6 de julho de 2011

Diário de um processo (1) - Teatro-cordel

Escrevo aqui guiado pela vontade de compartilhar e deixar registrado um processo de trabalho que está sendo iniciado com a Cia Independente de Teatro. Meio difícil de definir - vamos chamar de "teatro-cordel". Está no início mas já se configura como um processo (internamente, ao menos) revelador e instigante. Nestes primeiros escritos vou tentar dar um panorama da história até agora; mais pra frente, a ideia é fazer uma espécie de diário de criação.

O ponto de partida
Na última semana de abril, recebi um telefonema do Osni (que eu não conhecia até então). Era sobre uma proposta de trabalho com literatura de cordel, queriam que eu visse e "desse uma força".
Fui. Num teatro escondido, quase abandonado, ouvi o trio (Silvia Galter e Mariana Alpino estavam com ele) recitar o poema "A Morte de Nanã", do Patativa do Assaré - que, diga-se de passagem, não é exatamente um cordelista, né Arievaldo? Na ocasião, entendi que a ideia era ajudar a organizar uma espécie de performance poética e musical que pudesse ser levada a diversos ambientes.
Dei uns toques quanto à leitura/declamação, os aspectos rítmicos, a divisão de frases, momentos de pausa etc. Foi um primeiro contato agradável.
Logo em seguida, fui viajar. Duas semanas depois, o poema estava melhor e começamos a trabalhar nas músicas que o grupo propunha apresentar. À medida que o repertório ia se definindo (a música do Almir Sater acabou saindo), clareava-se na gente a magnitude do tema central: a seca no Nordeste.

Tchekhov em BH
Em seguida, fui com Adriana, Bebel e amigos para BH. Acampamos na casa (melhor ainda: na biblioteca!) da Inês e do Eduardo (Grupo Galpão). Vimos a montagem do Galpão para Tio Vânia, do Tchekhov. Belíssimo trabalho! Algumas coisas ficaram "martelando" na minha cabeça... a principal: bons textos são atemporais. Porque trazem, ainda que naturalmente inseridas num determinado contexto histórico, questões grandes, fundamentais ainda hoje.
Falar de opressão bem que poderia ser algo ultrapassado... mas não é.

Carcará e as estatísticas
De volta a SJC, as reuniões semanais continuavam. Começamos a pesquisar mais sobre a Seca de 1932 no Ceará. Neste ponto, veio à tona uma referência básica e fundamental: Bethânia cantando Carcará, na década de 60, e "recitando" brilhantemente as estatísticas da migração. Aí surgiu uma ideia de pesquisa: vamos investigar as estatísticas ATUAIS do Nordeste brasileiro, em termos de problemas como o analfabetismo e a mortalidade infantil? Fomos. E aí começou a batalha da edição das notícias (e das estatísticas do IBGE), para que pudéssemos inserir no trabalho alguns destes resultados. Começava a ganhar corpo aí a vontade de falar da vida dos nossos irmãos nordestinos para o pessoal daqui.

(continua)

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