ofendidos não entenderem, "tant mieux", que a prática  nos anime e aglutine e pronto.

     Percebo como real e grave o perigo da apatia da esquerda desacorçoada. Se o humor servir para acordar, já vale e muito.

     Tenho feito meus versinhos satíricos desde as primeiras horas do desgoverno. Ainda é cedo para avaliar a receptividade. Dizem que passarinho não esmorece de bicar cobra, mesmo sabendo-lhe venenosa. Sigo nas bicadinhas, ajudam inclusive a manter a forma.

P.R.Barja