A expressão "bonito pra chover" (tirada do Dicionário de Piauiês) era luminosa - daquelas poucas palavras que dizem muito -, e sua presença se impunha no texto. Pensei em compor um tema musical para a primeira parte da peça - um momento "de respiro", em que se cantasse essa frase com a alegria daqueles que sabem a importância da chuva para a plantação.
A essa altura, já havia surgido uma segunda música para a peça - falando dos nordestinos que vieram para SP e tiveram (têm) que encarar o preconceito em determinadas situações:
Nordeste paulista
P.R.Barja
Vim pra São Paulo
Tô aqui há muitos anos
Não estava nos meus planos
Eu só vim pra trabalhar
Fiquei aqui
Trabalhando noite e dia
Mas é grande a agonia
A saudade é de matar
Fazemos verso
Temos cantoria e festa
Somos tudo gente honesta
Que aprecia um arraial
São Paulo é hoje
Uma terra também nossa
Mas se a gente escuta troça
Fica triste, é natural
Esse país de todos
É mais de alguns que do povo
Junto a gente fica forte
E um dia vai ser feliz de novo
Mas havia algo talvez até mais importante do que o texto e as músicas, para o trabalho do grupo: a necessidade de trazer imagens para o trabalho dos atores (sugestão, por sinal, dada pelo Atul na estreia da "Seca da Alma". Imagens que nem precisariam ser da seca propriamente dita, mas que serviriam como base para a interpretação em diferentes momentos. Começamos então a pesquisar e montar um pequeno banco de imagens. Na semana seguinte, fui até Santos resgatar (na casa dos pais) um livro que, imaginei, poderia ser útil. Assim que comecei a folhear "Terra", do Sebastião Salgado, tive certeza de que ali estava outra referência fundamental para o nosso trabalho.
(continua)