28 de outubro de 2014

"Que Fim Levou Samanta Miller" - lançamento


Depois de meses de diversão e (muito) trabalho, dia 25/10/2014 ocorreu na Univap Urbanova o lançamento da pulp fiction universitária "Que Fim Levou Samanta Miller", escrita em conjunto por Paulo Barja e o Coletivo Fidelio (alunos da FCSAC - Univap). 
Clique para ver o álbum de fotos.

24 de outubro de 2014

Regulamentação da mídia (colaborando para o debate público)

   Para começar, vejamos o que diz sobre liberdade de expressão o Capítulo I da Constituição Federal (1988), no artigo quinto:
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...)
IX – é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
(...)
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.

   Pronto. Agora vamos lá: o que é a tal “regulamentação da mídia”, que existe em tantos países e no Brasil não sai da gaveta?
   Basicamente, seria um tipo de regulamentação para evitar concentração excessiva de meios/mídia sob controle de “poucos proprietários". Em outras palavras: busca evitar a concentração de muitos veículos de mídia na mão de um único grupo ou família.
   No contexto brasileiro, entendo que limitar a alta concentração hoje existente em torno das poucas e poderosas “famílias da mídia" no Brasil seria justamente uma forma de garantir a liberdade de expressão, que nossa Constituição de 1988 defende mas, na prática, ainda não existe. Prova: os casos frequentes de jornalistas demitidos por grandes grupos hegemônicos pela simples ousadia de “pisar fora da linha editorial” (estou usando um eufemismo). Assim, a pressão ideológica sobre o profissional da comunicação pode ser vista como subproduto da concentração da mídia.
   Há um Projeto de Lei (PMDB/BA) para substituição da Lei da Imprensa que voga desde a ditadura militar. Clique AQUI para ver a respectiva ficha de tramitação. O Projeto foi apresentado em 1991. Detalhe: NÃO foi votado, debatido, apreciado - estamos em 2014!
   Minha leitura, simples: os congressistas temem as “famílias da mídia”. Vejamos outras leituras, a partir da matéria da Revista FORUM, ed. 146:


Segue um trecho e alguns depoimentos presentes na matéria mencionada:

O Fórum Nacional Pela Democratização dos Meios de Comunicação (FNDC) visa colher 1,3 milhão de assinaturas no intuito de propor um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para a regulamentação da comunicação social eletrônica do país, além de levar o debate à sociedade.

Ivo Freitas (coletivo Mídia Ninja): diz que não houve avanço político no que diz respeito à regulamentação. “Mas não é por falta de vontade, tanto do governo em si como dos alternativos da mídia. A tentativa de regulação dos meios de comunicação ainda sofre bastante oposição das famílias detentoras das concessões. O que se pode dizer é que a discussão avançou”.

Mayrá Lima (conselho diretor do Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social): “A radiodifusão segue monopolizada e as famílias que controlam o conjunto da grande mídia no Brasil continuam usufruindo das concessões públicas sem que haja um mecanismo em que a sociedade possa fiscalizar possíveis violações de direitos. Carecemos de um regramento que impeça a propriedade cruzada, garanta pluralidade e diversidade nos meios de comunicação.”

FORUM: Por que entra e sai governo e as legislaturas, sucessivamente, não fazem o debate em torno de um novo marco para a mídia?

Conceição Oliveira (blog Maria Frô): “Não avança porque o Congresso é feito por políticos que dividem este monopólio midiático. Collor, Sarney, Renan [Calheiros], família de Antônio Carlos Magalhães dividem concessões de rádio e TV retransmitindo a Globo, vários têm jornais etc.

