6 de outubro de 2012

Relato cruel - mas verdadeiro

 
Envergonhado, ele se aproxima e vai logo avisando: não quer dinheiro.
Trinta e poucos anos de idade, não mais que 40, ele conta sua história, e simplesmente não é possível duvidar da palavra daquele homem.
Conta que foi contratado em Guarulhos para ir a São José dos Campos num caminhão, junto com pedras e azulejos.
O "contrato" é verbal: 70 reais pelo dia de trabalho, e à noite voltaria para sua cidade e família, em Guarulhos, no mesmo caminhão que o levou.
Ele aceita. Vem para São José, onde trabalha o dia todo.
Ao anoitecer, ouve do seu contratante:
"Vá passar uma água no corpo antes de entrar no caminhão, você está todo sujo de cimento! Em seguida, acerto a grana combinada e voltamos."
Ele também aceita a sugestão.
Mas, quando volta ("coisa de cinco minutos"), vê o caminhão indo embora.
Aí percebe: foi enganado.
Trabalhou de graça, e agora está longe de casa. Longe demais pra voltar a pé...
Então ele anda, anda pela cidade que não conhece, e encontra uma igreja, onde lhe prometem ajuda... mas só para "depois de amanhã".
"Ué, e onde você está dormindo?"
"Na rua... até depois de amanhã. O sr. poderia pagar só um cafezinho pra mim? Desculpe, é que não tô parando em pé..."
Chegando na padaria, meio sem jeito, mas sempre educado, ele reformula o pedido:
"Poderia ser um refrigerante em vez de café? Está muito quente hoje..."
Aceito. Conversamos brevemente, ele está mais calmo.
Eu não.
Saio triste, pensando: "É assim que o ser humano trata seu semelhante? E alguns depois dizem que os políticos é que são safados..."
Este é um relato cruelmente verdadeiro. Aconteceu hoje, 6 de outubro de 2012.
Pergunto: até quando?
A mudança não depende de partido político. Depende de cada um.

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