7 de outubro de 2011

Produção artística e difusão literária - por um debate aberto

Prezados amigos, escritores e/ou acadêmicos joseenses,
   Nas últimas 24h, recebi - de 4 fontes diferentes - essencialmente a mesma mensagem, apresentando edital aberto pela Prefeitura de SJC no final de setembro.
   Transcrevo aqui o email recebido:

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Enviada em: Quarta-feira, 5 de outubro de 2011 16:15
Assunto: Início do período de cadastramento para autores residentes no município de São José dos Campos

Caros autores,
Boa tarde!
No dia 03 de outubro de 2011, teve início o processo de cadastramento de autores residentes no município de São José dos Campos, na Secretaria Municipal de Educação.
Esse cadastramento ocorrerá até o dia 14 de outubro. (Por gentileza, verificar detalhes do processo de inscrição no Anexo - Edital nº 06).
A abertura do processo de cadastramento pretende contemplar a primeira etapa da execução da Lei Municipal nº 8368/11, que dispõe sobre a criação do Programa de Valorização dos Autores de Livros residentes no Município. Pedimos, por gentileza, que leiam os detalhes no Edital em anexo. Ressaltamos que as informações também serão divulgadas no site oficial da Prefeitura. Sem mais.
Atenciosamente,
Mirian Menezes de Oliveira
Orientadora de Componente Curricular do Programa Sala de Leitura
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   Por considerar de extrema importância essa iniciativa, fui ler o edital, que assim descreve o que se espera dos projetos inscritos:

"Projeto, contendo Plano de Ação, contemplando atividades artísticas como teatro, música, pintura, desenhos, histórias em quadrinhos, saraus, hora do conto e teatro de fantoches."

   Ao ler, pensei: ah, posso convidar artistas que se interessem em ajudar a difundir a literatura de cordel nas escolas joseenses junto comigo. Vamos fazer algo realmente bom - e comecei a pensar em gente da melhor qualidade para essa empreitada. Então liguei para o telefone indicado no próprio edital para "informações adicionais" e perguntei:

- Por favor, qual a ajuda de custo que será oferecida aos escritores e aos artistas participantes do projeto?
   Resposta:
- Não haverá nenhuma ajuda de custo. O edital prevê apenas a divulgação das obras literárias.

   Agradeci a informação, desliguei e fiquei pensando: puxa, será que se esqueceram de que escritores, atores e músicos tem gastos com transporte? Precisam comer, se vestir, e para isso trabalham...
   Aos que pensam que devemos fazer tudo "por Amor à Arte", respondo: fazemos isso todos os dias, cada um do seu jeito - inclusive dentro da sala de aula! Mas, embora o Amor alimente, inverto aqui a (sempre atual) frase dos Titãs para lembrar que "a gente não quer só diversão e arte": comemos, pensamos - e, pior ainda, ainda nos arriscamos a questionar, por acreditar na construção conjunta  (dialética, democrática) de um modelo efetivo de política cultural em nossa cidade.
   Proponho aqui uma reflexão conjunta sobre as seguintes questões:

1) O que se entende por "valorização"? 
(Tem a ver com "trabalhar por valor zero", ou talvez com o conceito de "meritocracia", tal como apresentado na proposta do plano de carreira para os servidores municipais?)

2) Especificamente, o que seria "valorização dos autores de livros residentes no município"?

3) Quais as chances de escritores e artistas serem chamados a contribuir na elaboração de futuras propostas municipais para as áreas de Educação e Cultura?

4) Existe algum risco desse "programa gratuito de valorização da literatura na base do amor à camisa" ser utilizado como peça de campanha política, uma vez que 2012, o ano previsto para implementação, é ano eleitoral?

   Esclareço que não sou filiado a partido político e não proponho aqui uma discussão partidária. Por outro lado, como membro da Academia Joseense de Letras (AJL), tenho o dever de me posicionar, até porque a comissão avaliadora prevista no edital inclui a AJL.
   Sei que o tempo de cada um de nós é valioso, então para ganhar tempo proponho alternativas:

1) Que tal um edital para formação de Estantes de autores joseenses em todas as escolas e bibliotecas municipais? A prefeitura pode avaliar e comprar os livros ou obras que considere de excelência para a formação educacional dos jovens da cidade.
(obs.: este ano já foram implantadas várias "cordeltecas joseenses" em municípios de SP e Paraná, com apoio do governo federal, porém é dada prioridade a municípios com baixo IDH, pois entende-se que cidades como São José dos Campos apresentam condições de bancar iniciativas semelhantes).

