"Projeto, contendo Plano de Ação, contemplando atividades artísticas como teatro, música, pintura, desenhos, histórias em quadrinhos, saraus, hora do conto e teatro de fantoches."
Ao ler, pensei: ah, posso convidar artistas que se interessem em ajudar a difundir a literatura de cordel nas escolas joseenses junto comigo. Vamos fazer algo realmente bom - e comecei a pensar em gente da melhor qualidade para essa empreitada. Então liguei para o telefone indicado no próprio edital para "informações adicionais" e perguntei:
- Por favor, qual a ajuda de custo que será oferecida aos escritores e aos artistas participantes do projeto?
Resposta:
- Não haverá nenhuma ajuda de custo. O edital prevê apenas a divulgação das obras literárias.
Agradeci a informação, desliguei e fiquei pensando: puxa, será que se esqueceram de que escritores, atores e músicos tem gastos com transporte? Precisam comer, se vestir, e para isso trabalham...
Aos que pensam que devemos fazer tudo "por Amor à Arte", respondo: fazemos isso todos os dias, cada um do seu jeito - inclusive dentro da sala de aula! Mas, embora o Amor alimente, inverto aqui a (sempre atual) frase dos Titãs para lembrar que "a gente não quer só diversão e arte": comemos, pensamos - e, pior ainda, ainda nos arriscamos a questionar, por acreditar na construção conjunta (dialética, democrática) de um modelo efetivo de política cultural em nossa cidade.
Proponho aqui uma reflexão conjunta sobre as seguintes questões:
1) O que se entende por "valorização"?
(Tem a ver com "trabalhar por valor zero", ou talvez com o conceito de "meritocracia", tal como apresentado na proposta do plano de carreira para os servidores municipais?)
2) Especificamente, o que seria "valorização dos autores de livros residentes no município"?
3) Quais as chances de escritores e artistas serem chamados a contribuir na elaboração de futuras propostas municipais para as áreas de Educação e Cultura?
4) Existe algum risco desse "programa gratuito de valorização da literatura na base do amor à camisa" ser utilizado como peça de campanha política, uma vez que 2012, o ano previsto para implementação, é ano eleitoral?
Esclareço que não sou filiado a partido político e não proponho aqui uma discussão partidária. Por outro lado, como membro da Academia Joseense de Letras (AJL), tenho o dever de me posicionar, até porque a comissão avaliadora prevista no edital inclui a AJL.
Sei que o tempo de cada um de nós é valioso, então para ganhar tempo proponho alternativas:
1) Que tal um edital para formação de Estantes de autores joseenses em todas as escolas e bibliotecas municipais? A prefeitura pode avaliar e comprar os livros ou obras que considere de excelência para a formação educacional dos jovens da cidade.
(obs.: este ano já foram implantadas várias "cordeltecas joseenses" em municípios de SP e Paraná, com apoio do governo federal, porém é dada prioridade a municípios com baixo IDH, pois entende-se que cidades como São José dos Campos apresentam condições de bancar iniciativas semelhantes).
2) Outra proposta seria um Cadastro de artistas que se disponham a apresentar em escolas obras vinculadas à literatura, recebendo para isso um cachê adequado. Sei de muitos grupos joseenses que tem desenvolvido esse tipo de trabalho, independentemente da prefeitura, graças à sensibilidade de professores e diretores de escolas públicas e particulares. Mas é claro que seria bom contar com o apoio da administração municipal.
3) Futuros editais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) poderiam incluir especificamente uma categoria Literatura, voltada para criadores literários que apresentem propostas de atividades como palestras, encontros literários e rodas de leitura, atuando assim na difusão da literatura em nossa cidade.
Creio que muitas cabeças pensam (muito) melhor que uma. Assim, minha ideia com esse texto é apenas propor a abertura de um debate franco e democrático sobre a efetiva valorização da literatura e dos criadores artísticos em nossa região. Por favor, contribuam com ideias, questões, propostas...
Saudações cordelísticas,
Paulo Roxo Barja