Quem me faz perder o sono
Não são os meus inimigos.
São os meus amigos.
Passo a noite insone
Preocupado, atônito
Pelos meus amigos.
Saio pelas ruas
Buscando esperança
Para meus amigos.
Madrugada. Frio.
Na esquina, o fuzil.
Cadê meus amigos?
Recuso-me a ir
Para outro país
Sem os meus amigos.
Minha casa é bunker,
Trincheira, aparelho
Para os meus amigos.
Jamais tranco a porta.
Pode ser que cheguem
À noite, os amigos.
Faremos silêncio
Nesse tempo tenso
De poucos amigos.
O café amargo.
O abraço largo.
Abraço de amigos.
O lirismo existe
E sei que resiste
Pelos meus amigos.
Ao Deus que nos vê
Peço apenas isso:
Ampare-os. Proteja-os.
Se eu for preso, faça
Com que esqueça o nome
Desses meus amigos.
Eu nada direi.
Que meu sangue aqueça
O dos meus amigos.
Leiam Brecht por mim
E ouçam muito Chico,
Queridos amigos.
Pratiquem Boal,
exercitem Freire,
Orgulhem-me, amigos.
Canções de protesto
Mas de Amor também.
Viva meus amigos!
O amanhã virá.
Que os encontre bem.
São os meus amigos.
(Paulo Roxo Barja)
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