2) Outra proposta seria um Cadastro de artistas que se disponham a apresentar em escolas obras vinculadas à literatura, recebendo para isso um cachê adequado. Sei de muitos grupos joseenses que tem desenvolvido esse tipo de trabalho, independentemente da prefeitura, graças à sensibilidade de professores e diretores de escolas públicas e particulares. Mas é claro que seria bom contar com o apoio da administração municipal.

3) Futuros editais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) poderiam incluir especificamente uma categoria Literatura, voltada para criadores literários que apresentem propostas de atividades como palestras, encontros literários e rodas de leitura, atuando assim na difusão da literatura em nossa cidade.

   Creio que muitas cabeças pensam (muito) melhor que uma. Assim, minha ideia com esse texto é apenas propor a abertura de um debate franco e democrático sobre a efetiva valorização da literatura e dos criadores artísticos em nossa região. Por favor, contribuam com ideias, questões, propostas...
   Saudações cordelísticas,
Paulo Roxo Barja

8 comentários:

  1. Estou pasmo com o que esse tipo de gente pensa ser valorização artística.

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  2. Paulo, aqui...perplexa...

    ...lendo o edital que recebi por e-mail, chama a minha atenção que um documento oficial/ um edital, o 006/2011 da Secretaria Municipal da Educação da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, disponibilize um endereço eletrônico NÃO OFICIAL, um endereço do YAHOO que pode ser criado por qualquer um, com boa ou má intenção. Com dados reais ou fictícios.
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    Interessante, não?
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    O que nisso se revela? 
    Em sendo um EDITAL DO MUNICÍPIO, por qual razão, o PRÓPRIO MUNICÍPIO não dá o seu nome/ sobrenome? Não o nomeia com um @sjc.sp.gov.br? 
    Por qual razão um projeto da Secretaria da Educação NÃO INCLUI um e-mail oficial?
    Se não o nomeia, como sustentá-lo? Como responsabilizar-se? Por qual razão se não o conheço como meu?
    Quando BATIZO e REGISTRO COM MEU NOME, me projeto no REBENTO e farei de tudo para dar condições saudáveis de desenvolvimento. Mas a Secretaria deu um lugar FORA para o projeto, não o acolheu, não o incluiu entre os seus projetos, então... qual a credibilidade? Porque investir?

    Logoo, se esse projeto da Secretaria da Educação não recebe o nome do Pai  (@sjc.sp.gov.br), se nem ele recebe status de 'filho', se nem a própria Secretaria que abre o edital consegue valorizar os seus, como ter olhos para valorizar o Outro?

    É, é um detalhe,... mas revelador...

    Se a discussão por aqui ou pessoalmente (eu prefiro) for no sentido de uma construção, APESAR da Prefeitura, APESAR da FCCR, e PARA ALÉM DE AMBAS... CONTE COMIGO! Inclusive, se necessário for, para nomear o que possa surgir disso, se necessário, com @artekula.com.br que em breve (espero) estará de volta.

    Estou descrente da eficácia de algumas ações, estou sem energia para as manifestações fantásticas dos estudantes (aplaudo o posicionamento deles),  porém, se for no "para além" e no "apesar de", conte, mesmo, comigo!
    Abraço,
    Andréa Mourão
    andrea@artekula.com.br
    andrea.mourao@uol.com.br
    P.S.: do iPAD não foi possível postar com meu endereço do Google

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  3. Andréa,
    FANTÁSTICO o seu comentário! Revela uma leitura atenta, que me faz admirar profundamente gente como você. Confesso que fiquei tão boquiaberto com a desfaçatez da proposta indecente que nem tinha percebido esses pontos, muito bem colocados por você.
    Sabe, estou naquele momento da vida em que sinto o dever de NÃO aceitar quieto esse tipo de coisa, entende? Não dá.
    E, nesse ponto, ando "energizado", dando uma força para o movimento estudantil através de textos e da minha presença em reuniões, e buscando parcerias com cidadãos que topam essas empreitadas.
    Dia 15 vai ter evento na Praça Afonso Pena, passarei por lá com um jornal debaixo do braço pra comentar com quem quiser ouvir. Apareça! Abraços
    Paulo

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  4. Mirian Menezes de Oliveira13 de outubro de 2011 às 15:11