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Outro artigo interessante (e esclarecedor) sobre o tema está disponível aqui:

Diário do Centro do Mundo:

P.R.Barja

22 de outubro de 2014

A Força das Minorias


Venho aqui manifestar
total solidariedade
a todas as minorias
do nosso imenso país:
as opções minoritárias 
as siglas minoritárias 
as vozes minoritárias
falo isso comovido
comovido e convicto
de que são as minorias
unidas, reconhecidas
nobres no olhar e nos gestos
que dão rumo a essa nação
pois são essas minorias
unidas, reconhecidas
que sabem da força imensa
do respeito às diferenças
assim ensinam e aprendem
assim juntos aprendemos
que a soma das minorias
vence todo preconceito
converte-se em maioria
mas maioria sensível
mais madura e mais feliz
e é disso que precisamos

P.R.Barja

18 de outubro de 2014

Crônica - O Nó da Gravata

(para meu pai, o eterno maestro Barja)


     Tudo que é tocado por aqueles que amamos adquire novo significado para nós. Se era um objeto simples, agora é especial; se era banal, agora é único. Pode até virar amuleto, símbolo do amor, do caráter eterno do afeto – e da saudade.
     Penso nisso a partir de uma simples gravata. E é particularmente curioso que seja uma gravata, já que praticamente não uso gravatas. Chego a passar anos feliz, sem usar gravata uma única vez. Mesmo em ocasiões formais, dou quase sempre um jeito de abdicar do terno em favor de um blaser e uma calça social, só para me sentir absolutamente desobrigado de usar gravata. Mas já cheguei mesmo a cometer o que para alguns seria pecado: colocar o terno e não colocar a gravata.
     Acho que há apenas uma ocasião em que aceito o formalismo no vestuário, e de bom grado. É quando me convidam para ser padrinho de casamento. Acho bonito, uma honraria. Penso assim: até mesmo o convite para uma palestra pode ser uma forma de expor a pessoa a uma situação difícil, mas ninguém convidaria uma pessoa para ser padrinho se não tivesse uma dose ao menos bem razoável de confiança e cumplicidade. 
     Nessas ocasiões, sei que esperam que eu use gravata. E uso gravata.
     Amanhã viverei uma dessas situações. Serei padrinho de casamento. Usarei gravata, depois de anos com o pescoço livre. Nesse caso, o primeiro a fazer é... achar a gravata.
Primeira surpresa: após intensa prospecção, descubro que tenho nada mais, nada menos que três gravatas! Incrível, dado que só devo ter usado gravata sete ou oito vezes na vida.
Mas aí vem a segunda constatação surpreendente, e é essa que me lança ao lirismo mais deslavado, desses de encharcar lenço e fazer o coração transbordar: uma das gravatas está com o nó pronto.
     Foi meu pai que fez esse nó.
     Meu pai partiu deste mundo há alguns anos. Acho que foi quando as asas cresceram demais para caber no terno – que, ao contrário de mim, ele usava com frequência. E meu pai sabia da minha aflição e dificuldade em colocar uma gravata. Acho até que a dificuldade nascia da aflição. Seja como for, eu simplesmente apanhava da gravata, não aprendia a dar o nó. E ele, após diversas tentativas de me ensinar, com paciência e amor havia feito o nó daquela gravata em seu próprio pescoço. Depois, havia afrouxado o nó: “pronto, é só você colocar e ajustar agora”.
     Sei que é simples, sei que pode soar ridículo até. Mas quanto amor, quando amor ali!
     E quanto amor, pai, aqui, ao olhar a gravata que amorosamente já enlaçou teu pescoço antes de ser por mim utilizada e guardada por anos, até a epifania deste momento.
     “Pouco amor não é amor”, já dizia Nelson Rodrigues. Pai, eu te amo tanto, tanto que não tenho medo algum do ridículo ao dizer: este nó eu vou guardar para sempre.