    Olá, pessoal!
    Boa tarde!
    Tudo bem?
    É importante que haja debate em torno de leis e assuntos novos que vão aparecendo no município.
    O que posso dizer é que torço por todos os artistas em geral; também sou escritora; não estou participando do processo, por ser membro da Comissão. Ainda estou "cavando meu espaço" como autora em outros locais.
    Trabalho como coordenadora do Programa Sala de Leitura da Rede de Ensino Municipal, com professores maravilhosos (faço o que gosto!) e, apenas para efeito de esclarecimento, ressalto que o e-mail do Yahoo, citado no site foi ideia minha, para ficar com maior tempo disponível, para responder aos questionamentos dos escritores.
    O e-mail institucional pode ser aberto somente em horário de expediente. Achei que um e-mail que não fosse oficial, seria capaz de me dar mobilidade... e deu... Respondi a questões de escritores à noite, aos finais-de-semana, em feriados... enfim... a intenção foi a melhor possível. Desculpe-me se fui mal entendida.Acho que fui ingênua demais!
    Gostaria de deixar isso bem esclarecido, pois prezo muito o que faço, em meus 21 anos de Prefeitura; sou apenas um dos membros da Comissão Avaliadora. Deixei de concorrer, porque achei a causa nobre e aos que tem dúvida a respeito dos trâmites, socializo a Lei Municipal 8.368 de 05/04/2011 (disponível no site da Câmara Municipal), que não foi feita por mim.
    No mais, coloco-me à disposição e quero expressar aqui meu grande amor pela literatura e pelas artes, em geral.
    Desejo sucesso a todos e que Deus os abençoe, trazendo-lhes muito sucesso!

    Um grande abraço,

    Mirian Menezes de Oliveira

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  5. Minha Gente!

    O silêncio nunca foi minha linhagem preferida contudo, diante dos acontecimentos políticos, questões profissionais, incertezas e editais vencidos deixei sistematicamente que a descrença fraturasse minha porção de alento.
    Mirian todos os seus gestos estarão eternamente registrados em minha vida. Nossos sonhos eram quase idênticos; transformar o simbólico em pragmatismo. O longo tempo consumido no ofício das ações e gentilezas lhe conferiu a diferença, educação e cuidados. Não se preocupe haverá sempre luz no caminho daqueles que estão empenhados na promoção da verdade e do bem comum. Você sempre esteve.
    Eu fui vidraça por insistência própria. Contabilizei pedradas, conheci hipócritas mas, fui muito feliz e ainda sou.
    Embora ande impaciente e desmotivada com alguns processos em vigência, Instituições, leis e propostas.
    Prefiro continuar a marcha na invisibilidade mas, com posse de mim e disposição para o outro. Exercitando a gratuidade sim! Por meio de convites livres, numa obrigação voluntária e pretensiosa. Sem passar pelo crivo do abate.
    Na minha insignificância continuo apaixonando-me diariamente pela literatura produzida em São José dos Campos.
    Acabo de reler Cultura Popular do Vale do Paraíba – da Jacqueline (recém editado, lindo!) Emociono-me com tanta riqueza. Sinto vontade de falar da obra, propagá-la, declamar nas escolas e praças!

    Falando em praça Paulo, sou muito apreciadora de sua conduta e postura. Estarei na Afonso Pena em movimento sábado. Aprendo muito com você. As escolhas que fazemos são definitivas para nossas realizações.

    Finalizo estendendo minhas duas mãos e abraço com uma citação do Gibran Khalil:

    “É belo dar quando solicitado, porém é mais belo dar por haver compreendido”.

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  6. Mirian,
    Toda escolha tem consequência e com o e-mail não oficial, não seria diferente. É expressivo e lindo de ler sua dedicação com causa nobre em feriados, finais de semana, te dando mais mobilidade, porém essa é você e a Instituição permanece engessada? Imóvel?
    Admiro seu trabalho, implicação e, principalmente, seu desejo. Mas é preciso que a Instituição deseje também e que implique-se, assim como você.
    Mesmo a ideia (do e-mail) tendo sido sua, a crítica não foi para você. Essas marcas de desvalorização têm sido constantes. Você, sozinha não pode e nem deve sustentar a causa, você ama a literatura e as artes em geral, o seu desejo é imenso, mas se o EDITAL é da Secretaria da Educação, entendo que está precisaria mobilizar-se... Enquanto a Mirian se mobiliza a Instituição permanece estanque. A "causa nobre" deve ser causa e causar a Instituição.
    Toda essa conversa seria diferente se a história, diferente fosse. Mas se repete. Posso citar o acontece em outra Seçretaria. O Estado definiu e destinou uma verba ao Município para um belíssimo Programa onde profissionais altamente capacitados fossem contratados para fazer com que funcionários públicos pensassem a sua prática. Em um lugar X, a chefia que não acompanha o dia-a-dia da Unidade quis "pensar" a prática que não faz e que não tem e o profissional não permitiu, por considerar que a prática precisa ser pensada pelos que a fazem e por perceber uma tentativa de controle e intimidação para que as coisas não aparecessem. Um longo período se passou, meses, e o profissional contratado não recebeu por seu trabalho em nenhum dos meses. E, certa vez, ouviu dessa mesma chefia impedida de participar do processo: "se não está recebendo, porque continua vindo?"...
    ...não seria justamente essa a razão do não pagamento? Para que o outro que não está recebendo, deixasse de comparecer? E não estava recebendo não pq não estivesse fazendo o trabalho, mas sim porque não aceitou que quem não estivesse construindo a Unidade no dia-a-dia, participasse desse trabalho, intimidando e impedindo que as vozes surgissem. E o profissional ainda não recebeu, essa foi a retaliação possível de controle no real, mas a chefia não contava com o desejo desse que entendeu e que bancou e que sustentou o seu NÃO, até que a chefia denunciou-se na frase posta acima. O profissional não intimidou-se, não recuou diante do não pagamento, e não possibilitou um apagamento do programa. A chefia não pagou, mas também não participou, e o trabalho aconteceu e os servidores públicos atuantes na unidade puderam se manifestar, pensar, sem que se sentissem ameaçados.
    Acredito que muitas coisas possam ser feitas sem remuneração financeira, pois os pagamentos não se dão somente pelo dinheiro. Mas é preciso proporcionar que as Secretarias façam diferente e só farão diferente, acredito eu, quando se implicarem de fato em causas nobres.
    Com enorme carinho me despeço de pessoas que tanto admiro, Miriam, você, entre elas.
    Andréa Mourão

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  7. .

    Acho a ideia do edital boa, mas carece de ajustes. Confesso que tinha planos em divulgar meu livro infantil nas escolas na forma de teatro, mas sei que atores precisam receber. Diante disso, desisti, pelo menos por enquanto. Talvez eu encontrasse uma alternativa queimando alguns neurônios, mas o prazo não dá nem para respirar.
    Mas, vamos em frente: paz na Terra aos de boa vontade.

    Abraços.

    .

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  8. Olá,

    Fico muito FELIZ em encontrar pessoas das quais me identifico por aqui.
    Sou jornalista por formação, apaixonada pela responsabilidade social da minha profissão, mas acima de tudo, jovem joseense INDIGNADA com o sistema.
    Confesso que fiquei chocada do secretário da educação assinar o edital no dia 22 de setembro, mais ainda com o fato de ser um PÉSSIMO edital. Faça-me crer que isso só pode ser para o privilégio de poucos, com o intuito de NÃO prezar pelos interesses da sociedade.
    Porém, não posso aos 26 anos ser cética, procurei sim me escrever e para isso ontem estive presente na secretaria de educação.
    Ao deixar um exemplar do livro de minha autoria, munida do tal PLANO DE AÇÃO, pedi mais esclarecimentos e levantei MUITAS questões das quais estão registradas aqui.
    Conheci muitas pessoas, entre elas a Mirian.
    NINGUÉM SABE EXPLICAR ESSAS QUESTÕES................
    NEM O GOVERNO SABE O PORQUÊ E PARA ISSO FOI CRIADO. OUUUU... NÃO QUEREM EXPLICAR! SUGESTÃO: não vamos nos apegar ao cachê (inicialmente, até porque nem relógio trabalha de graça), MAS, vamos aproveitar essa brecha para abrir as discussões, para exigir a participação de escritores, artistas e SOCIEDADE no avanço e progresso da educação.

    Sou jovem, tenho filhos, quero e penso que podemos começar por nós a mudar esse cenário.
    Ouvi da própria Mirian, que não isentava a participação desde o início do projeto mas que eu deveria procurar por quem FEZ a Lei. Atrás do Cury e do Secretário de Educação eu sempre vou, estive no começo do ano com o Sr. Mário da FCRR.
    Somos cabeças pensantes, formadores de opiniões e como coloquei a própria Mirian, minha obrigação é a de ser informada porque existem pessoas dependendo das minhas respostas.
    VAMOS NOS UNIR?
    Fica aqui meu email: kbertholini@gmail.com
    Estou SUPER aberta para que iniciemos JÁ uma ação organizada e nos preparemos para as “cobranças”.
    Sinto que temos uma grande oportunidade que eles criaram, porque não?
    @kbertholini
    Krol Bertholini
    (nas redes sociais assino assim)

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