Paulo Barja

Maestro Barja, de gravata, no dia da formatura do autor do blog

17 de outubro de 2014

Tom Zé, genial anarquia

Após o show do Tom Zé na FLIM (Feira Literária realizada no Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, SP), fui apresentar o livro "Anarcopoesia" ao mestre, que não se furtou a fazer um anarcojabá (foto abaixo):

O mestre e um aprendiz entusiasmado


"Que fim levou Samanta Miller?" (lançamento do livro)


   No próximo dia 23 de outubro, às 19h, teremos o lançamento do livro "Que fim levou Samanta Miller?" - o evento integra a programação do Encontro Latinoamericano de Iniciação Científica e Pós-Graduação, realizado anualmente na UNIVAP, em São José dos Campos. 
   O livro é um projeto realizado em conjunto com alunos da FCSAC/UNIVAP e tenho utilizado o termo "pulp fiction universitária" para descrever a produção. Espero que curtam! 


Padrão de manipulação - exemplo real

Manchete mágica da TV Globo: 
"Criação de empregos registra queda"
EPA:
905 MIL vagas foram criadas em 2014 no Brasil! 
Em 2013 a criação havia sido um pouco maior. 
Daí a Globo enfatiza a palavra QUEDA numa manchete sobre o AUMENTO do número de empregos. 

Padrão de manipulação à vista...!

Brevíssima reflexão sobre o jornalismo brasileiro atual

(não apenas em época de eleição)


     Quanto ao comportamento dos jornais brasileiros (a Veja também), o (grande) jornalista Aloysio Biondi destaca uma espécie de sucateamento no jornalismo brasileiro entre final de 98 e início de 99, coincidindo (mas será que existem coincidências?) com a privatização das telecomunicações. A partir daí, títulos de artigos de articulistas como o próprio Biondi eram alterados ou então maquiados, com as informações relevantes sendo jogadas para escanteio (retiradas do título e do lead), entre outros absurdos que podem até ser hilários, dependendo do contexto.

     De lá para cá, em resumo, temos espaços“oficiais” para isso ou aquilo na mídia, mas também há um monte de opiniões e matérias simplesmente proibidas pelo jornal (um exemplo é o eterno tema-tabu do filho de FHC com a jornalista da Globo).

     Inevitável uma certa nostalgia do que muitos de nós não tivemos: quem curte Nelson Rodrigues, por exemplo, pode verificar quantas vezes as crônicas dele (inclusive as esportivas) já enveredaram por política, mesmo no Globo... sim, claro, ele não era “de esquerda” (haha) - mas o respeito não escolhia página, se é que me entendem.

Paulo R. Barja

6 de outubro de 2014

Ode ao Burguês Secular (SP, 1922+92)


outsider em meu próprio estado
(e não me venham com maiúsculas)
acumulo milhas nas costas
atinjo a "maioridade à margem"
recebo assim renovada
democrática porrada
fartamente distribuída
- sem distinção -
a professores alunos pobres malfeitores
sim
pobreza é crime aqui
cercar terreno não é crime:
basta ter grana passar cheque sem fundo               quebrar a bolsa do Rio
e te deixam ficar devendo
30 anos, 60 milhões
ganha ainda apoio armado
mas pobre tem que ser bom pagador
(o relógio nunca atrasa para o pobre)
experimenta furar a conta de luz
aliás
não importa
vivemos no escuro mesmo


êêêê são paulo
ê são paulo
são paulo da garoa
são paulo da tortura boa
sim
garoa é sangue aqui
a turma de uniforme diz que as balas são de borracha
ops escapou uma aqui outra ali
dizem também: "quem procura acha"
cotas a cumprir menino(a)s a despir
brincantes a despejar
pobres a afugentar
pra longe das passarelas
azuis e amarelas
Ah, Mário, doce Mário, que sonhou são paulo no Brasil
viajando tanto ao Nordeste
em missão de integração
Mário Bandeira Drummond
o teeeeeeeeeempo paaaaaassssssssaaaa!
a valsa acabou
a água acabou
a usp vai mal
e o ministério da verdade adverte:
"beber bosta prejudica a capacidade cerebral"
(hein? o que? gol de quem?)
diz que gosta, sem engulho:
bebe bosta com orgulho!
são paulo russomano!
são paulo feliciano!
são paulo, dize-me com quem andas e te direi
aliás
já disse
...

(P.R.Barja, a partir de Mário)